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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 10)CHEIRO DE LUZ ACESAMinha mãe tinha ido a Pirapora fazer o batizado de meu irmão Cassimiro. Com ela fora a D. Carlota Rosa Teixeira, professora da Escola Mista de Várzea da Palma. Ela ia ser a madrinha do meu irmão. E com ambas fomos eu e meu irmão Vicente.Hospedamo-nos no Hotel Maia, em um quarto dos fundos, com janela para uma rua lateral.Na ocasião eu tinha 6 anos e era a primeira vez que conhecia uma cidade.Estava deslumbrado. Caminhava nas ruas olhando para todos os lados, embevecido com o que via, tropeçando nas botinas novas e arrastado pelo braço por minha mãe que não se cansava de admoestar-me: “anda depressa, menino. Se você não caminhar direito eu nunca mais vou trazer você aqui”.E lá ia eu, calado, aos tropeções, registrando e admirando tudo quanto via.À noite conheci a luz elétrica.Havia uma lâmpada pendente do teto, sobre a cama, com apagador fixo, em forma de borboleta, no encaixe da própria lâmpada. Vi quando minha mãe a acendeu assim que começou a escurecer. Em seguida ela saiu para jantar, no refeitório do hotel, prometendo trazer comida para mim e o Vicente, quando voltasse.Tão logo ela saiu, eu fiquei de pé, sobre a cama, e torci a borboleta do apagador da lâmpada. A lâmpada apagou-se. Torci outra vez: acendeu. Que trem bonito e mágico! Fascinante! E me encantou tanto que eu sentia o cheiro da luz acesa. Apagava, ia-se embora o cheiro. Acendia, voltava o cheiro. Como era bonito aquele aramezinho, todo de luz, dentro da lâmpada, parecendo uma porção de letras M emendadas. Foi uma noite gloriosa. Nem Edson, talvez, tenha se extasiado tanto com seu invento.No outro dia minha mãe saiu cedo, com a Dona Carlota, para fazer compras.Desde a tarde anterior eu havia visto, pela janela, numa padaria, do outro lado da rua, um balcão onde estava exposta grande variedade de roscas, doces e biscoitos.Sempre tive muito aguçados os sentidos, especialmente os do olfato, do paladar e da visão. A exposição daquelas guloseimas despertou em mim uma vontade enorme de vê-las de perto e de comprá-las.Eu possuía um tostão, que a Dona Carlota me dera na viagem, para que eu ficasse quieto em meu lugar, ao lado de minha mãe.Aproveitando a ausência de minha mãe, saí do quarto, percorri o corredor até a porta da rua, saí, dobrei a esquina, atravessei a rua lateral e entrei na padaria. Êta cheiro bom, só de coisas boas. Eu nunca estivera em um lugar tão agradável como aquele. Olhei através dos vidros do balcão e lá estavam caramelos coloridos das mais variadas formas, recobertos de açúcar cristal. Coisas nunca vistas. Me lembrei da história de João e Maria na Casa de Chocolate.Do outro lado do balcão, assentada em uma cadeira de balanço, com alto espaldar de palhinha, estava uma senhora clara e gorda, muito rosada, entretida a fazer “crochet” (naquele tempo não se falava em “tricot”.)Fiquei meio abobalhado, sem coragem de interrompê-la. Ela tinha um perfil simpático, que o uso de óculos não prejudicava. Eu queria chamá-la todavia o acanhamento me tolhia a ação. Mas o dinheiro sempre nos dá muita força. Animado com o calor do tostão que eu apertava na mão canhota, criei coragem e chamei:- Ôi, Dona. De que preço é esses biscoitos? - E apontei uns biscoitos de polvilho arrumados num potinho.Ela fez, com muita agilidade, mais alguns pontos em seu trabalho, depois levantou os olhos, viu-me e respondeu:- Dois por um tostão.- A senhora dá de três? - Foi minha segunda pergunta.Aí ela concedeu-me uma atenção maior. Virou-se na cadeira, encarou-me com mais vagar e por sua vez perguntou-me:- Menino, de onde você é ?- De Várzea da Palma, respondi.E ela, voltando-se para o seu “crochet” e dando o assunto por encerrado:- Bem me parece...(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)
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