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Mensagem: A invenção do milhão Waldyr Senna Batista Repercutiu menos do que o esperado a divulgação do resultado preliminar do recenseamento, que atribuiu a Montes Claros população de 355.401 pessoas, oito mil a menos do que o estimado pelo IBGE, que era de 363 mil. Esse número vinha sendo “arredondado” para 400 mil pelos apologistas da meta de 1 milhão de habitantes na cidade por volta de 2025. Ou seja, dentro de “alguns anos”. Essa “previsão” surgiu não se sabe de onde, produzida não se sabe por quem e nem com base em quê. De repente, passou a ser repetida até por pessoas tidas como de credibilidade, como se fosse acontecimento respaldado em bases concretas. E, o que é pior, festejada como meta a ser perseguida e comemorada, quando se sabe que, consideradas as condições precárias da cidade, se concretizada em prazo tão curto, alcançaria dimensões de catástrofe. Como abrigar tanta gente numa cidade que mal comporta a população atual, sem obras ou sequer planos para expansão nessas proporções ? O recenseamento, que se realiza a cada dez anos, entre outras finalidades, serve de base para a divisão de recursos federais para estados e municípios. No caso de Montes Claros, a diferença entre a estimativa e a contagem oficial não é significativa, podendo ser absorvida porque a cidade dispõe de outras receitas. Mas, em municípios de pequeno porte, que são a maioria e que têm o FPM ( Fundo de Participação dos Municípios) como única fonte de recursos, qualquer discrepância pode resultar em sério transtorno. Por essa razão, o IBGE acolherá contestações das prefeituras até o próximo dia 24. A divulgação do resultado definitivo será no dia 29. Os números do censo prestam-se também para orientar a expansão e o planejamento das cidades, levando em conta natalidade, mortalidade e migração de forma a possibilitar intervenções que as resguardem de problemas futuros. Contudo, prevalece o imediatismo dos prefeitos, que não se valem desse instrumento, preferindo priorizar ações que resultem em vantagens eleitoreiras. Explosão demográfica não deveria ser motivo para ufanismo e nem de acirramento da rivalidade muito comum entre cidades, porque só faz piorar as coisas. O censo do ano 2000 revelou Montes Claros como a quinta maior cidade do Estado em número de habitantes, situação provocada pelo incentivo à migração regional, que produziu o favelamento e o aumento do desemprego. Poucos anos depois ela perderia essa posição, passando ao sexto lugar, superada por Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem, Juiz de Fora e Betim, mas continuou em prática o equívoco de se dizer que Montes Claros é a sexta melhor cidade do Estado. Não é, os dados se referem apenas à população. Em termos regionais, ela é a primeira, tendo cinco vezes mais habitantes do que Janaúba, segunda colocada (66.377 habitantes) e Januária, em terceiro lugar(65.255). Em dez anos, a população de Montes Claros saltou de 306.947 pessoas para 355.401, acréscimo de 48.454, ou o equivalente a uma Bocaiúva ( 46.183). Trata-se de dado preocupante, considerando-se que o poder público tem se mostrado impotente para absorver essa população adicional sem comprometimento da qualidade de vida da cidade. O trânsito já se tornou insuportável, os índices de violência recrudesceram e os equipamentos de infraestrutura deixam a desejar. No momento, não há um único empreendimento de vulto em execução na cidade, estando a Prefeitura em situação tão lastimável que não consegue sequer quitar pontualmente a folha de seus servidores. Em termos demográficos, os índices de crescimento têm sido declinantes nas últimas quatro décadas, seguindo a tendência nacional, o que é bom. Nos anos 70, a expansão anual média foi de 4,3%, caindo para 3,5% dez anos depois e chegando a 2,1% no período seguinte. Na década que está terminando, a média é de 1,9%. Essa tendência adiará em muitas décadas a previsão do milhão de habitantes. Uma coisa pelo menos é certa, e não é preciso ser profeta para constatá-la: nenhum dos atuais arautos do milhão de habitantes desfrutará da suprema glória de testemunhar o advento desse acontecimento... (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil)
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