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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 24 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Alguém sabe quando aconteceu a última cavalhada numa festa de agosto em Montes Claros? Foi no primeiro ano sem ela que Geraldo Athayde escreveu o artigo que transcrevo abaixo. Vejam que os problemas naquele tempo, eram: a falta de interesse das pessoas chamadas ´civilizadas´, a falta de apoio das autoridades e o descaso da igreja. Muito bom ver que a festa continua, que a ajuda necessária veio e permanece. Apesar de algumas coisinhas lamentáveis. Ah...Miguel! Largue a marinha e volte a ser marujo!

A Festa de Agosto é Necessária.

Geraldo Athayde.

Meia noite, o côro entoado de uma cantiga sem forma quebra o silêncio da hora final. O rufar das caixas, com qualquer coisa de místico e bárbaro, o tilintar dos pandeiros, o côro lamentoso das violas, rabecas e gatinhas de bambu, formam ao lado da cantiga sem forma um som profundo, uníssono, soturno, expressando bem a alma simples do sertanejo semi-civilizado.
É da despedida dos catopês, marujos e caboclinhos que me refiro. O último dia da tradicional festa, a última hora de uma voz saudosa que sente o desaparecimento desta folgança. Faz pena!
Este ano já não houve cavalhada e deslocaram um dia de festejos. As bombas foram poucas, foguetes quase nenhum. O elemento rural não compareceu. Não houve propaganda. O “civilizado” se rebela contra esta coisa de dançantes e cavaleiros fantasiados. Isto depõe contra Montes Claros, dizem com empáfia. O clero, por sua vez, recebe o “cobre” do rei, da rainha, dos juízes, etc. e condena a “palhaçada”.
Agora vejamos: o que podem estes homens fazer mais do que fazem? Onde receberam eles cultura, instrução e educação artística para se exibirem melhor em palcos e cenários diferentes? Que dia o poder público auxiliou esta gente e lhes aperfeiçoou o gosto? O Clero também, porque não protege a festa, já que o povo a quer? Ela não é profana e dá à Igreja alguma renda. Não, não acabem com a “Festa de Agosto”. Ela é a única festa popular de Montes Claros. Dancem, catopês, teçam cipós, caboclinhos; naveguem, marujos; corram, cavaleiros! A diversão não é privilégio de uma só classe – aquela que detém o dinheiro.
O povo, o operário, o trabalhador rural e urbano precisam se expandir, necessitam descarregar a libido ao menos nessas reuniões, cujo móvel é culto do catolicismo, onde reina a paz, a amizade.
Onde não se vê a faca de ponta, a garrucha, nem a pinga. Onde por alguns momentos se esquecem a rudeza brutal da natureza do sertão. Ademais, o homem é animal social por excelência, e numa zona como esta, de população pequena e espalhada, é mistér que haja mesmo um ponto de reunião dos indivíduos. Um contato direto destes com o meio civilizado, a fim de que não amorteça (como acontece com o homem isolado) o espírito de solidariedade humana, de cortesia, de arte, de educação.
É dever, como se faz nos centros civilizados, é dever dos poderes públicos, incentivar as festas populares, subvencioná-las até, dar-lhes um cunho original, para atração do elemento de fora.
Que se improvisem coretos, que se enfeitem as ruas, que haja música, que queimem girândolas e façam as belíssimas demonstrações de fotos de artifício, que muito agrada a todos. Busquemos o exemplo disso em São Paulo, Rio, São Salvador, e, se quisermos, na Europa.
A cidade não é somente um entreposto de compra e venda. Lugar onde se busca o café, o sal, o querosene e o remédio. Na cidade, deve-se buscar algo de nuevo, de alegre, de bom. Coisas enfim que façam o homem mais amigo e sincero, menos desconfiado, menos ganancioso e materializado. Deixar a “Festa de Agosto” com sua parcela de função social. Auxiliem-na, porque além do povo, muita gente boa e civilizada gosta dela. Não diz, mas gosta...

AS FOTOS

No meio das fotos, das festas que ontem tiveram fim, o laço de luto dos Caboclinhos. A nova geração pôs luto no braço, e sustentou a herança cultural do mestre Joaquim Poló. Grande parte do grupo é de filhos e netos. Os mais velhos vão ensinando aos mais novos, pela mão e pelo pão.

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