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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Depois do tremor de terra, realmente alarmante, não sei se alguém terá vontade de ler sobre velhos carnavais...Mas, aqui está meu segundo artigo relembrando a folia do passado. Estou incluindo uma foto, onde vemos meu pai e minha mãe, (Hermes de Paula e Josefina) juntamente com D. Dilma Lagoeiro Fagundes, no clube Montes Claros. Anos 50. O lança perfume, ainda permitido, pode ser visto sobre a mesa. Velhos Carnavais ( 2 ) “Olha o bloco do sujo, que não tem fantasia, mas que traz alegria, para o povo sambar.” Domingo de carnaval do ano de 56. Logo cedo, missa das crianças. Na pregação o padre informa algo assustador: o carnaval é pecado! Os cristãos deveriam participar do retiro, pois ir ao carnaval equivaleria a comprar passagem para o inferno. Essa notícia cai como bomba dentro de mim. Sempre tinha adorado aqueles dias de festa sem nem de longe imaginar que fosse algo proibido. Fico pensando: será por isso que meu pai fabrica um tal “Sangue do Diabo?” Chego acabrunhada em casa. Entro no quarto e vejo minha fantasia de bailarina sobre a cama, à minha espera. Linda. Tinha aguardado com ansiedade o dia em que iria, pela primeira vez, ao clube Montes Claros. O dia tinha chegado. E eu com medo. Na hora do almoço vejo que meus pais e irmãos não parecem temer nada. Tudo está bem. Espanto o medo e, às duas da tarde, visto a fantasia verde. Calço as sapatilhas, emocionada. Sinto-me como uma bailarina de verdade! Minha mãe prende meus cabelos em coque e vamos para o clube. Da rua ouço um dos toques do Zé Pereira, bem aquela música que virou comercial: “Guará guará guará guará, melhor refrescante não há.” Vem angústia. Sigo caminhando com o coração apertado e suando frio. O capeta estaria no clube? Chegamos. Assusto-me ao ver tanta gente querendo entrar ao mesmo tempo. O Sr. Geraldo Prates, muito nervoso, procura conter a multidão. Finalmente, entramos. Ali no térreo, sentindo o perfume do lança, toda a preocupação desaparece. O chão está forrado de confetes. A alegria está em todos os rostos. Impossível ver pecado num ambiente tão feliz. A pista ferve de gente. Felizmente há uma salinha especial para criancinhas. Bem que tento, com a prima Dulce, uma entradinha onde tantos estão brincando. Mas, uma barreira humana impede nossa passagem. Sem problema. A salinha serve muito bem para o que queremos: brincar, pular, jogar e receber confetes. E cantar! “Ó jardineira porque estás tão triste...” Às cinco horas meu pai leva-nos para o último andar. Sentamos numa das mesas e aguardamos Seu Mário, o garçom, um pouco surdo e extremamente gentil. Ele trás o mais saboroso e refrescante guaraná do mundo. Em seguida vamos para casa. Deixo o clube sabendo que voltarei no dia seguinte e no outro dia e no ano seguinte e no outro... Algumas mudanças acontecem ao longo dos anos. O desfile de abertura tem fim. Os clarins silenciam. Mas, ganhamos um Rei Momo. As ruas permanecem cheias de marinheiros, prisioneiros, odaliscas, ou, simplesmente, foliões em roupas coloridas. Além dos três dias oficiais, acontecem os “Gritos de Carnaval” durante o tempo de espera. Esses “gritos”, realizados em locais como a boite da Praça de Esportes ou no Pentáurea Clube, costumam ser sem fantasias, sem aquele colorido do verdadeiro carnaval, mas, os foliões não perdem um só deles. Formam-se diversos blocos “do sujo”, improvisados e alegres. No ano de 62, meu primo Paulinho cria um bloco animadíssimo, por conta de cada participante. Ninguém nem pensa em pedir ajuda à prefeitura. Carnaval do povo é feito pelo povo. Os ensaios acontecem durante todo janeiro no quintal de sua casa. Não participo, mas, acompanho todos os preparativos. Vibro com a fantasia de índio, feita de estopa. Danço atrás deles, nas ruas do centro, com as amigas da vizinhança. “ Ê ê ê ê ê, índio quer apito se não der pau vai comer.” Eles descem pela Presidente Vargas e entram no clube Montes Claros. Roberto Prates na frente, apito na boca, o único com fantasia diferente, de couro. Uma das índias surge na sacada e acena para a minha turminha que dança na porta do Bar Sibéria. Hora de ir embora. A farra continuaria até a quarta feira descer o pano e, então, só nos restaria esperar o próximo ano. Quem poderia imaginar que em breve tudo seria diferente? Naquela noite de 62, isso não passa por nossas cabeças. Vamos pra casa cantando: “Eu pulo, pulo, pulo, pulo, pulo, pulo, eu faço barulho, eu quero é pular.”

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