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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: NO DIA SEGUINTE Alberto Sena Pelo menos por enquanto, os cientistas ainda não descobriram onde ficam os escaninhos da nossa memória. Parece que não há no cérebro um lugar determinado onde ficam alojadas as nossas lembranças. Há suspeitas de que a memória faça parte do cérebro como um todo. Mas vamos dar tempo aos cientistas para que aprofundem mais nas pesquisas e possam confirmar o que até aqui é só uma suspeita, ou senão encontrem de fato o lugar onde fica a memória de cada um. Sem memória o ser humano não vive, vegeta. E muito menos uma cidade como Montes Claros ou qualquer urbe do planeta. Assim como Carl Gustav Jung, psiquiatra suíço, ex-amigo de Sigmundo Schlomo Freud, com quem cortou relações, trabalhava o inconsciente das pessoas e na tarefa advogava a existência do inconsciente coletivo, a mesma coisa se dá com a memória. Há a coletiva também. Quando lá atrás o médico, historiador e estudioso do folclore, Hermes de Paula, cuidou de fazer apontamentos sobre a história da cidade e publicou um livro, que depois foi atualizado e relançado, a velocidade da rotação da Terra parecia ser mais lenta. Nesses tempos globais em que os acontecimentos se atropelam e as pessoas não têm sequer um olhar para os lados a fim de observar o que se passa ao redor, a memória coletiva da cidade corre o risco de se dissipar. Este é o fantasma dos nossos tempos. Estamos deixando passar despercebidos momentos importantes dos nossos dias talvez por falta de um Hermes de Paula para fazer o que ele fez em busca da gênesis das famílias montes-clarenses. Os registros de hoje não podem se limitar aos casos de assassinatos, acidentes de trânsito rodoviário e as controvertidas ações políticas quase diariamente publicadas na imprensa local. O que pode estar escapando é a alma da população da cidade, que, por ser corpo etéreo, se dispersa feito fumaça, porque as pessoas a cada dia mais perdem a capacidade de contemplar e registrar o belo que acontece, fixando-se demasiadamente no brutal e chocante, como se só isto fosse interessante. Preservação da memória, pessoal ou coletiva: deve ser essa energia que move cronistas gigantes como José Prates, Augusto Vieira, Raphael Reys, Flávio Pinto, Haroldo Tourinho, Waldyr Senna e os que, por escreverem com menos frequência nos priva de belas crônicas; talvez seja isto que os leva a escrever toda semana um pouco da vivência no arraial, tascando na memória coletiva de Montes Claros, cidade que se transformou bastante, desde a década de 1970. E sem planejamento adequado. Tenho mais tempo de Belo Horizonte, hoje, do que de Montes Claros, a contar do nascimento até o dia em que, de mala e cuia, parti. E embora tenha voltado várias vezes, há uma data aí não ponho os pés. E não é por nada não. Em breve o retorno vai acontecer. Os registros feitos sobre os bons momentos vividos no arraial, embora simplórios, carentes de mais substância até, podem de alguma forma servir adiante de material para pesquisa de uma época em que a Montes Claros de hoje ainda estava em construção. E por mais que as personagens lúcidas da época alertassem para os perigos do progresso a qualquer preço, pouco adiantou porque a cidade sofre hoje as consequências da falta de siso. Quanto à memória pessoal, inspirado pela chuva que cai e escorre pela janela de vidro fechada, me lembro bem do dia em que a minha irmã, Elza, se casou. Pela ordem, ela é a segunda das onze crias dos meus pais. Era um sábado à tarde semelhante a este. A única diferença é que naquele dia caíam chuviscos em Montes Claros e não essa chuva forte de agora, que se espalha e embaça o vidro da janela, nesta cidade encarapitada de edifícios. O fato é que, na época do casamento de Elza, a memória era dum menino de três anos de idade. Morávamos na Rua Marechal Deodoro, atrás da Praça de Esportes, numa casa inexistente hoje, mas a alma dela ficou para sempre. O quintal era como o paraíso. Só jabuticabeiras havia 22. Fora mangueira, goiabeira, laranjeira e que tais. Mas era tanta jabuticaba, parecia não acabar mais. Chupávamos, dávamos, vendíamos e ainda tinha jabuticaba. A barriga cheia ficava assim, ó! O problema era no outro dia.

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