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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: REMINISCÊNCIA DE UMA ESCOLA

Ruth Tupinambá Graça

Que saudades sinto ainda hoje da velha Escola Normal Oficial de Montes Claros, criada pelo Decreto n° 8.245, de 12/02/1928, em substituição à antiga Escola Normal Melo Viana.
Aquele casarão antigo de portas gigantescas, portais rústicos, sacadas de ferro em arabescos (lugar preferido pelos namorados nos saudosos bailes da Escola Normal dos anos 30).
Largas escadarias com corrimão trabalhados em madeira de lei, majestoso e acolhedor, retrato de uma arquitetura antiga, executada por simples mestres de obras que nunca viram nem em sonhos, uma escola de Arquitetura e Engenharia, entretanto esforçados e sobretudo inteligentes, que deram a nossa cidade, antiga Vila das Formigas, belos sobrados que até hoje estão aí firmes, enfeitando as nossas ruas e praças.
Fecho os olhos e recordo o meu tempo de estudante, novinha em folha, cheia de vida e o coração transbordando de sonhos e paixões...
Da sacada do velho casarão, onze horas, dia claro e ensolarado, eu vejo os meus professores, um a um, descendo apressadamente, a Rua Dona Eva, com os livros apertados embaixo dos braços.
Doutor Plínio Ribeiro, de pontualidade inglesa, não atrasava um só minuto. Sistemático, enérgico mas competente professor, transformando suas aulas de Ciências Naturais num show de sabedoria e cultura.
Doutor Alfredo Coutinho, extremamente educado e fino, um perfeito cavalheiro se esmerava nas suas aulas de História.
Doutor José Thomaz, sério, intransigente, mas amigo dos alunos, sabia transmitir suas aulas de Geografia.
Professor João Câmara, grande mestre matemático.
Um tanto sério, sisudo, mas de coração mole, não sabia dar notas zero e olhe que sua matéria era fogo.
Dona Joana D`Arc Veloso, a tranqüilidade em pessoa, competente nas suas aulas de Francês.
Dulce Sarmento, com as aulas de Música e Canto Coral. A ela teria que dedicar uma página inteira.
Dona Lilia Camara, no seu Português impecável (devo-lhe o que sei até hoje) se esforçava para nos ilustrar.
Doutor Marciano Maurício, galanteador, a diplomacia em pessoa (o Mauricinho tem a quem puxar) era conhecedor da matéria que lecionava: Psicologia Infantil e Higiene Escolar.
Dona Nazinha Maurício, dona Nieta, Taude, Sinhazinha Alves, Anelita Vale, Zinha Sarmento, com que saudade as recordo... extremamente dedicadas, cumprindo religiosamente a missão de ensinar só por amor, pois a remuneração era mínima e vinha com tanto atraso...
Aprendemos assim trabalhos manuais: o bordado, a tapeçaria, desenho, flores e até culinária, enfim, mil prendas domésticas para a mulher verdadeira dona-de-casa. Saíamos daquele educandário, escoladas para o salão e também para o fogão...
Doninha Câmara era a nossa inspetora de alunos e, como era enérgica! Vigiava-nos incansavelmente e ai daquela que tentasse trazer o namoradinho até as portas da escola. Para comentarmos as fofocas e as novidades da terra precisávamos muitas vezes, nos esconder debaixo das escadas do velho casarão. Ela não admitia grupinhos contando piadas e anedotas... mas em certas oras, era tão camarada! Muitas vezes se encarregava de nos levar a festas e lá ia ela, com um bando de moças para as fogueiras na Malhada de Santos Reis, no Pequi do Senhor João Maurício.
A Escola Normal nos proporcionou cultura e também muita alegria. Era lá que coordenávamos todos os nossos passeios, festas, piqueniques. Foi um tempo bom que não consigo esquecê-lo, por mais que os janeiros passem e meus cabelos se transformem em nuvens brancas.
A nossa Escola Normal foi fundada com grandes sacrifícios, sem qualquer amparo oficial, a 10/10/1915, por um grupo de professores abnegados, tendo à frente o doutor Olintho Martins da Silva, que foi o seu primeiro diretor. Conseguiu-se a sua equiparação pelo Decreto nº 6.770, de 23/01/1925, passando-se a Escola Normal Norte Mineira, nome com o qual foi fundada, a denominar-se Escola Normal Melo Viana.
Pelo Decreto n° 8.245 de 18/02/1928, o presidente Antônio Carlos determinou o seu financiamento pelo Estado e por questões policiais passou então a denominar-se Escola Normal Oficial de Montes Claros. Foi quando a conheci e dela desfrutei todo o meu curso de normalista, sendo o seu diretor nessa época, doutor Floriano de Paula, vindo de Belo Horizonte, recém-casado, residindo aqui
por vários anos.
Para a infelicidade da juventude e toda a comunidade montes-clarense a Escola Normal foi suprimida pelo doutor Benedito Valadares, a 15/01/1938, pelo Decreto número 63. Esse ato tão infeliz quanto inexplicável do governador de Minas causou, como era de se esperar, a maior estranheza, pois aquela autoridade sempre demonstrou a melhor boa vontade para com o município de Montes Claros, não só com benefícios já a ele concedidos, como pelo melhoramentos que iria prestar no futuro. Essa tragédia que prejudicou tanto a nossa terra, se deu quando eu já havia terminado o meu curso. Seu diretor naquela época era o professor José Raymundo Neto.
O velho casarão ficou vazio, triste e mudo. Aquela mocidade alegre, ávida de conhecimentos e que enchia e transbordava seus salões, ficou sem opção com o fechamento daquela escola que era de pobres e ricos, brancos e pretos, sem distinção de classe e de casta. Foi um tremendo desastre para a nossa cidade.
De 1938 a 1952, ela permaneceu fechada. E então, graças ao dinamismo e esforço, persistência do doutor Plínio Ribeiro, então deputado federal e outros políticos daquela época, a 5 de fevereiro de 1953, a Escola Normal Oficial de Montes Claros foi restabelecida, nomeando o doutor Plínio Ribeiro dos Santos seu diretor. E então o casarão da Rua Cel. Celestino abriu novamente as suas portas. A alegria e vigor da juventude voltaram a encher seus salões...
Mais tarde, a 10 de maio de 1961, foram iniciadas as obras de construção do novo prédio da Escola Normal, no prosseguimento da Av. Mestra Fininha, no bairro Melo. A área para a construção do educandário foi doada pelo doutor Plínio Ribeiro, na sua magnífica bondade e amor à terra que era sua de coração. Nesta obra, o doutor Darcy Ribeiro também muito colaborou para sua complementação, conseguindo verbas, quando então ministro da Educação. Os políticos eram tão desprendidos das cifras!... trabalhavam por amor, fazendo o melhor possível para a sua terra. Não pensavam em tirar vantagens ou mamar nas tetas, geralmente murchas e exploradas do nosso País.
Terminada a construção da Escola Normal, ela mudou-se do velho casarão da Rua Cel. Celestino, instalando-se confortavelmente no prédio moderno da avó Mestra Fininha, recebendo o nome de Escola Estadual Prof. Plínio Ribeiro, em homenagem aos serviços prestados.
E, hoje, ela aí está, grandiosa aos olhos de todos, com a mesma filosofia de quando foi fundada, pela primeira vez em 1915. Suas portas abertas a todos: pobres e ricos, brancos e pretos, sem distinção de raças ou castas...
Benditos sejam os políticos de bem, homens honestos, coração cheio de amor e patriotismo que ajudaram esta terra crescer, não obstante, todas as dificuldades econômicas e sociais, falta de escolas, comunicação, transportes e civilização...

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