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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Santa Luzia, Montes Claros Manoel Hygino dos Santos - Hoje em Dia Quando publiquei um dos meus livros, percebi que rapidamente a edição acabava. ´O ateu Darcy Ribeiro´ acabava agilmente, evidenciando o prestígio do antropólogo. Nas conversas, em residências ou festas, nos bares e universidades, se falava nele então. Impressionava -lhe a lucidez, a agilidade mental nas conferências, exposições em televisões ou encontros culturais ou políticos. Eclético, como o classificou Amelina Chaves, mas também, polêmico. Jamais temeu, sempre com pressa, à frente no tempo, chegando primeiro, bebendo água limpa, mão em concha. Cometeu erros, como sobre Milton Campos, ao considerá-lo fruto de oligarquias latifundiárias. Darcy, injusto talvez, no caso, por mal informado. José Bento Teixeira de Salles, que serviu ao ex-governador no Palácio da Liberdade, contestou. Expressou-se em sua apreciada crônica no ´Estado de Minas´, em que abre o espírito e o coração, na crítica ou no elogio, com franqueza digna da grei de Santa Luzia, onde nasceram o pai Manoel Teixeira de Salles e o tio Franklin de Salles, que bem poderiam ter pertencido à Academia Mineira de Letras, no dizer de seu presidente perpétuo Vivaldi Moreira. José Bento, diante da crítica de Darcy a Milton, ´flor desta civilização, nosso modelo de homem ilustre por todos os títulos´, na palavra de Vivaldi, não se calou ou se conformou. Tinha ímpetos que lembravam o irmão Fritz, brilhante e impulsivo às vezes. De luziense não se esperava outra reação. Oscar Dias Corrêa, ao saudá-lo no sodalício, enfatiza-lhe virtudes: ´Um companheiro incômodo, e bravo (desculpem-me a bravata) disposto, que pensa o que pensa, diz o que diz, quer o que quer, fala o que entende´. José Bento não se silenciaria ao montes-clarense. Em ´Milton Campos, uma vocação liberal´, traçara a biografia do ponte-novense, julgando ´o que houve de melhor em Minas´, ainda repetindo Oscar Corrêa. ´Sob sua liderança, reconhecimento, modelo de cidadão e estadista, viveu-se, entre nós, o clima que inspirara os sonhos de nossos ancestrais e formara nossa consciência cívica: o respeito ao ´direito, a compreensão das divergências, busca da conciliação de liberdade e autoridade, marcando período de impecável obediência à lei, no ´Governo mais das leis do que dos homens´. José Bento telefonou-me, então, para explicar sua posição, que compreendi. Mas manifestações generosas vieram, como as de Eduardo Almeida Reis e João Valle Maurício, ambos da Academia Mineira. Bem como outras tão valiosas de Jack Siqueira, Magnus Medeiros, Theodomiro Paulino, Ricardo Arruda Alcântara, Salvador Ferrari, Mário Clímaco, Paulo Narciso, Haroldo Lívio de Oliveira, do padre Adherbal Murta, José Inácio Câmara, Oswaldo Antunes, todos gente de minha melhor querença e da maior admiração. Alguns já partiram. Também da escritora Maria Jacy Ribeiro, cunhada de Darcy, viúva de Mário, médico, ex-prefeito de Montes Claros. Em seu belo estilo, escrito, em mensagem de próprio punho, ela registrou: ´Estamos passando uns dias no ´Tira-Teima´, sítio que pertenceu a Filomeno Ribeiro e que Darcy adorava. Quase morro de saudades do mano (em verdade, o cunhado), ao ler `O ateu Darcy Ribeiro`; deitado na rede, apreciando as árvores centenárias, ouvindo os pássaros, cismando, como ele gostava, quando nos visitava. Senti a sua presença, seu riso, suas brincadeiras. Que alegria, a sua!´ Transcorridos anos desde o falecimento do autor norte-mineiro, fico pensando na penosa responsabilidade da cidade que o recebeu no berço; uma cidade do interior árido gerar dois filhos que ocuparam simultaneamente cadeiras na Academia Brasileira de Letras. Darcy e Ciro dos Anjos, até por terem ingressado na Academia se perenizaram em áreas diferentes do labor literário e intelectual. Cumpriram o papel e deixaram exemplo a seguir, porque no Norte tanto quanto às margens do Rio das Velhas grandes cabeças houve e há. Basta verificar os nomes que ilustraram duas comunidades que se consagraram.

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