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Mensagem: MULHER AVIADORA José PratesOutro dia, falávamos da mulher motorista de ônibus, a primeira de Montes Claros. Claro que não foi a primeira cidade a ter uma motorista dirigindo coletivo e, também, com certeza, não será a última, porque é uma conseqüência da emancipação social da mulher. Foi novidade? Na cidade, foi. Tomara que daqui a anos, quando muitas mulheres estarão ao volante de coletivos circulando pela cidade, a pioneira seja lembrada com orgulho pela classe, porque não foi um fato de somenos importância. Foi o uso por aquela mulher, da liberdade de opção de vida, direito adquirido na luta silenciosa de todas pela independência, cortando as amarras da dependência que eliminavam o uso da vontade própria. Também, não foi de somenos importância, mas, a história não registrou e todo mundo esqueceu, uma mulher aviadora, brevetada pelo aeroclube montesclarense, num dos anos quarenta, creio que quarenta e quatro. Foi logo no início do aerocube, quando veio o primeiro “teco-teco” para treinamento dos alunos inscritos. A história não registrou o fato porque aquele tempo era outro. Na década de quarenta, uma mulher da sociedade matricular-se no aeroclube, e como aluna usar traje masculino, era um atentado à moral feminina e feria os bons costumes. Bons costumes que significavam a aceitação mansa e tranqüila, pela mulher, da condição única de dona de casa, prendada e obediente, com a função precípua de procriar. Vamos do princípio. Foi nessa década que teve início a construção do trecho ferroviário Montes Claros a Monte Azul, levando muita gente do Rio de Janeiro para Montes Claros que nessa ocasião, já era a cidade mais importante do norte de Minas. Com essa gente veio a Comissão de Construção constituída pelo Ministério, composta de engenheiros da Estrada, sob a chefia do Dr. Demostenes Rockert, que ficou conhecido como Dr. Roque e o seu substituto eventual, o sub-chefe Dr.Othon de Souza Novais, conhecido como Dr. Novais. De todos os engenheiros que vieram do Rio, apenas o Dr. Novais trouxe a família, ou melhor, a esposa Dona Eny Novais, uma jovem, bonita, talentosa, falando fluentemente o francês. Segundo contaram, viveu durante alguns anos em Paris onde estudou e lá conheceu o Dr. Novais quando ali fazia pós-graduação. Na França, Dona Eny adquiriu, incorporou e trouxe consigo o costume da mulher francesa que há muito emancipara. Costume que aqui não era aceito pela sociedade, nem pela Igreja. Mas, a mulher do engenheir, que vio d Rio e Janeiro, foi aceita pela sociedade local, sem restrições. No princípio foi tudo muito bem. As novas amigas ouviam atentas as histórias contadas por Dona Eny, sobre a beleza de Paris, a cidade luz. A coisa começou a mudar quando ela fez a matrícula no aeroclube, com o consentimento formal do marido. Foi um reboliço no meio social. “E o marido consentiu!” Era constrangedor para as mulheres de então que perguntavam: “Onde já se viu uma mulher sozinha, no meio de tanto homem?”. Outras, porem, aceitavam com tranqüilidade porque “ela é mulher moderna, criada na capital”. Sem dar importância aos comentários, D. Eny prosseguiu no curso e o seu vôo “solo” não demorou. Logo, brevetou-se. Não sei se foi a primeira do Brasil, mas, com certeza, foi a primeira de Montes Claros. A sociedade foi-lhe afastando, até que ela resolveu regressar ao Rio de Janeiro. Dr. Novais ficou e permaneceu na Comissão até o final da construção, em 1948, com a inauguração da Estação de Monte Azul.. Muitos anos depois, em 1960, encontrei Dr. Novais no Rio, como diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil. Perguntei pela esposa, a resposta foi lacônica: “vai bem”. E... nada mais foi perguntado.(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal, percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a família. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente adido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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