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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Velhos Carnavais (última parte) “Que bom que chegou carnaval outra vez, agora eu posso esconder minha dor...” A data eu não sei. Mas vejo a cena. O Bloco Biô & Salomé faz uma pausa da batucada na praça Dr. Chaves. Waltinho Fernandes tenta convencer o pessoal a participar do desfile promovido pela prefeitura, na av. Coronel Prates. “Vamos lá, gente. Vai ser um sucesso.” Gasto inútil de palavras. Eles estão irredutíveis. O bloco surgiu devido a uma vontade de reviver os tempos do carnaval espontâneo. Competir na avenida desvirtuaria seus objetivos. Meu irmão Virgílio, da bateria, concorda. Mas a decisão final vem de Junior Leão. Não e não e não. Dali, seguem sambando até ao Automóvel Clube. Revejo todos perto da piscina. Estão cansados, mas alegres, vestidos com seus kafkas coloridos. Ano seguinte não resistem e participam do desfile, mais coloridos do que antes. Visual caprichado, o deles. Um bloco autêntico, todos usando o mesmo modelo de fantasia, causando impacto. O nome homenageia duas figuras queridas da cidade: Biô Maia e dona Maria Salomé. O bloco tem muitos componentes, com destaque para Dorninha, sempre empurrando um carrinho de sorvete cheio de bebidas. Devido a participação do meu irmão, naquele ano, aprontam-se em nossa casa. Estamos com hóspedes de Belo Horizonte, que apreciam o movimento. E nós também. Assim que o bloco sai , subimos para a avenida, ricamente decorada, novidade nos nossos carnavais. Arquibancadas foram erguidas e já se encontram lotadas, o que leva meu pai a comentar: “ Todos vieram só para ver o carnaval. Ficam esperando o desfile, sentados, braços cruzados. Que diferença do tempo antigo.” Fala no entrudo banido em 1909, (alguns morriam com essa “brincadeira”), no Tomás de Oliveira, o grande folião da cidade, no seu filho Ari, também folião de primeira, na gracinha do bloco “Mimosos Colibris”. Fala nos clarins. “Lembro dos clarins’, eu digo. Ele ri: “ Quando você era criança, o carnaval já estava decadente. O melhor que tivemos foi em 29.” Mas, reconhece que, sem comparar com os mais antigos, até que era bom. Papai faz uma pausa na aula de história porque o desfile tem início. Lá vem a Roxo Verde. E a Destak, com um excelente puxador de samba, o Simonal. Depois é a vez do Feijão Maravilha. Finalmente, chega a hora da belíssima escola de Geraldino, genro do Vavá, da escola da minha infância. O povo fica empolgado. Em destaque, o cabeleireiro Olimpio Damasceno, resplandecente, vestido de dourado. Nosso hóspede comenta que a de Geraldino é melhor do que qualquer uma de B.H, o que nos envaidece. Chega a vez dos blocos. Tem o Saci. Tem o Cara de Pau, do SESC, que mais parece uma mini escola de samba. Tocam uma marchinha e faz o povo levantar. Agora é o Chulé. Sinto simpatia por esse bloco. Simplicidade ao extremo, vestidos de saco, dançam ao som de uma música composta por eles. A letra fala sobre um Marciano, o marcianinho, que desce à Terra para brincar no Chulé. Tal ingenuidade cativa-me e danço com eles, do lado de dentro do portão. Epa, que claridade é aquela que vem chegando? Algo espantosamente belo. É o Biô & Salomé entrando na avenida com uma original fantasia de canudinhos de tomar refresco, das mais variadas cores. A galera delira. Logo atrás, o favorito das crianças: o bloco com o fedido nome de Bosta pegando carona na bateria do Biô. Com o visual quase igual ao Chulé, de caras tampadas, esbaldam-se na avenida. Alguns participantes encaram como terapia. Sei de uma moça que, sofrendo pelo rompimento do noivado, pula nos três dias. Na quarta feira, está livre da dor. E assim, termina o desfile. Meu pai recorda os “chinas” de 29. E reconhece que a prefeitura fez bonito. Dentro de mim, concluo que carnaval tem de ser natural, sem visar prêmios. Mesmo assim, é ali no portão que fico até 1981. Em 82, o desfile é transferido para a av. Deputado Esteves Rodrigues, a novidade da cidade. Naquele ano faço parte da comissão julgadora. E fim. Vão dizer que tivemos outros. Mas, não vi sinal deles. Nunca mais ouvi um batuque ao longe. Cadê o Marciano? Nunca mais veio. E o Carnamontes? Sendo temporão, não é carnaval. Podemos celebrar o Natal em outubro? E festas juninas em dezembro? Não. Carnaval tem significado cultural e vem antes da Quaresma. De outra forma, é outra festa. Hoje, em casa, abro uma cerveja e faço um brinde a todos os carnavalescos que embelezaram minha vida. Lamento que os atuais foliões prefiram não sair por falta de verba da prefeitura. Sem competição, não brincam. Que pena. As crianças de hoje, nem terão do que sentir saudade. Feliz eu sou por ter tantas lindas lembranças. Na internet, encontro um site com as melodias de outrora. E canto junto, revivendo os velhos inesquecíveis carnavais: “Todos eles, estão errados, a lua é dos namorados.”

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