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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: PARA RUTH TUPINAMBÁ Suas eternas lembranças e as narrativas sobre momentos da grande amizade que existiu entre meu pai, Lucinho Narciso, Wilson Athayde e seu amado Armênio Graça me encheram de saudade, esse barco sem rumo que jamais ancora. O “Conde” Armênio Graça parecia artista de cinema. Não foi à toa que um de seus filhos, Alberto, tornou-se um dos grandes cineastas brasileiros. A chegada dele à minha casa, na Presidente Vargas, era passaporte da alegria. Impecavelmente bem trajado, perfumado, parecia Gary Cooper se preparando para atuar numa cena de mais um filme. Minas mãos sumiam nas dele, imensas, na hora do cumprimento. Eu ficava ali curtindo seus “causos” e suas brincadeiras, vez por outra também participando. Sua retirada nos entristecia. Esses quatro fazendeiros (Armênio Graça, Wilson Athayde, Lucinho Narciso e Norival Vieira), personagens de meus livros, foram, todos eles, pessoas interessantíssimas, emblemáticas de nossa aldeia. Lembro que, adolescente, disse a Lucinho e a Nonô para deixarem de comprar e vender, um ao outro, a mesma vaca, que já estava ficando velha e cansada de tanto transitar entre as duas fazendas. Ninguém tirava deles o prazer do “nigucin”. Ao contrário de Lucinho, Nonô me dizia que fazenda “empobrecia, embrutecia e envelhecia” e que “só era bom quando era vendida”. Comprava uma, dava uma arrumada, que chamava de “mel de coruja”, passava pra frente e ganhava um bom dinheiro para nos proporcionar a melhor vida possível. Que nem o “Conde”, só que ele as arrumava muito melhor, transformando-as em verdadeiros “brincos”. Conheci quase todas. Hoje tudo mudou. É asfalto pra tudo quanto é lado, produtos à vontade para cuidar dos rebanhos e das plantações e muita tecnologia. Tudo ficou mais fácil, é o que suponho, embora quase todos os fazendeiros que conheço continuem a se queixar dos negócios. Amizades iguais às deles, hoje em dia, é coisa muito rara. As pessoas se tornaram muito competitivas e intolerantes. Eles, ao contrário, celebravam os ganhos financeiros e as alegrias familiares uns dos outros. E como foram honrados! Não precisavam de documentos para concretizar os “nigucins”. Documento, para eles, era a palavra dada. Gente assim está acabando, minha querida e renomada escritora. A maior homenagem póstuma que meu pai recebeu foi uma crônica de seu filho, o festejado maestro Armenio Graça Filho, relembrando fatos de sua infância. Nonô e Armeninho foram muito ligados e batiam longos papos. E como filosofavam, aquele velho catrumano maduro e aquele menino inteligente e audacioso! Nonô, que partiu tão cedo, completaria 100 anos no próximo dia 10 de fevereiro de 2011. Imagino como seria a festa. Céu coalhado de estrelas, luar maneiro e romântico e os quatro sentados à beira de uma imensa fogueira, assando uns milhos-verdes e umas batatas-doces. Nonô, chumbado, cantando umas modinhas; Lucinho confeccionando e depois fumando seu cigarrinho de palha; Wilson tomando café bem quente com paçoca e o “Conde” Armênio Graça alegrando a todos com suas espirituosas brincadeiras. Que astral! Muito obrigado, minha querida “tia” Ruth Tupinambá, em meu nome, no de Lena, e de Guilhermão e Xandão, pela maneira tão afetuosa e sincera com que você retratou nosso Nonô, em sua belíssima crônica.

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