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Mensagem: DAS RECORDAÇÕES DA INFÂNCIAPedaços da minha infância nos Montes Claros provinciano dos anos 50 e 60, detalhes de um cotidiano bucólico, tipos humanos, coisas simples... Ternuras!A pança de Deba de Freitas, balançando a calca de linho S120. O ar tranqüilo e resoluto de Mário Veloso, na sua pharmácia de manipulação e o indefectível cabide rococó de colocar os chapéus dos elegantes cavalheiros de antanho que chegavam para dois dedos de prosa.Os óculos modelo Ronaldo do líder político Ronaldo de Neco Santa Maria, a traseira do Cadilac Rabo de Peixe de Oscar Gabriel, o baticum do reclame da Boneca de Leonel pelas ruas em paralelepípedos. O guaraná espumante no Montanhês e a conversa inteligente do elegante professor Pedro Santana. Padre Agostinho, o último dos brutos atávicos vociferando impropérios à porta do confessionário e o estofado vermelho-fogo do Lincol Preto de Dom José Alves Trindade.A visão do contraste da mão branca de Virgínio Preto segurando a pirata com o cabo incrustado em prata. O cavalo Appaloosa do cow-boy de Janaúba e as histórias hilárias e inteligentes de João de Paula. O menestrel João Leopoldo cantando na nave da Catedral, os chapéus Ramezhonne da Casa Preferida à voz de Nivaldo Maciel e o Irmão Marista Idelfonso lendo e teatralizando os capítulos de Inocência de TaunayO triste destino do menino no colo de Maria Babona, o pedaço de jornal com as letras para baixo de Geraldo Tatu, o tubo do lança perfume Rodoro metal no carnaval da Rua XV e a fantasia de Yalorixá de dona Afra Bichara abrindo o carnaval de rua e Lazinho Pimenta gritando Evoé foliões! A fantasia de Zorro de Biô Maia curtindo uma ressaca à porta do Cabaré de João Pena com o chapéu amassado.O boné de couro do chapa Brigadeiro, a bengala cabo de marfim de Vavá Alfaiate, os suspensórios de Benjamin Rego e o Colt Cavalinho de Antonio Leite. Fragmentos de lembranças do gesto de Juca de Chichico e o seu que aperta e não machuca. Os inflamados discursos políticos de Mundim Atleta em cima de um caixote de cerveja à porta do Bar de Nelson Vilas Boas sentando o cacete em Juscelino. As ferradas de Manoel Quatrocentos!A cachaça de Bem-Pau-Véi penducando o equilíbrio nas ruas em paralelepípedos, a bazófia de Leônidas da Onça e a baratinha Volkswagen de Jair Aminthas. O sabor do pão alemão feito na Padaria Santo Antônio e entregue no lusco-fusco das manhãs por Adão Padeiro. Das bolachas formato pastilhas de seu Tóta que grudavam no céu da boca.O sabor indefectível da garapa gelada de Jason, o pão de doce com manteiga Alvorada o carro de madeira de seu Manoel dos Carneirinhos. O colorido dos colares de Ogum e Oxossi do babalorixá-Baba-Obá Zé Fernandes. A leitura na biblioteca universal da doutora Juracy Felix e as ilustrações de Gustavo Doré na Divina Comédia e a surpresa de ler As Estâncias de Dzian de Blavasthsk.O sapato bico fino furadinho em marrom e branco, presente de aniversário que ganhei do meu padrinho Deba. O bloco de papel de cartas com a gravura de Bem-me-quer, mal-me-quer na papelaria de Nice David e o cheiro da fumaça do cachimbo de Benjamim da Anglo e o jeito matreiro e curraleiro de Benedito Gomes.Da camisa Prist, a tampa dourada do isqueiro Ronson, mastigar o quente pastel recheado de vento do bar de Tiano e do cigarro Columbia no bar de Bebé no velho Mercado Municipal.Da caixinha de sorvete Esquibom saboreado e olhando aquela menina morena jambo dos olhos verde mar e de vestido Bangu. O relógio Tissot Militar do meu pai e da sua biblioteca da Sociedade Teosófica. A caneta Parker 51, pena foliada a ouro comprada na Gráfica Orion de Laertes David e da voz metálica e gutural de Zé Amaro.O latido do cão dinamarquês de Loyola e Cia, o embornal de milho ou balas 44 na cabeceira das selas aos roletes de cana caiana na talisca de bambu. Ver os caminhões atolados na lama da rua Doutor Santos, o passeio no Cedro no Ford Bigode de meu pai, o Mate Couro no canudinho de palha, da brincadeira de finca, do estraque deixa, dos banhos nus em pêlo no rio do Melo tomando Cinzano Rossi...
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