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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Nao podemos acreditar que o montes-clarense morto em Portugal foi vitima so por ser brasileiro e meus 6 anos vividos ali me da um certo respaldo para dizer isso com acertividade. Por isso transcrevo o texto abaixo, enviado por um amigo que vive em Portugal. Texto extraido do jornal eletronico portugalnoticias.com.

Exmº Senhor
Nilton Souza
Distinto Sequestrador

Não tive o prazer de o conhecer antes de o Sr. ter levado um tiro certeiro da polícia, quando atentava contra a liberdade da minha vizinha Cristina, gerente do pequeno escritório do BES na Rua Marquês de Fronteira.
Se o tivesse conhecido - sobretudo no mais profundo do seu íntimo - tê-lo-ia felicitado, previamente ao ocorrido, pelo arrojo e pelo destemor que demonstrou e que todo o Portugal viu em directo e a cores.
O Sr. era um bandido; mas todos vimos que era um bandido com coragem e com ética, disposto a levar o seu projecto até às últimas consequências. Todos esperamos, durante horas, que o Sr. pudesse ser um fraco e que vacilasse perante as propostas que lhe foram apresentadas pelos mediadores; mas cedo começamos a concluir que, conforme tudo indicava, você estaria disposto a combater até ao fim, até à última gota de sangue.
Todos sabemos que um bandido a sério não negoceia nem se rende. Ou vence ou morre...
É pena que o Sr. não tenha tido a consciência de que o poderiam levar a sério, como tem que ser levado a sério qualquer cidadão que, com uma miserável pistola de calibre 6,35, tem a coragem de enfrentar uma força policia de mais de 150 homens, equipada com o mais sofisticado equipamento.
Claro que o seu direito à vida é um direito fundamental e que todos nós respeitamos esse direito.
Fomos milhões a torcer por si naqueles minutos em que nos provocou a todos, desejando que, ao ver o que esperava, tivesse a coragem de ser humilde e de se render.
Todos torcemos para que fosse possível sair daquele impasse sem perda de vidas, para o que era exigível que você mandasse a sua ética à urtigas e se rendesse.
Bastaria que jogasse fora a sua pistola e levantasse os braços, para que nada lhe acontecesse e para que o bandido que você é se pudesse transformar numa espécie de herói.
Você, meu caro Nilson, não conseguiu gerir essa situação.
Provavelmente acreditou que um desses deuses, que se vendem em todas as esquinas do Brasil, iluminaria os mortais para que não o atingissem ou, se atingissem como atingiram, lhe garantiria a si, como compensação, pelo arrependimento íntimo, a vida eterna.
Não penso que vá para o inferno nem que um arrependimento íntimo de última hora o conduza ao imaginário dos céus.
O que sei é que, apesar de toda essa coragem, você morreu sem honra nem glória, aqui mesmo ao lado, prisioneiro de uma ética estúpida. Que eu saiba só está solidário consigo um palerma que, depois da sua morte, lhe explora a memória.
Esse palerma colocou hoje no local do seu hara-kiri uma coroa de flores em que se lê: «Nilton Souza - Morto nesta Agência por ser Brasileiro». É, obviamente, uma provocação, a não ser que se pretenda que interpretemos a mensagem como uma anedota.
Você, que conhece bem as anedotas que se contam dos portugueses no Brasil, sabe perfeitamente que nunca um português passaria pelo que você passou, pela simples razão de que se renderia.
Provavelmente isso também não aconteceria com um espanhol, um francês, um alemão... ou mesmo qualquer outro brasileiro, minimamente bem informado.
Na Europa todos respeitamos o direito a vida; mas respeitamos ainda mais a liberdade, sem a qual não vale a pena viver.
Essa indústria dos sequestros - que se afirma no quadro de uma exploração grotesta da conflitualidade de direitos fundamentais - não resultou deste lado do Atlântico. Você devia saber que, perante o risco de perda de uma vida (a sua ou a da sua refém) haveria muito mais probabilidades de você perder a sua do que a de ela perder a dela. E deveria. também, ter a noção de que o problema nada tinha a ver com a sua nacionalidade mas com o tempo.
Você não morreu por ser brasileiro, mas por insistir em encostar uma pistola à cabeça de uma pessoa que transformou em refém. Esse é o risco natural que qualquer pessoa, de qualquer nacionalidade, corre se cometer facto idêntico.
O pateta que deixou na porta do banco uma coroa em sua memória deveria ter escrito: «Nilton Souza - Morto nesta Agência por ser um Bandido corajoso e parvo».
Felizmente, os brasileiros não têm nada a ver com isso.
Bem pelo contrário: muitos deles vêm para a Europa porque sabem que, aqui, quem ousar um sequestro, tem, provavelmente, o seu destino.
A coroa de flores que lhe ofereceram é uma homenagem xenófoba, que nos ofende a todos nós e que o ofende a si próprio.
Ofendem-nos a nós porque ninguém o quis matar por ser brasileiro. Teria ocorrido o mesmo se tivesse qualquer outra nacionalidade.
Ofendem-no a si porque nem sequer o deixam gozar, depois de morto, de uma experiência de internacionalização. Xenofobia pura, meu Caro Nilton.
Como você é, seguramente, crente e foi vítima de morte violenta, ercarne neles e vingue-se. Estão a dar cabo da sua imagem...
Sem rancor
Miguel Reis

(Marden Carvalho, de 34 anos, nasceu em Montes Claros, imigrou aos 21 anos para o Japão, onde morou por dois anos. Depois de breve retorno à terra natal, foi para Portugal, onde permaneceu por 5 anos, seguindo para a Espanha (3 anos). Atualmente, está na Inglaterra onde trabalha em duas áreas: computadores, reparacao, e como barman)

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