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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 4 de maio de 2024
 

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Mensagem: ELES DEIXARAM SAUDADES Montes Claros, cidade que estou atrelada para sempre. A saudade aflora, e a vejo com os olhos da infância, junto com os sonhos de menina-moça. Tudo levado na voragem do tempo... Pessoas que se foram, a cidade acolhedora e amiga. As ingênuas recordações. Em cada esquina uma lembrança, em cada rosto uma saudade. Toda cidade tem suas histórias escondidas nas ruas e praças “onde o urbano não vive sem o humano”. E vou perambulando no passado. Voltar a Montes Claros, tendo aqui nascido, é sempre um momento delicado, e é cada vez mais delicado, quanto mais se vive. Existe uma Montes Claros dentro e uma fora de mim. Tento conciliar aquilo que a vida apartou e só o afeto pode reunir. A fantasia infantil é imprevisível. Circulava pelas ruas, encontrava pessoas e a imaginação era generosa. Na verdade, essa é uma crônica sobre o cotidiano, a vida: momentos, pessoas, fragmentos, figuras que marcaram meus verdes anos. Entrego-me a essas lembranças, e na Praça Matriz, o Dr. Nelson Viana e D. Julieta andam de braços dados ao entardecer. Dr. Nelson, muito alto e o semblante severo. Durante o dia usava uma calça-culote, botas até o joelho, chapéu de explorador africano, como o Dr. Livingstone, ou chapéu Chile branco. Era uma figura que chamava atenção. Sua casa ficava escondida por uma sebe de fícus, me parecia tão misteriosa quanto o dono. Tornou-se um personagem, uma lenda. Subindo a rua Dr. Santos, em frente ao palacete do Sr. Domingos Braga, morava um casal de idosos: Sr Anselmo José dos Santos e sua esposa D. Aleixina. Sempre sentados em cadeiras de vime, num pequeno alpendre. Ele usando um paletó de pijama, listrado. Como não tiveram descendentes, construiu em vida um túmulo no Cemitério Bonfim. Na lápide os nomes do casal e ao lado da cruz molduras para colocar os retratos. Este fato me impressionava a ponto de sentir a leveza que o casal convivia com a morte. Na esquina da Presidente Vargas com Simeão Ribeiro a famosa loteria do Sr. Donato Quintino era o “point” dos idosos. Entre muitos que assinavam o ponto diariamente, lá estavam o Sr. Arthur Valle, sempre trajando um terno de linho azul-acinzentado, usando aqueles óculos leves – marca registrada dos presidentes americanos – lencinho no bolso, sorridente e sempre falante. Ao seu lado o Sr. João Félix, com seu terno branco S120. Na mão um anel de brilhante, imenso, de um quilate que não sei calcular. Elegante, usava nos cabelos a brilhantina Royal Briar e também o perfume do mesmo nome. Quando caminhava recendia esse perfume que era o mais famoso daqueles tempos. Subindo a rua Presidente Vargas, dois cavaleiros se destacavam com seus cavalos belamente arreados. José Figueiredo – ainda vivo - bonitão, parecia com os cowboys Charles Starret – o Durango Kid – e o inesquecível John Wayne. Ele devia saber disso e suas roupas eram semelhantes aos heróis do oeste americano. “Seu” Virgínio Preto, famoso comprador de gado, galopava num cavalo branco, parava no Bar Sibéria onde suas gargalhadas enchiam o ar de alegria. Outra lembrança inesquecível: “Seu” Mathias Peixoto. Quando chegávamos de Trem na estação da Central, sua carroça já esperava pelas malas, que ele entregava na residência de cada proprietário. Os viajantes desciam a pé; a cidade era pequena e ele conhecia cada recanto dela. No Clube Montes Claros, seu irmão Sr Cezário Peixoto, cara fechada, fiscalizava quem entrava e saía. Se algum sócio se excedia na bebida era “convidado” a se retirar. No quesito elegância, educação e finesse, dois moradores me encantavam: Sr. Cecílio Barbosa e Sr. Ataliba Machado. O primeiro eu via sempre em sua alfaiataria. Sereno, amável, confeccionando ternos para os casamentos, formaturas e demais acontecimentos sociais. Sr Ataliba Machado, jornalista brilhante, fundador da revista “Encontro”. Revista que era respeitada nos grandes centros e era orgulho da nossa exemplar imprensa. Homem educadíssimo, ético, cumprimentava desde crianças, adolescentes e adultos. Essa lembrança emerge porque sempre me cumprimentava com tanta atenção, que eu me sentia tão importante! Sr. Joaquim Calixto, além de ser gerente do Banco Comércio e Indústria, era um exímio pianista e ensinou gerações de montesclarenses a tocar piano. Homem ameno, sensível e discreto, enriqueceu a cultura de nossa cidade. Montes Claros teve pouco afluxo de imigrantes. Impossível esquecer o senhor Leon Shoutz, homenageado pelo programa da Rádio Nacional – Obrigado Doutor – por ser o maior doador de sangue do Brasil! Era russo, imenso, vermelhão, sua solidariedade salvou milhares de vidas. Outro estrangeiro que me lembro era o senhor Louzada. Era espanhol e consertava sombrinhas num quartinho da rua Dr. Santos. Época de chuva, eu me oferecia para levar as sombrinhas da família para consertar. Como gostava de ouvir seu “portunhol” rascante. Todas essas pessoas deixaram seu quinhão de trabalho e muitas saudades. Tempos bons, tudo e todos permanecem bem vivos em mim. Carmen Netto FEV/2011 Esta crônica é para Haroldo Lívio e Maria do Carmo Oliveira

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