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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Mane Factótum Alberto Sena ‘Mané Quatrocentos’ era divertido. Alegria em pessoa. De estatura baixa, mas de compleição forte, parecia um touro. Tinha cabeça grande, era Inteligente e possuía raciocínio rápido. Tinha olhos verdes cor de cana caiana. O dia inteiro, ele andava pelas ruas de Montes Claros levando um machado ora no ombro ora numa das mãos. Ele era um tipo factótum, quer dizer, pau para toda obra. Se fosse para rachar lenha, lá estava Mané com a maior disposição. Se fosse para abrir uma cisterna, olha ele lá, com picareta, pá, o que fosse preciso. Mané costumava ficar parado na esquina das ruas de Montes Claros olhando para cima. As pessoas, curiosas como são, paravam do lado dele e ficavam querendo saber o que estava espiando. Num certo momento, Mané apontava alguma coisa e as pessoas olhavam e como nada havia, ele dizia ao mesmo tempo em que estalava a língua e dava uma dedada com o dedo indicador no gogó: ‘Ulalaica`. E disparava a rir. ‘Mané Quatrocentos’ foi uma das mais incríveis e intrigantes ‘figuras humanas’ concebidas em Montes Claros do século passado. Ele faz parte da história da cidade, entrou para o folclore do arraial e hoje vive na eternidade. Mas quem era mesmo esse homem que alegrou nossos corações e povoou o imaginário de tanta gente? Raphael Reys conta que ‘Mané era apaixonado pela naturalista Luz Del Fuego, dona de uma estância de nudismo em Niterói!’ Ele teria ido lá e ao voltar contava ‘as suas fantasias com a musa; Mané gostava também da cantora mexicana Sarita Montiel’. Ver Mané cortar toras de lenha era bom passatempo para as crianças. De cima do muro, elas viam e ouviam o som que Mané deixava escapar ao desferir as machadadas: ‘rã, rã, rã’; e o machado nas toras fazia ‘crás, crás, crás’. As crianças ficavam intrigadas com esse som emitido por Mané. Elas se perguntavam: ‘realmente tinha necessidade disso?’ Em casa, no quintal, havia quem o imitasse rachar lenha, só para concomitantemente soltar o ‘rã’ e ouvir o ‘crás’ do machado na madeira. Para as toras de lenha mais resistentes às machadadas, Mané dava um tratamento especial. Usava cravo de ferro, desses fincados em dormentes da linha férrea, e com o lado contrário do machado, o enfiava na tora, que logo se abria em duas num ‘crás’ mais acentuado. Podia-se dizer que ele era uma mistura de Carlitos e Oscarito? Para ser Carlitos, Mané precisava só da cartola e dos sapatos de palhaço. O machado, companheiro inseparável, podia fazer vezes de bengala, porque a estatura física, o gingado no andar e a malemolência, além, claro, da simpatia cativante e criadora de laços afetivos, tudo isto de Carlitos ele tinha. De fino trato, Mané se referia às mulheres como ‘muchachas’, e sempre com um sorriso ‘a la Clark Gable’. Era uma alma boa, não fazia mal algum a ninguém, mas ainda assim, Maria Lopes, quando criança, tinha medo dele, mas com o tempo, ela mudou de opinião. Quando voltava da Escola Normal, sempre arranjava um jeito de conversar um pouco com ele ali nas imediações da Catedral. Para Dorinha Colares, Mané era uma figura internacional e volta e meia saía com um castelhano: jo non tengo la mínima inspiracion de non ter estiudado desde de la pequenito... Ou até mesmo um inglês macarrônico. Clareth Dantas se recorda muito bem de ter convivido com Mané na casa de Raquel Chaves, sua vizinha durante anos, no bairro Roxo Verde. ‘Eram horas de brincadeiras, e muitas risadas daquele baixinho de olhos claros, sempre vestido com terno amarrotado’. Mané dava sinais de ser dotado de certa instrução. Se não tivesse o costume de ler, era de se imaginar que pelo menos tivesse capacidade de absorver cultura devido aos bons ouvidos e a memória boa. Uma das coisas que Tico Lopes tem no currículo e se orgulha foi de ter representado Mané no showçaite, ‘com direito a lentes de contato verde cana, bigode e machado no ombro’. Raquel Chaves, Itamaury Teles, Wanderlino Arruda e Raphael Reys entre outros já escreveram sobre Mané. Mas muito mais se deve escrever sobre ele, que há mais de 30 anos faz parte do mundo dos ‘mitos antigos e o homem moderno’ de que trata o psicólogo e filósofo suíço Carl Gustav Jung, em ‘O homem e seus Símbolos’.

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