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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 13)

COMPANHEIROS DE AVENTURAS

Sou o quarto filho em uma família de sete irmãos. Quando comecei a entender as coisas já encontrei à minha frente três sabichões que conheciam de tudo neste mundo - os três irmãos mais velhos.
De como fazer um bodoque de pau pereira ou uma arapuca de vergônteas tratadas ao calor do fogo. Ou preparar visgo de leite de gameleira cozinhado em água fervente. Ou, ainda, como colher o buriti para fazer alçapões e gaiolas ou como pegar codornas no campo, correndo em círculos ao redor delas até as bichinhas ficarem tontas e aí bastava atirar o chapéu em cima delas e apanhá-las com as mãos. E ainda a contar terríveis histórias de capetas e assombrações.
Não vou negar: eles me ensinaram muitas coisas. Mas viviam a caçoar de mim. E me batiam por qualquer dê-cá-uma-palha.
E não aceitavam que eu os acompanhasse quando saiam para pescarias no Rio das Velhas e nos córregos existentes em volta do povoado. E nem para as caçadas de codornas, inhambús e preás, no Anda-sol, na Palma Velha ou no Morro da Anta.
Diziam que eu era muito novo.
Sentindo-me desprezado eu me fazia de bobo e saia de perto deles mas ficava a vigiá-los. E quando eles se punham a caminho eu os acompanhava por fora da estrada, para não ser visto, escondendo-me atrás dos arbustos, sempre de longe.
Mas eles eram muito sabidos e por mais que me ocultasse acabavam por me descobrir. Aí eles paravam e ordenavam aos gritos que eu voltasse para casa. E um ou outro, mais ranzinza, corria em minha direção para forçar-me a regressar. Eu não era bobo de ficar esperando. Corria também, a valer, sempre olhando para trás, para manter a distância entre nós. Quando o perseguidor desistia e voltava para junto dos outros eu também retornava, mantendo sempre a distância que me protegia.
A estrada para o rio era de boa largura, numa distância de mais de um quilômetro, o que facilitava essas escaramuças.
Quando eles começavam a jogar pedras eu recuava para altura em que as pedras já chegavam sem força. As pedras batiam no chão e vinham pulando até pararem junto a meus pés.
E assim a coisa prosseguia. Eles em marcha à frente e eu os acompanhando, ora recuando, ora avançando, em permanente estado de beligerância.
Até que acontecia algo que por mim já era esperado. Algum deles se lembrava de que havia esquecido alguma coisa. Podia ser um anzol ou uma isca especial, ou um canivete. Qualquer coisa desse tipo. De minha posição eu percebia que eles haviam parado e confabulavam.
Daí a pouco um deles se desgarrava e vinha em minha direção. Passo a passo, sem gritar, sem xingar, sem jogar pedras. Eu percebia que ele vinha em paz. Era a figura clássica do parlamentar. Só faltava a bandeira branca.
Eu então ficava na minha. Parado mas alerta. Pronto para ouvir, mas pronto também para dar no pé. Se fosse uma armadilha.
Quando a aproximação começava a por em risco a minha segurança, eu gritava:
– Fala daí mesmo!
Meu irmão compreendia a razão de meus temores, estacava a razoável distância e me passava as ordens sobre o que eu deveria ir buscar. E que fosse correndo.
Aí eu ficava feliz. Num átimo voltava ao povoado, pegava o que fôra buscar e retornava, sempre correndo, já sem qualquer temor.
E reinavam a paz e a democracia.
Permitiam até que eu participasse e opinasse em assuntos da maior importância. Como aconteceu certa ocasião em que juntos decidimos sobre qual a melhor fruta do mundo.
Após acalorada discussão, da qual eu tive a honra de participar, chegamos a um consenso. Não era somente uma, mas eram três as melhores frutas do mundo. A jabuticaba, a pinha de casa e o abacaxi


(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

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