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Mensagem: QUANDO CHEGA O SÃO JOAO JOSE PRATES Quando junho se aproxima, o tempo muda. O intenso calor vai embora dando lugar ao frio que vem devagar, encobrindo o céu e colorindo de cinzento a paisagem. Os cobertores pesados saem do armário onde estavam esquecidos. Em nossa infância, no romântico sertão mineiro, o mês de junho não era, apenas, o mês do frio que marca o inicio do inverno. Era o mês de São João, Santo Antônio e São Pedro; o mês das fogueiras que iluminavam e aqueciam as ruas estreitas das pequenas cidades, atraindo os jovens para brincadeiras inocentes. O céu cobria-se de balões e cá em baixo, as bombinhas espocavam nas brincadeiras das crianças, enquanto “os mais velhos” sentados em grupo nas calçadas, comiam canjica e batata assada na fogueira. Era assim que o sertanejo crente brindava o santo da devoção. Nesse dia, a cidade entrava em clima de festa com uma fogueira em cada porta, iluminando a rua cheia de gente vestida com a roupa de “ver Deus”, retirada do baú, ainda com cheiro de naftalina. Era gente enchendo as praças, soltando fogos, numa alegria contagiante. Em algumas casas, na sala principal, um altar coberto com toalhas rendadas, recebe a imagem do Santo e a novena começa com cânticos de louvor. O menino entra correndo, espanta-se com as pessoas de joelhos em frente ao altar. Pára; faz o sinal da cruz e segue correndo para apanhar as bombinhas esquecidas no quarto do quintal. As brincadeiras entram noite adentro, terminam de manhã com as fogueiras em cinzas. Os tições que serviram no ritual de compadresco, estão apagados no meio da rua; debaixo das cinzas, as batatas assadas são guloseima da garotada. Hoje, na avalanche do progresso, uma a uma vão morrendo, pisoteadas nossas mais líricas tradições. Dos tempos passados do velho e romântico sertão, pouca coisa ainda nos resta daquilo que foi alegria para nós. Neste mundo de modernidade, poucos, quase ninguém, lembra das líricas festas de São João, celebradas com tanto fervor e encantamento nas noites juninas do sertão romântico de gente simples. Não era, apenas, a alegria da criançada, o entusiasmo das moças casadouras, nem dos velhos sentados nas calçadas, comendo canjica, pois que todos, cada um a sua moda, viviam o momento, fosse nas quadrilhas de vestidos rodados dos salões iluminados a gás, fosse nas inocentes folias de rua ou mesmo diante do clarão escaldante das fogueiras com batatas a assar no braseiro. Eram Busca-pés, serpenteando, riscavam o chão, fazendo a gente sair correndo; rojões estouravam, no alto, iluminando o céu com estrelinhas coloridas a caírem sobre nós. Nos salões de “gente rica”, a luz morteira do gás, crianças com blusas de marinheiro e mocinhas dengosas queimavam seus “fogos de salão”, criando delicadas chuvas de estrelinhas que mal cintilavam para logo morrerem desfeitas no ar. Nas janelas, moças mais afoitas queimavam ´pistolões´ a sacudir, no espaço, o curioso tubo de papelão de onde saíam as golfadas de fogo, bolas azuis, incandescentes. E essas coloridas bolas encantavam as crianças e embeveciam as meigas vovozinhas de touca de lã à cabeça.. Chegou a rede elétrica que veio junto com a telefônica, proibindo as fogueiras. Hoje, ninguém à beira do fogo, mas, em frente à televisão embevecido com a novela que lhe faz viver em sonho, fugindo da realidade que, ás vezes, atormenta, Não existe mais moiçolas de mãos dadas em roda nas ruas, cantando modinhas e soltando versos. Hoje, estão na internet ocupadas em “bate-papo” virtual. É o tempo que passa modificando tudo, sem conseguir, porem, arrancar de nossa mente as recordações do passado, nos permitindo reviver momentos felizes. (José Prates, 81 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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