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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: No meio do caminho

Manoel Hygino (jornal Hoje em Dia)

Drummond, o poeta maior de uma geração, disse haver uma pedra no meio do caminho, que no meio do caminho tinha - ele usa o verbo ter uma pedra. E, nos meios dos caminhos de nossa vida, sempre há pedras a nos estorvar e ferir.
Mas por estradas ínvias de Minas Gerais, do Brasil enfim, há também cruzes, para as quais outro poetas advertiu que merecem ser vistas e reverenciadas, quando a cavalo se percorrer o sertão. Há pedras e cruzes.
Existem ainda outros marcos de gentes que por aquelas vias passaram. Há monumentos desconhecidos, antigas construções de pessoas anônimas, que geralmente não deixam ou não fazem a própria história.
São pequenas igrejas ou capelas insuladas, em lugar ermo, outrora caiadas. Mas perderam a cor original, assim como a finalidade de servir a Deus e aos homens. Quedaram abandonadas, em algum alto do terreno e, diante delas, não mais se persigna ou se ora.
Assim é a igrejinha do Parque do Sapucaia, lá no sertão.
Apenas se fazem perguntas sobre sua origem, qual o seu santo padroeiro, porque foi esquecida, porque os devotos partiram e a condenaram à própria sorte e solidão.
Haroldo Lívio, natural da tranqüila Contendas (apesar do nome), hoje Brasília de Minas, não sabe muito sobre o pequeno e humilde templo. E ele é, segundo Paulo Narciso, uma enciclopédia regional. Apenas ouvira que a Ermidinha fora palco de festa anual, vigorosa, para a qual se deslocava a população.
Narciso, jornalista de velha cepa e que não pára de pesquisar, opina: a igrejinha, que sobregoverna a fé acima dos cimos que dão nome aos montes claros, está ali fincada e atenta aos nossos austeros píncaros serranos, há coisa de um século, talvez mais.
É a Igreja de São Marcos, no alto da Serra do Sapucaia, próxima à comunidade de Palmito. Há muito, vinha sendo destruída pelo tempo e por vândalos.
Recentemente, um grupo de treiereiros decidiu recuperar o sagrado imóvel sem dono. A jovem tribo faz ali festas para angariar fundos para consecução de seu objetivo. É o Enduro e Forró da Igrejinha de São Marcos, para cujo esforço se juntam grupos de outros municípios. Telhado e alvenaria foram concluídos, mas ainda e muito carece.
São Marcos, chamado no Novo Testamento algumas vezes de João, outras de João Marcos, parece acompanhar tudo à distância. Filho de Maria, da primeira comunidade de Jerusalém, foi colaborador de São Pedro e São Paulo. No simbolismo da arte cristã, é representado pelo leão, emblema do poder e da realeza.
Como são efêmeros os bens materiais, a humilde ermida no sertão, como tantas outras, arruinou-se. Até que os jovens a descobriram, e aí reside um grande simbolismo, para dar-lhe a aparência que os novos tempos exigem.
O jornalista Paulo Narciso irá confessar:
“Vou lá rever a igrejinha que conheci, montado a cavalo, na garupa de meu pai - Deus o tenha! Por ele, por todos, rezarei o Pai Nosso, justo na ermida tão parecida com a de São Damião, onde um certo Francisco ofereceu-se (“Senhor, que queres, que eu faça?”) e ouviu a voz, que ordenou:
- Vai, reconstrói a minha igreja.
E não exatamente a de pedra e cal”. Porque as ermidas do bem têm de ingressar e estabelecer-se no coração dos homens.

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