Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: PESCADOR DE AMORES E PEIXESAcabo de ler “Menino Pescador”, primeiro livro de Reivaldo Canela. São belas e bem escritas quase duzentas páginas de memórias, ecologia, filosofia e poesia, em primorosa edição. O estilo literário do autor cativou minha sensibilidade, da primeira à última, em que ele pede a crítica dos leitores para estudar a possibilidade de escrever mais um.As memórias começam no namoro dos pais do autor. O pai, meu querido e inesquecível “tio” Cândido, uma das pessoas que mais me ensinou coisas boas, durante grande parte de minha vida, foi e ainda é, para mim, um dos diamantes de minha aldeia, sertaneja e universal. “Tio” Cândido foi grandioso, mas não teria sido tanto, se não tivesse a seu lado a bela figura de D. Laurinda, que me tratava com o maior carinho, quando eu, ainda jovem, amante de literatura, visitava meu poeta predileto para conversar sobre livros, especialmente um dos dele, a festejada e consagrada “Lírica e Humor do Sertão”. Reivaldo fala com carinho incomum dos irmãos, dois reis e duas rainhas, não só nos nomes, mas sobretudo na honradez e dignidade, bebidas em fontes tão límpidas, naquela casa florida, de terreno imenso, daquela tão bucólica e antiga praça. Retrata o namoro, noivado e casamento com a vizinha e eterna musa, Shyrley, filha do grande Juca Milo e de “tia” Elza, a quem enaltece a todo momento, especialmente numa “apaichorada” página, a de número 41, única do livro em tipos itálicos. Fala do amor que sente pelos quatro filhos, sete netos, noras e genros como se os houvesse gerado a todos.Esses amores do escritor sobrepujam, é bem verdade, mas quase se equiparam ao que ele nutre por seu “Rio dos Encantos”, este nosso indestrutível Verde Grande, que ainda conserva a cristalinidade de suas águas, léguas abaixo, depois receber e guardar em seu leito quase toda a porcaria do progresso montesclarino. E é bem ali que, dentre outras paragens, ainda vai o escritor pescar, especialmente na fazenda dos descendentes de nosso querido Elpídio da Rocha, tio de Cesarinho, o mais roseano de todos os médicos que conheço. E ainda leva consigo o neto Victor Augusto e ensina ao petiz a arte da pesca, certo de que ele já traz, ínsito, o maravilhoso prazer que habitou, habita e habitará, por muitos anos, a vida do avô, escritor de 74 bem vividos, que foi office-boy, bancário, comerciante e é respeitado colunista de vários jornais, advogado de escol e pescador de amores e peixes. Raramente se vê, na literatura brasileira, alguém entender tanto de rios, peixes, pássaros, plantas, árvores e frutos como Reivaldo. O livro lega às “gerações porvindoiras” (expressão que aprendi com “tio” Cândido) os nomes e características de uma infinidade de espécies, comuns na infância e juventude dos moquenhos nascidos no século próximo passado e que já ultrapassaram meio século de existência. É um tratado de ecologia e me trouxe à memória, em inúmeras passagens, a figura ímpar de Sir Charles Darwim, aquele notável inglês que foi tão amante e pesquisador da natureza quanto o Velho-Menino-Pescador de Montes Claros.O filósofo, que se diz um nada, ao contrário, revela-se profundo, quase um todo, grande amigo do saber, através do ficcional Nivaldo, que é o próprio autor, em plenitude, pensando na fonte da vida, em seus porquês e em sua finalidade. Nas falas de ambos, simples, sertanejas, reivaldianas, me vi envolvido nas mais importantes correntes da história da filosofia universal. E pensei, mais uma vez, dentre milhares, sobre de onde vim, o que estou fazendo aqui e para onde vou.As páginas finais da saborosa obra literária revelam o fabuloso poeta. Confesso que isto não me surpreendeu, porque conheço bem a fonte inspiradora, genética, que jamais se esgotará enquanto houver neste mundo alguém em cujas veias corra o sangue do bondoso e imortal Cândido Canela.Parabéns, Reivaldo. Obrigado pela dedicatória. Mestre é você. Aguardo novos livros. E que venham logo, claros como nossos montes. E aos montões, cristalinos como as águas que ainda sonhamos para nosso “Rio dos Encantos”.
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima