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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 19 de setembro de 2024
 

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Mensagem: O LENHADOR DE BUENOS AIRES E A JANELA EUROPA DE NOITE.

Nos idos de 1957, a cidade comemorava o seu centenário e o popular Manoel Quatrocentos há três anos morando em São Paulo, para onde fora em busca de aventuras retornou à terra de Figueira. Enquanto por lá estava, mandava notícias dizendo morar no bairro La Boca, em Buenos Aires, na Argentina.
Trouxe na bagagem vários ternos comprados no brechó do Bom Retiro com os quais desfilava garboso pelas ruas em festa da urbe. Retornou falando um caprichado portunhol amacarronado, dicção bastante carregada e fez enorme sucesso com as suburbanas do Sessé e adjacências. Deitou e rolou nas alcovas!
Afirmou que cortava lenha para Perón e Evita!
Belarmina Reis, minha avó paterna proprietária do Hotel Serra Azul na época do fogão à lenha, comprava carrada fechada do produto para a queima em sua cozinha. Enviou recado ao Manoel visando contratá-lo para o corte da lenha reativando o costume antigo de tê-lo como lenhador.
Manoel chegou vestindo elegante terno modelo inglês, sapato Fagionne bico fino furadinho, cor marrom e branco, chapéu de coco, bengala, dentes com obturações a ouro aparecendo, bigodinho a Clark Cable. Um lenhador dandi!
Gesticulando teatralmente despejou a sua verborréia internacional, negociou o preço dos serviços em grande estilo, falou dos seus amores tropicais com a cantora Sarita Montiel, tudo sob a concorrida assistência da meninada da rua Tiradentes que brilhava os olhos de contentamento aos escutar as novidades do Manoel Quatrocentos.
Como era ousado, imitava o cantor Jorge Veiga se apresentando no programa de calouros de Alceu Queiros, na ZYD7. Dotado de natural verve, Manoel Quatrocentos arranjou uma nova companheira que passou a ser chamado pela galera de Maria Tostão.
Comprou o seu barracão no alto dos Morrinhos onde hoje está instalada a TV canal 4, e como porta instalou uma grande janela de madeira maciça de duas bandas, obtida do desmanche de um casarão colonial. Com a vista privilegiada do seu barraco, batizou a porta/janela de Europa de Noite, alusão a um filme de sucesso da época.
Como era mestre na arte do trocadilho e freqüentador do bar do Zim Bolão, sempre ao chegar aplicava uma das suas ferradas em algum cliente, antecipando assim a gozação dos habitues, que testavam as suas respostas precisas a qualquer pergunta ou questionamento.
Uma tarde, ao chegar ao badalado local, viu um guarda de trânsito comendo um pastel e logo aplicou uma das suas ferradas. Falou: quem come guarda repete a comida! Deu zebra. O policial exigiu esclarecimentos e por pouco o nosso Manoel não caia no cassetete!
Certa feita, um mala sem alça ganhador de um prêmio de loteria para se ver livre dos parentes pobres fez circular pela cidade o boato de que quem havia sido premiado era o Manoel Quatrocentos. Cheio de bazófia, o Manoel confirmou o boato e aí passou a trocar de terno três vezes por dia, curtindo o maior barato pelas ruas da cidade!
Despertou o olho gordo da malandragem de plantão!
Na calada da noite, enquanto dormia com a Maria Tostão, sua companheira, e após tomar cinco doses de cachaça branquinha no Bar do Bebé, os meliantes arrombaram a porta Europa de Noite do seu barraco. O manietaram juntamente com a sua companheira e os espancaram, buscando encontrar o suposto dinheiro escondido no local. Como tudo era uma bazófia como vingança cobriram o Manoel no coro!
Socorrido por vizinhos na manhã seguinte, foram internados em estado grave na Santa Casa local.

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