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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Relembrando os anos dourados

Hoje os computadores são os senhores do dia!
O consumismo virou modismo e tomou conta dos homens...
Os homens viraram máquinas. Que será, no ano 2000?
A humanidade está tensa, dura, parece que, há muitos anos, os corações se transformaram em relógios, que apenas batem, mas não sentem, são incapazes de amar...
Todos correm, ninguém tem tempo para pensar, refletir ou pelo menos, ouvir uma boa música, ler um bom livro...
Quem se importa, hoje, com a poesia?
Pouca gente a aprecia e consegue senti-la, ou pelo menos, traduzir o sentimentalismo, maravilhoso que existe na alma do poeta!
Tudo hoje é frio, calculista e o homem quer o domínio a qualquer preço.
Tudo se desmorona, infelizmente, aos nossos olhos. A família se desestrutura. A mulher, por si mesma se desvaloriza. Os homens estão céticos e os jovens já não são aqueles entusiastas cheios de ideais. Têm luxo, conforto e vivem entediados, frustrados, cheios de angústia e muitos encontram refugio nas drogas.
Os anos dourados (das valsas, boleros e tangos) ficaram bem longe. As garotas ingênuas, tímidas, de anáguas engomadas, saias rodadas, sapatinhos de salto alto, de pele delicada e pintura suave, meigas e românticas, que se coravam com um simples beijo na face...
Onde estarão, ou não existem mais?
Muita gente ainda tem saudades daqueles tempos e até mesmo as novelas e filmes atuais têm procurado revivê-los.
Havia muita poesia e muito sonho! É muito difícil viver sem sonhar. O sonho nos faz bem.
Durante nossa vida muitos dos nossos desejos não se realizam, mas enquanto sonhamos há esperança que nos embala e nos acalenta, e enquanto há esperança há vida!
Relembrando os casamentos, como eram diferentes!
Como os noivos sonhavam e esperavam ansiosos aquele dia!
O noivado era um período difícil, a noiva muito recatada e vigiada, pela mãe ou pelo irmãozinho mais novo e indiscreto. As oportunidades mínimas levavam o noivo a apressar o casamento, que era um grande acontecimento na cidade em que todos tomavam parte.
As comadres e amigas ofereciam imediatamente, os préstimos para qualquer trabalho: bainhas nos lençóis de linho, bordados em toalhas de chá ou um crochê nos paninhos de prato.
Algumas mais despachadas eram requisitadas para os conselhos à noiva, prestando com isto, uma grande ajuda à tímida amiga. E todo aquele preparo para a festa final era de uma simplicidade e pureza longe das sofisticações, que hoje observamos, em certos acontecimentos sociais.
Para a grande recepção, a família já sabia onde encontrar os doces e salgados. Corriam a casa de Sinhá Cândida (famosa doceira dos anos 30) que recebia a freguesia com um largo sorriso e numa grande euforia mostrava os modelos folheando um caderno (já bem gasto pelo tempo), lendo as mais interessantes receitas.
Quem não se lembra dos famosos pudins de leite, coco e o famoso pudim veludo? E da caçarola italiana, espera marido, papo de anjo e siricaia?
E o famoso Colchão de Noiva, que era imprescindível nos grandes casamentos. Era como um símbolo. Dentro era escondida, cuidadosamente, uma aliança, e ao parti-lo as moças casadoras esperavam e torciam pelo grande prêmio. Quem a tirasse seria a primeira a se casar. E quanto mais rica era a noiva, maior e mais incrementado era o colchão, todo coberto de coco ralado (para ficar fofo) e salpicado de confeitas prateados e recheado com finos doces. Era a grande novidade de nossa cidade, que a doceira Geralda Boi aprendera em Belo Horizonte num curso de doces especiais para as grandes núpcias. Hoje ninguém se lembra mais deste colchão, tão saboroso e significativo. Que pena!
E os doces cristalizados? Estes não podiam faltar e era só procurar a dona Luíza de Totó (mãe da nossa querida Arinha). Tinha mãos especiais para preparar as cascas de laranja, limão, os figos, para cristalizar.
Arinha tem bem a quem puxar, os freqüentadores das Quebradas e assíduos fiantes dos saborosos almoços que o digam. A mestra Fininha com seus célebres quindins, nunca poderá ser esquecida, sua variedade de docinhos: maçãzinhas de coco, balainho de Sinhá, amor em pedaços, cajuzinhos de queijo e amendoim, olho de sogra. E era tão barateira! Sua fama corria de boca em boca e como era caprichosa e minuciosa nos detalhes, colocando nas maçãzinhas coloridas, um cravo fingindo haste e minúsculas folhas de jabuticaba.
Os assados e as massas, eram com as irmãs Conceição e Helena de Melo Franco. Empadas e pastéis deliciosos, tortas amanteigadas para ninguém botar defeito.
As doceiras tinham disponibilidade e tudo era feito com amizade e camaradagem.
Dez mil réis de doce, era doce que não acabava mais. E a simplicidade dos casamentos? A igreja não exigia, casava-se a qualquer hora, qualquer dia e em qualquer igreja. Os noivos é que mandavam e os padres cumpriam o seu sagrado dever honrando as palavras de Cristo:crescei-vos e multiplicai-vos. Em compensação, era o convidado mais importante da festa e se assentava à cabeceira.
Nenhuma taxa de aluguel de tapetes e passarela era exigida pela igreja. O altar era enfeitado com flores naturais, colhidas em casas dos parentes e amigos. Meses antes da festa controlavam, pela lua, a poda e no tempo certo as roseiras floriam com abundância. As rosas La France, Palmeron, Bola de Neve, Rosa Noiva e também os perfumados lírios e as angélicas, colhidos na chácara de Sá Toró Narciso, enchiam e perfumava a igreja.
Hoje, quando entramos numa igreja, decorada para um casamento, as flores são lindas, mas não sentimos aquele perfume. Por que será? Até as flores fazem greve, ou terão os agrotóxicos alguma culpa nisso?
A noiva com seu alvo véu e grinalda de flores de laranjeiras, muito linda, levando é certo, para o seu bem amado a sua pureza e virgindade, saía da igreja, após o casamento com um grande acompanhamento de convidados a pé, até a residência dos pais da noiva, onde uma enorme mesa de doces e salgados os esperava.
Embora casados (no católico e civil) a timidez os dominavam e os impedia de qualquer gesto avançado.
Durante a noite um baile animado, com orquestra, onde todos queriam dançar com a noiva, prolongava-se até alta madrugada. Os noivos ansiavam ficar a sós e se entregarem, finalmente, um ao outro, mas não podiam deixar os convidados, seria um escândalo e falta de consideração.
Já ao amanhecer, a noiva cansada, o noivo aflito se despediam. Os pais e os padrinhos acompanhavam os pombinhos até a sua nova residência. Era de praxe, e a mãe aproveitava a oportunidade e enchia-lhe a cabeça de recomendações, enquanto o pai pregava um sermão ao genro:
-Muito cuidado; nada de extravagância e modernismos, muita prudência... a menina é fraquinha... e inocente.
A lua-de-mel era mesmo uma grande e doce lua, em que, para a noiva tudo era desconhecido e novidade, e para o noivo tímido, grandes surpresas...
O véu e a grinalda de flores de laranjeira, lembrança daquele dia tão importante, eram guardados em uma caixa (com naftalina) para, no futuro, mostrar aos filhos e netos e contar-lhes todo o romance e o grande amor que os uniu e durou tanto tempo...
O véu e as flores de laranjeira eram realmente, um grande símbolo... e verdadeiro.
Cidade: Montes Claros/MG

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