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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Viva o Divino; salve Chico Rei Alberto Sena Darcy Ribeiro, com toda verve libertária, de homem que nutria profundo amor ao ser humano, costumava dizer: “o meu sonho é ser Imperador do Brasil”. Quem o ouvia dizer isto achava no mínimo que Darcy estava sendo incoerente com tudo; toda a sua carreira de professor – ele era tudo, mas gostava de ser chamado de professor - antropólogo, indigenista, escritor, político etc. Dizia isto e sorria, para depois explicar: “meu sonho é ser Imperador do Brasil nas Festas do Divino, no mês de agosto, em Montes Claros”. Mês de agosto em Montes Claros era diferente de mês de agosto em qualquer lugar do planeta. O Sol assumia cor avermelhada e dava a impressão de estar ao alcance da mão. Ficava como Lua Cheia, enorme bola solta no espaço. Longe de nós 150 milhões de anos-luz, Sol com alguma semelhança ao de Montes Claros só se veem em Brasília, porque erigida no Cerrado; ou em Israel, no Oriente Médio, onde, diferentemente daqui, o Sol alaranjado, as águas do Mar Mediterrâneo o engolem não por acaso, a cada ocaso. Os raios do Sol de agosto se misturavam com a bruma característica da estação de seca na região do Norte de Minas, e a bruma se confundia com a fumaça de queimadas, quando os agropecuaristas assim preparavam o terreno para lavorar e plantar capim. E era então este um sinal de que havia chegado o tempo do desfile dos catopês. Enfim, as festas do Divino Espírito Santo. O espetáculo de simplicidade dos catopês penetrava a menina dos olhos e ia direto ao fundo do mar onde moram os mais elevados sentimentos humanos, e de lá uma voz dizia: chegou o tempo de lembrar a gente caçada como bicho do mato, a gente aprisionada como fera, a gente trazida à força para o Brasil de antanho nos chamados navios negreiros. Darcy sonhava ser Imperador do Divino. Este escriba, do alto da sua insignificância, tinha pretensões outras: ser catopé, ostentar a beleza das faixas coloridas da cabeça aos pés; os espelhos na testa a espalhar em todas as direções os reflexos do Sol escaldante de Montes Claros. Queria suar como suavam os catopês a bailarem felicidade do momento; a reviverem as lembranças do passado – e a memória dos antepassados –; e a sonharem sonhos de um futuro alvissareiro. Mas foi tarde – e antes tarde do que mais tarde – que se foram caindo os véus e se soube por meio de pesquisas nos alfarrábios, o porquê de gente simples o ano inteiro viver a expectativa de se sentir na pele de príncipes, de reis e de rainhas nas festas do Divino, em agosto. Os experts em matéria de folclore, como Saul Martins, para citar um, contam que os catopês todo ano lembram Chico Rei. E quem foi Chico Rei? Um príncipe negro africano trazido à força para o Brasil só com a passagem de vinda em navio negreiro. Aos poucos ele comprou a própria liberdade e fundou uma espécie de cooperativa para alforriar escravos. E assim, em torno dele os escravos alforriados formaram “um reinado”. Daí o costume. É preciso lembrar Chico Rei em meio às festas do Divino, em agosto. A primeira notícia que se tem das Festas de Agosto é de 23 de maio de 1939, ocasião em que são homenageados o Divino Espírito Santo, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Em que pese toda a seriedade dos festejos de agosto aqui evocada, não custa nada contar um episódio engraçado. E na sequência um acontecimento de final trágico, para dar mais substância ainda ao ambiente folclórico. A cena se deu em plena Rua Dr. Santos. Os catopês vinham em cantoria. Bailavam. Na porta de uma casa em estilo colonial, pouco abaixo da Praça Coronel Ribeiro (salvemos a praça!) de calção e nu da cintura para cima, estava um jovem. Ele observava atentamente os catopês e suas fitas coloridas, esvoaçantes. Sem que ao menos suspeitasse, por trás dele veio o irmão menor. Num gesto rápido, de criança sapeca, puxou para baixo o calção do jovem. Por eternos segundos, ele ficou peladão diante dos catopês e dos circunstantes. O riso foi geral. Num átimo, ao se vir pelado, o espantado jovem puxou o calção para cima e, chorando de vergonha, correu ao encalço do irmão. O final fugiu do universo folclórico e caiu na realidade de alguns anos adiante. A lembrança escapou por uma fresta do baú. O jovem peladão morrera afogado numa piscina. Na ocasião, disseram, “ele estava praticando pequenos furtos e a mãe dele fez um pedido a Deus: “prefiro ver o meu filho morto a vê-lo preso como ladrão”.

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