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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: SOBRE A MENSAGEM 35101 DO HERMES
José Prates

Quando vou à Rua da Quitanda, aqui no Rio, é para satisfazer algum compromisso a que não posso fugir. Não gosto daquele tumulto num comércio fervilhante, com locutores plantados no passeio estreito de uma rua estreita sem condições de fuga, nos azucrinando os ouvidos com anuncio de mercadoria. Os meus nervos já não estão mais para isso. Será que é só aqui que isto acontece, eu me perguntava. Não é, não. É um mal dos grandes centros comerciais onde tudo é válido pra atrair freguês, que agora chamam de consumidor, num tratamento impessoal, sem cortesia. Freguês, aquele que comprava no lugar certo, levando o caderno pra anotar e, no fim do mês, quando recebia o salário, levava o dinheiro para pagar e o caderno “pra riscar”, não existe mais. Não existe porque chegou o supermercado todo poderoso, cheio de moda, oferecendo “qualidade e preço”, mas, não tem “fiado”. O pequeno não resistiu. Acabou a quitanda do “seu” Joaquim; fechou o armazém da esquina que tinha sacas de arroz, feijão, milho, fubá, abertas e expostas ao freguês, logo na entrada. Nas prateleiras, ficavam as garrafas, o macarrão e lataria. Num balcãozinho, rodeado de tamboretes altos, num lugar reservado, era servida a cachacinha que o freguês pedisse; um balcão só para salgados, ficava ao fundo. Na geladeira a gordura de porco em pacote de um quilo que vendia sem pesar. Se fosse meio quilo, bastava cortar no meio. Óleo de cozinha veio depois que inventaram o colesterol. No meio disso, o toc-toc do tamanco de “seu” Manoel, batendo no cimento vermelho do piso, no vai e vem pra atender a freguesia. Pra onde foram? Não sei.
E agora? Agora não tem mais “seu” Manoel, seu Joaquim, nem seu Afonso. Tudo mudou. “Seu” Manoel desapareceu; o armazém virou estacionamento. Não tem mais caderno pra anotar, porque acabou o “fiado”. Agora é cartão de crédito. Nem a carrocinha do leite, com o leiteiro em cima, gritando “Olhem o leite!”, existe mais. Nos grandes centros comerciais tudo mudou e Montes Claros, pelo que diz Hermes em sua mensagem 35101, neste mural, acompanhou a mudança. Ao ler a mensagem, exclamei sem sentir: Meu Deus! Por que? Porque o que está em minha memória não é esse Montes Claros da modernidade: é o Montes Claros adolescente, romântico, com namorados passeando de mãos dadas na Rua Quinze, sem malícia, sem maldade, mostrando pura a inocência. Montes Claros do comércio amigo com a loja de “seu” Ramos, na Rua Quinze, a venda de Periquitinho na esquina da Dr Santos e na Praça Dr. Carlos, o armazém de “seu” Afonso, marido da professora Marucas, onde minha sogra comprava no caderno. Esse é o Montes Claros que trago na mente, a terra da minha juventude; o Montes Claros que não tinha locutores na porta de loja, fazendo publicidade, ensurdecendo quem passa. Publicidade era Leonel Beirão com sua boneca gigante que percorria as ruas centrais ao rufar de tambores, divertindo as pessoas paradas na calçada para vê-lo passar no uniforme vistoso da guarda nacional, fazendo a publicidade. Era o Montes Claros das ruas calmas, do povo tranqüilo que andava sem pressa, parando pra um “dedo de prosa”, encostado no poste da luz. Cresceu, tornou-se adulto. Quem sempre residiu lá, não sentiu esse crescimento. Para quem está distante há muito tempo, como eu, a notícia espanta. Em nossa mente, em nossa lembrança o que existe é o Montes Claros de ontem, a cidade romântica com a Rua Quinze servindo de passarela para as jovens adolescentes mostrarem-se aos rapazes, postados na calçada. Esse é o Montes Claros que eu guardo e que levarei comigo.

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal, percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a família. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente adido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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