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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 1 de maio de 2024
 

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Mensagem: Hoje é o dia 6 de Fevereiro. Quando, à noite, os relógios marcarem 23 horas terá completado 80 anos o episódio que mais tornou Montes Claros conhecida em todo o Brasil. O célebre tiroteio na atual Praça Dr. João Alves, a Praça do Automóvel Clube. O assunto foi manchete nos jornais da capital da República por cerca de três meses. Manchete principal, com letras imensas, garrafais. Toda a atenção do Brasil virava-se para o burgo mineiro. Tropas federais foram enviadas a Montes Claros. Um advogado que chegou a presidente do Supremo Tribunal Federal recebeu a incumbência de apurar os fatos. Hoje à noite, a cena que o historiador Hélio Silva aponta como o primeiro tiro da Revolução de 30 completará oito décadas, com a cidade pacificada, neste particular, e quase sem saber de nada - pois esquecemos facilmente a nossa própria história, a trajetória comum, de todos. O fato é que, naquela hora, naquele 6 de Fevereiro de 1930, chegava a Montes Claros um trem especial trazendo o vice-presidente da República, então uma autoridade infinitamente mais poderosa do que atualmente é. O trem, cheio de autoridades, despejou sua carga de importância na gare local e o cortejo desceu pelas ruas. Eram dias de política acirrada, mercurial. Ao passar defronte à casa do chefe da política adversária, dali onde hoje é o alegre Automóvel Clube, partiu intensa fuzilaria. Moravam lá Doutor João Alves, chefe da Aliança Liberal, e sua célebre mulher, dona Tiburtina Alves, vinda de Itamarandiba, perto de Diamantina. A ela se atribuía um poder enorme, uma capacidade de liderança incomum. São muitas as versões, como tais conflitantes. O fato é que da intensa fuzilaria restaram corpos pela hoje mansa, pacífica e quase relegada Praça, mãe dos catopês que desfilam pelas ruas da cidade a cada agosto novo. Nunca se contou o número de feridos. Apenas o de mortos: um menino, na calçada do que hoje é o prédio do Automóvel Clube; o do secretário do vice-presidente da República, Melo Viana, chamado de Rafael Fleury; e mais - feridos mortalmente - João Soares da Silva, Moacir Dolabela e dona Iraci de Oliveira Novaes, esposa de Eudison Novaes. No pânico que se seguiu, a comitiva voltou a toda pressa para a estação ferroviária. O trem do poder partiu - de ré - para Belo Horizonte. Não havia tempo, era preciso recuar a todo galope. O Brasil recebeu a notícia, atônito. A perplexidade em Montes Claros não foi menor. Por anos, a história decantou o assunto - e a sabedoria de parte a parte felizmente sepultou os seus miasmas. Nos últimos anos, nas últimas décadas, pessoas ligadas aos dois lados viveram harmoniosamente, no cumprimento da lição de que se deve caminhar para frente, para cima, para o alto. A cidade de Montes Claros passou a ser referida com algum desconforto nas maiores cidades do Brasil, especialmente nas instâncias que se julgavam mais civilizadas. O maior entre os poetas, que aqui veio logo depois, Carlos Drummond de Andrade, mais de uma vez referiu-se ao assunto, para extrair dele uma referência elogiosa ao nosso povo, reverente à cultura aqui estacionada, quase sempre a mostrar-se e a exibir-se por méritos da incomum música que Montes Claros produziu e exportou - em forma de serenatas. As suas Modinhas Eternas, tendo no bardo João Chaves, o líder do cortejo angélico, literalmente tocando todos os instrumentos de uma banda de música. Era o contraste, o contraponto, para a cidade apontada, injustamente às vezes, como valentona, bélica, capaz de armar uma fuzilaria de expressão federal. Não. Muito ao contrário. Tínhamos mais do que lições de intolerância – fomos capazes de produzir e de espalhar por todo o Brasil páginas como Amo-te Muito, Eterna Lembrança, o Bardo. (A má fama que queriam nos impingir deteve-se diante das músicas de um inspirado e lírico sertão, cantando ao luar). É este o episódio que Montes Claros - quase sem saber - hoje comemora, ainda que com as homenagens profundas do silêncio reverente. Oitenta anos de uma página do Brasil. Acentua-se o entendimento de que daqui realmente partiu o primeiro tiro da Revolução de Outubro de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência da República, caudilho que depois se perdeu num vasto quadro ditatorial. Em boa hora, seria oportuno que a história - e não as muitas versões dela e seus julgamentos subjetivos - merecesse um relato alto no local dos acontecimentos. (Ali, mais de uma vez, fui levar pessoas que pediam para conhecer o território do célebre 6 de Fevereiro de 1930. Assunto que partiu o País e produziu lendas e folclore, que seguirão) Não tenhamos medo da história. Ela prosseguirá como A Mestra da Vida. Aliemo-nos, pois, a ela. O passado, aquilo que não passa nunca, é o que nos sustenta. Montes Claros foi e será sempre capaz de ressurgir, erguendo-se para os momentos sublimes, ao luar, em torno de eternas lembranças. (PS: Esta relembrança é também uma homenagem aos que fazem aniversário hoje, neste 6 de Fevereiro)

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