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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: DEPUTADO PLÍNIO RIBEIRO
José Prates

A cadeira de balanço no alpendre, perto da porta de acesso à biblioteca, era o lugar preferido do Dr. Plínio Ribeiro que ali ficava nas manhãs quentes, metido no seu pijama listrado, de livro na mão, recebendo a brisa fresca que vinha do quintal ajardinado. Ieda, sua filha, moça bonita, normalista formada, sentava-se na outra extremidade, numa cadeira de palhinha com alto espaldar, lendo José de Alencar, seu autor preferido. Nesse tempo estava noiva do Dr. Konstantin Kristoff, médico e amante das letras, leitor de Somerset Mougham. Quase todos os dias, eu ia até lá para “um dedo de prosa” que, geralmente, girava em torno da política, no que o Dr. Plínio não era, apenas, afeito, mas bem entendido no assunto, desde a política local, de que era um dos lideres junto com Deba e Neco de Santa Maria que exerciam forte liderança no interior do município, até a política nacional onde não tinha mando, mas, podia influenciar com seu prestígio no norte do Estado. A maneira de fazer política, adotada pelo Dr. Plínio, diferenciava em muito a dos seus antepassados que lhe transmitiram a liderança. Não tinha o radicalismo nem a guerra contra adversários. Estes, como é natural em qualquer lugar onde existem partidos atuantes, havia, mas, as diferenças eram, apenas, no campo partidário, sem influir na amizade e no respeito mutuo que mantinham. Como candidato a Deputado Federal pelo PSD, as suas preocupações não residiam, apenas, no projeto de sua eleição, mas em todos os problemas da região que procuraria resolver, se eleito fosse. Problemas, na maioria, eram resultado da seca que assolava aquela região, não incluída no polígono das secas, impedida, assim, de receber os benefícios concedidos pela União. Certo dia, quando falávamos a esse respeito, eu lhe sugeri que se eleito deputado federal, apresentasse projeto incluído a região nesse polígono. E a justificativa? Perguntou ele. Sem pensar muito, respondi que a justificativa eloqüente é o gado morrendo de fome nas pastagens ressequidas pela falta de chuva. A natureza por si comprova a seca.
O que me impressionava no Dr. Plínio Ribeiro não era, apenas, a sua cultura, o seu conhecimento literário, nem o seu espírito de médico, mas, a sua maneira de ver e sentir as coisas. Quando falava em política, nunca dizia meu mandato. Certa vez lhe perguntei sobre isso e ele respondeu que o mandato é do povo e em seu nome deve ser cumprido. Essa era a maneira de ver e sentir a política que estava em seu sangue. Como amigo era extraordinário. Sincero, que não fugia à critica ao que considerava errado, nem o elogio ao que lhe parecia correto. Quanto à religião, apresentava-se como católico. Esse, porém, era um assunto que nunca estava presente em nossas discussões.
Além de amigo, o Dr. Plinio era, também, meu crítico e conselheiro. Quando fazia uma matéria e tinha dúvidas quanto ao conteúdo ou aspecto literário, era ele a quem eu recorria. Não se furtava a ajudar-me. Lia a matéria e fazia as correções que julgava necessárias. Foi meu mestre e muito me ajudou. Outro dia mesmo, aqui em casa, revirando uma mala onde estavam alguns livros velhos, encontrei um, “Os Sertões,” com sua dedicatória quase inelegível, desbotada pela ação do tempo: “Ao jovem jornalista J. Prates, do amigo Plinio Ribeiro. 8/7/53”. Meio século já se foi. O jovem amadureceu na luta pela vida. Luta difícil que para suportá-la foram necessários os ensinamentos e exemplos de mestres como o Dr. Plínio. Ao lembrar-me dele, das nossas palestras no cotidiano de uma cidade poética, calma, sem preconceitos, vejo que os exemplos que nos é mostrado na juventude, formam os caminhos que percorreremos na condução da vida que nos preparamos. Não sou político. O exemplo que me deixou o dr. Plínio foi a honestidade nos atos e a lisura nas críticas; a persistência na luta pelo almejado, sem recuar no primeiro obstáculo.
Ficou como primeiro suplente de Deputado Federal nas eleições de 1954, quando era governador de Minas, o Dr. Juscelino Kubitschek. Com a convocação de um deputado federal eleito, para compor o secretariado do governo Juscelino, o Dr. Plinio foi chamado a assumir essa vaga, transferindo-se para o Rio de Janeiro, capital Federal na época. Quando voltou a Montes Claros, fui logo procurá-lo. Ele contou-me da ansiedade e emoção que lhe dominaram quando foi à tribuna para fazer o seu primeiro discurso. E esse discurso foi a defesa do seu projeto que colocou o norte de Minas no Poligono das Secas.

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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