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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Campanha em fogo brando
Waldyr Senna Batista
Foto estampada em jornal local, mostrando os três candidatos a prefeito da cidade abraçados e sorridentes, dá bem a medida do clima ameno que tem predominado neste início de campanha. O flagrante nem de longe assemelha-se ao que se via até em passado pouco distante, em que os concorrentes tornavam-se mais do que simples adversários – eram inimigos. E na disputa tudo era válido.
Há quem possa ter dito, ao mirar a foto, que os abraços são de tamanduá e os sorrisos, enigmáticos, lembram antigos anúncios de creme dental: cristalizados apenas para a ocasião. Fora dali permitem-se golpes abaixo da linha da cintura, o que se traduz por impugnar candidaturas e revolver o passado de cada um, incluindo ações judiciais que pleiteiam indisponibilidade de bens e pagamento de indenizações milionárias.
O que não se pode negar é que, em comparação com outras épocas, a cidade passou a assistir a campanha eleitoral que, pelo menos até agora, se pode classificar como civilizada. Isso, em grande parte, devido ao rigor da legislação própria, mas principalmente porque os juízes eleitorais e os integrantes do Ministério público não têm deixado dúvida quanto a sua disposição de não fazer vistas grossas. A opção deles é pela realização de um pleito livre de vícios e abusos que no passado desvirtuavam o processo e causavam incômodos à população.
A lei em vigor eliminou showmícios, conteve a propaganda sonora, reduziu a quatro metros quadrados a antiquada e poluidora publicidade em muros, proibiu a distribuição de camisetas, bonés e outros brindes, entre outros itens. Os candidatos, em sua maioria, gostaram das normas, que reduziram suas despesas de campanha, e o eleitor se sentiu menos exposto ao assédio às vezes agressivo de alguns candidatos. A campanha ficou mais asséptica, tolerável, civilizada.
A tendência parece ser a de, com o passar do tempo, circunscrever a propaganda eleitoral aos horários de rádio e televisão, preservando a igualdade de condições entre os disputantes e afastando a influência do poder econômico. A dificuldade em limitar ao mínimo a divulgação reside no fato de a grande maioria dos municípios brasileiros não disporem de veículos de comunicação de massa, obstáculo que acabará sendo superado com o aperfeiçoamento do sistema.
Nos primeiros quarenta dias, em Montes Claros, a campanha foi mantida em fogo brando, com os candidatos claramente preocupados em reduzir despesas, à espera dos horários de rádio e tevê. Comícios foram praticamente abolidos, primeiro porque elevam demasiadamente os custos; depois, por expor grandes multidões à violência que grassa principalmente em bairros periféricos; e, por fim, pela constatação óbvia de que comício é como chover no molhado: a eles só comparece quem tem voto definido a favor dos candidatos que os promovem.
Na atualidade, a forma de aliciamento preferida têm sido reuniões domiciliares e concentrações em recinto fechado com grupos maiores, em que o contato se dá de forma mais coloquial, permitindo ao cidadão interagir, formulando diretamente suas reivindicações e colhendo a resposta do candidato, olho-no-olho. As caminhadas também têm sido utilizadas, com o inconveniente de que tumultuam o trânsito no centro da cidade.
O bom relacionamento dos concorrentes, como mostrou a foto publicada, é resultado da evolução social que alcança também o exercício da política. Os personagens que nela militam vão aos poucos entendendo que podem contribuir positivamente para a elevação do nível das disputas. Até porque eleições se perdem e se ganham, numa alternância às vezes sofrida mas sempre salutar.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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