Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 31)


Nas eleições municipais de 1962, o PSD – Partido Social Democrático – encontrava-se tão enfraquecido em Montes Claros que não foi capaz de apresentar candidato próprio para sucessão do então prefeito Dr. Simeão Ribeiro Pires, do PR – Partido Republicano.
Para somar forças, o PSD uniu-se à UDN-União Democrática Nacional, que indicou o Capitão Enéas Mineiro de Souza para cabeça da chapa.
Eu não era político. Era simples eleitor ligado ao PSD por laços de família. Foi com surpresa que recebi o convite para ser candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo Capitão Enéas.
Naquele tempo a votação para vice não era feita em conjunto com a do candidato a Prefeito. O Vice era votado separadamente.
A chapa aparentemente mais forte era a do PR, formada pelo Dr. João Valle Maurício e Dr. Mário Ribeiro, que tinha o apoio do prefeito, Dr. Simeão Ribeiro Pires, todos do PR e meus amigos.
Em seguida vinha a nossa, formada pela união da UDN e PSD.
E por último a do PTN, tendo a encabeçá-la a figura carismática do Dr. Pedro Santos.
Terminada a eleição foi eleito o Dr. Pedro Santos, vindo o Capitão Enéas em segundo lugar.
Para vice o eleito fui eu.
Foram quatro anos em que, por solidariedade ao Capitão Enéas, não compareci à Prefeitura nem como visitante, embora sendo amigo do Dr. Pedro Santos.
Em novembro de 1965, nosso chefe político, em Montes Claros, passou-me o bastão.

“Meu caro Luiz,
Lamento não me ser possível comparecer, à noite, à instalação do Bureau de nosso partido, por ser inadiável a minha viagem de hoje.
É uma ligeira insubordinação à ordem do comando, contrariando meu temperamento naturalmente inclinado a sempre me encontrar como um dos componentes da grei pessedista, fiel ao atendimento das determinações partidárias.
Assim regresse entrarei em sintonia com as deliberações dos companheiros, aos quais peço desculpas pela ausência involuntária, submetendo-me prazerosamente às decisões que antecipadamente louvo e aplaudo.
Contudo é bom que vá se acomodando ao generalato (cujo bastão já detém), ao final, bem certo estou, todos os correligionários se submeterão com firmeza e satisfação para lutas e vitórias futuras.
Do amigo

Alpheu Gonçalves de Quadros”

Nas eleições de 1966, instado por amigos, acedi em disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Tendo meu nome indicado pelo Governo do Estado para participar da chapa da ARENA, representando especialmente a região norte-mineira, refleti muito antes de assumir uma posição.
Várias razões estavam a indicar-me o exame do assunto com a maior seriedade e prudência. A fim de não deixar-me impressionar pelos atrativos mais visíveis e por possíveis entusiasmos de momento. Uma das razões que tinha de considerar era a minha condição de homem de empresa, no comando efetivo dos negócios e engajado no movimento de expansão industrial da região. A oportunidade que me era oferecida encontrou-me em plena atividade empresarial, proprietário e principal executivo de uma empresa dedicada ao beneficiamento e comércio de algodão, em plena atividade. O período de um ano como Governador de Rotary, terminado em julho de 1966, evidenciara o quanto minha ausência era prejudicial aos negócios. Não era, pois, fácil tomar uma resolução para quem encarava a situação com honestidade para consigo próprio e para com a região.
De um lado, tinha a considerar a oportunidade que me era oferecida de trabalhar durante 4 anos pela região, junto aos mais altos escalões políticos e administrativos do país, politicamente entrosado com a administração estadual. Tudo isso em uma fase importante e decisiva para a região, quando problemas básicos de cujo bom encaminhamento e solução dependiam melhores ou piores perspectivas de futuro para o Norte de Minas, se encontravam por assim dizer na mesa dos debates aguardando as decisões.
E do outro lado devia considerar os sacrifícios que seriam exigidos às minhas atividades profissionais, à minha família e finalmente à minha vida de cidadão comum, organizada e com uma projeção de futuro que me satisfazia amplamente e não incluía o afastamento de Montes Claros e muito menos o exercício de um mandato em Brasília.
Por isso demorei tanto a decidir-me. No último momento, ao se encerrarem as inscrições, prevaleceu o interesse do bem público. Aceitei para servir.
Aliás, já estava servindo à comunidade antes dessa decisão, pois a mim coubera, mais que a muitos outros, o paciente trabalho de escolha de um candidato único para ADMINISTRAR o Município. A memória do povo é fraca e poucos se lembrarão que o meu trabalho havia começado um ano antes e foi por ter começado a tempo que frutificou. Em 9 de outubro de 1965, quando o resultado das eleições indicavam a vitória do Governador Israel Pinheiro, dei entrevista ao JORNAL DE MONTES CLAROS, cujo conteúdo foi resumido em sua manchete principal: LUIZ DE PAULA PROPORÁ CANDIDATO APOLÍTICO PARA A REFEITURA. Eis o teor da entrevista:
“O sr. Luiz de Paula declarou ao Mais Lido que pretende atuar no seio do diretório do PSD, no sentido de que se criem condições para indicação de elemento eqüidistante da luta partidária para a Prefeitura de Montes Claros. Informou que a primeira condição que estabeleceu para esse trabalho, é o afastamento do seu próprio nome, a fim de que possa mais facilmente desenvolver os entendimentos que vierem a ser necessários. Segundo afirmou, as condições atuais permitem ao PSD local quebrar lanças com o objetivo de colocar elemento seu na Prefeitura, mas acredita o sr. Luiz de Paula que, por isso mesmo, esta é a melhor oportunidade para demonstrar os objetivos superiores do partido, ao defender a tese da candidatura apolítica.
Disse o vice-prefeito de Montes Claros que já é tempo de se pensar em um administrador equidistante dos partidos políticos. A cidade precisa de um administrador que lhe possa devotar a maior parte do seu tempo, sem outro interesse que não o de dar o devido valor à coisa pública. Citou vários nomes, de elementos capazes e que se enquadram perfeitamente nos objetivos pretendidos, mas que se lançados a uma disputa eleitoral, não obteriam êxito. Assim sendo, para que a política não continue tolhendo os passos da cidade, é preciso que haja despreendimento por parte dos diretórios de partidos locais, a fim de que seja dado à cidade um administrador autêntico, um prefeito capaz de acompanhar o ritmo de desenvolvimento da cidade. Salientou o sr. Luiz de Paula, principalmente as realizações que se anunciam em benefício da cidade e que irão coincidir com o próximo mandato: Distrito Industrial, asfalto para Belo Horizonte, ligação com a Rio-Bahia, elevação de Montes Claros como “capital agrária” e outras. E concluiu:
– Se não houver na Prefeitura um prefeito capaz e disposto a dar a maior parte do seu tempo à administração, tudo isso se perderá.”
Tal era a firmeza de meu propósito e a minha preocupação com o assunto, que em proclamação ao povo, lançada na mesma data e publicada na mesma edição do jornal, também em sua primeira página, e na qual cumprimentava e agradecia a todos que haviam participado do esforço pela vitória do Governador Israel Pinheiro, que, no final, acrescentei esse trecho, que não fôra essa preocupação em que me encontrava e a certeza de que assim estaria aplainando os caminhos, não teria ali cabimento: “No que respeita a Montes Claros, quando soar a hora da escolha do candidato ao governo do Município, é propósito firme do PSD local procurar um administrador capaz e à altura do momento em que vivemos, sem a excessiva preocupação partidária que poderia dificultar o diálogo natural para a seleção dos melhores.
Com a ajuda de Deus não faltaremos voluntariamente ao trabalho pelo bem-estar do povo”.
E nesse sentido foi a minha atuação daí por diante, e um ano após, ao inscrever-me como candidato e tendo conhecimento de que todos os concorrentes levavam dianteira em suas campanhas, com grande massa de eleitorado já comprometida com outros nomes, mesmo assim não me arrependi de estar colocando a escolha do nome para a Prefeitura acima de meu próprio interesse de candidato e declarei na “Mensagem a Montes Claros e ao Norte de Minas”, que então distribuí por não dispor mais de tempo para fazer como os demais candidatos que já haviam percorrido toda a região e em Montes Claros estavam visitando todas as casas residenciais e de comércio.
“Esta é a primeira oportunidade que tenho de dirigir-me em mensagem especial ao povo de minha terra. Como todos sabem, a condução do problema da sucessão municipal custou-me pesado trabalho e longo tempo. Por mais de um mês dediquei-me à tarefa de encontrar, juntamente com as outras partes, uma solução de harmonia na escolha de candidatos únicos a Prefeito e Vice-Prefeito e na indicação de Vereadores e Juizes de Paz de nosso Município, por forma a termos uma sucessão tranqüila e um governo municipal com o apoio de todos os partidos.
Enquanto eu me dedicava a essa tão nobre e necessária tarefa, os outros candidatos, desobrigados dessa responsabilidade, faziam a sua campanha.
Mas valeu meu sacrifício. O resultado alcançado constitui uma vitória dos homens de boa vontade de nossa terra e uma vitória de Montes Claros.
Todavia, o tempo correu célere e eu tenho de trabalhar um pouco também para mim. Graças a Deus confio no povo de minha terra e tenho a certeza de que estamos juntos em nossa batalha pelo desenvolvimento da região e para nossa vitória.
Devo dizer, caros amigos, que aceitei ser candidato a deputado federal por nossa região por entender que o Norte de Minas precisa agora, mais do que nunca, de representação própria na Câmara Federal. Que seja própria e que seja autêntica, que bem represente o nosso povo em todos os sentidos, em todos os campos de atuação, seja no conhecimento da legislação e da organização administrativa, e bem assim das técnicas de trabalho, e que tenha vocação para a prestação de serviço a outrem e capacidade, para o estabelecimento de boas relações nos meios profissionais, intelectuais, políticos e sociais, da Capital Federal, onde se constroem boas amizades, úteis aos interesses das comunidades representadas”.

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima