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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: ESPERANDO O NATAL Ruth Tupinambá Graça Dezembro é o mês mais alegre do ano, aguardado com ansiedade e esperança. Mas também tem os seus apertos e preocupações. Para as crianças, na sua inocência, é só alegria. Esperam o Papai Noel, pensando somente nos brinquedos. Hoje são verdadeiras artimanhas que deixam as crianças maluquinhas. Para os estudantes, o mês de dezembro é mais preocupante: exames finais com as provas e recuperações de matérias. Alguns aguardam ansiosos as datas dos vestibulares, na expectativa de entrarem vitoriosos numa faculdade e outros aguardam eufóricos as festas de formatura. A juventude, de modo geral, espera a realização de outros sonhos: namoro, noivado, casamento e as badaladas festas do “réveillon” no Automóvel Clube e nos demais clubes sociais espalhados em nossa cidade. Os mais velhos, já casados, planejam férias com a família, pesquisando preços de pacotes promocionais nas agências de turismo, procurando praias, que, aliás, o nosso Brasil tem as mais belas. Para os comerciantes este mês é o mais sufocante: estressados ( na maioria)e preocupados com os balancetes, na ânsia de faturar 100% ou mais,abarrotam as vitrines de mercadorias para atrair a freguesia. O 13º (esperado o ano inteiro) chega a tempo. As famílias se desdobram na compra de presentes. Há tumultos, correrias à procura das “célebres” promoções com propagandas enganosas, onde só os comerciantes levam vantagens. Mas o povão gosta de ser passado para trás em todas as situações (sociais,políticas e financeiras) às vezes fazem sacrifícios e se afundam nas compras. Acontece até de se arrependerem das loucuras feitas numa hora de entusiasmo, vítimas de propagandas enganosas, mas já é tarde e os “cheques sem fundos” os incomodam. O dinheirinho suado do funcionário público, especialmente professores, faz milagres: presente para toda a família (filhos, netos, bisnetos, genros e noras) e ainda reserva um pouquinho para a infalível ceia: um peru defumado, leitão à pururuca, com os devidos acompanhamentos: bebidas, bombom e sobremesas em montão. É a hora alegre de reunir toda a família, filhos e parentes que vêm de longe. Em muitos lares, enquanto adultos bebem e destrincham o peru, as crianças brincam em volta da árvore de Natal com os carrinhos eletrônicos e as bonecas sofisticadas (como a Baby) presentes do bom velhinho. Mas o Natal é privilégio de todos e sempre existiu. Com ou sem civilização o Menino Jesus foi sempre esperado com festas em todos os lares, pobres e ricos. É a festa universal em que todas as crianças, desde a miserável, das favelas e cortiços, que nem sempre têm o que comer , até as nascidas em “berço de ouro”, aguardam o Papai Noel esperando um presente. Felizmente já existem hoje as Organizações Sociais que, em grande solidariedade, se movimentam levando para estas pobres crianças um pouco de alegria, fazendo-as sentir que não foram esquecidas. É muito gratificante fazer uma criança feliz. Todos estes acontecimentos em vésperas do Natal me fazem pensar e sempre me vejo, viajando no tempo, voltando ao passado, no Natal da minha infância. Era tão diferente... Já existia a lenda do Papai Noel, as crianças ganhavam apenas um presente, talvez dois, vindo de um carinhoso padrinho. Mas era tudo tão simples! O primeiro lugar era do Menino Jesus, esperado com muito amor e alegria! O ponto alto era o presépio em todos os lares. Era uma festa a visita das Pastorinhas com suas roupas coloridas, pandeiros e arcos enfeitados com flores de papel de seda. Cantavam e dançavam saudando a chegada do Menino Jesus. As crianças eram mais sensíveis e se emocionavam. Muitas até choravam (na sua inocência) olhando aquele menininho quase nu, talvez com frio, deitado sobre palhas, numa pobre manjedoura. O Menino Jesus era realmente valorizado e visitado por todos os católicos, numa demonstração de fé cristã. Quantas vezes eu vi minha mãe plantando arroz, em latinhas para enfeitar o presépio armado na nossa sala de visitas. Muitas vezes eu fui - com meus irmãos menores- procurar pedrinhas bem bonitas e diferentes, cogumelos, lodos e ramagens na margem do Rio Vieira (ele ainda não era poluído) tudo para valorizar o nosso presépio. Não existe Natal como antigamente. Esqueceram-se do Menino Jesus. Poucas famílias o cultuam. Hoje o adorado e festejado é o Papai Noel , de todos os tamanhos e numa grande variedade de estilo, e abarrotam as vitrines das casas comercias. Ele comanda o Natal em todas as casas e em toda a cidade e as famílias cultivam e estimulam este privilégio do “bom velhinho”. E o Menino Jesus onde está? E os presépios? A maioria das crianças os ignora. Mas elas não têm culpa, crescem em mundo diferente, fora da realidade. São voluntariosas, exigentes, algumas cobram dos pais o que às vezes, eles não podem lhes dar (brinquedos caríssimos) e vivem insatisfeitos. Por quê? É o consumismo galopante que tomou conta de tudo e de todos. E os pais se deixam levar. Comodismo talvez... E os cifrões dominam a humanidade. Assim o mês de dezembro chega ao fim, cheio de contrastes. Depois do Natal vem o imponente “Réveillon”, a grande festa de confraternização. Ano Novo! Aleluia, Aleluia! Encontros desejados, muita alegria, fogos de artifício em profusão marcando o embarque do Ano Velho, todos acreditando que, com ele, na virada do Ano Novo, ir-se-ão todas as preocupações,decepções, tristezas e angústias. Que Deus os ouça, compadeça e os ajude nesta terra de tanta maldade e violência. Que não se decepcionem (os puros de coração) os que acreditam que teremos, um dia, um mundo melhor e mais justo. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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