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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Uma estrela vagalumeia no céu Alberto Sena Numa noite do ano de 1983, em Montes Claros, Mané Quatrocentos foi arrebatado por plêiades do agrupamento das sete estrelas visíveis a olho desarmado, as do aglomerado galáctico aberto situado na ‘Constelação do Touro’. Sem que ele soubesse, evidentemente, as plêiades teceram meticulosa rede de luzes e abduziram-lhe a alma. Enquanto o fenômeno acontecia, igual na fita de cinema, Mané não tinha clareza dos acontecimentos. Na cabeça dele passava a seguinte questão: ‘Quem apagou a luz do mundo?’ Mané não sabia aonde se encontrava. Mas sentia-se flutuar, suavemente, como a pluma navega as águas do ar. Nesse momento, mesmo se ele tivesse um rasgo de consciência, não seria capaz de distinguir o enlace das plêiades. Deslumbrado com as luzes, Mané refletia aos borbotões e considerou-se envolto por miríades de vagalumes. E enquanto sentia o enlevo da alma, ele apreciava do alto os cupins do sertão forrados de reluzentes insetos incandescentes. Uma noite de luzes e de festa. Convidados, os ricos e os miseráveis, os negros e os brancos, os feios e os bonitos, os atletas e os portadores de deficiências, todos envergavam roupas de gala. Ao fundo se ouvia a batucada dos catopés e a cantoria das pastorinhas. E Mané se foi distanciando de sua relação telúrica com o planeta. A caminho da vida plena, não tinha noção de que vivia o derradeiro sonho. A alma de Mané foi ocupar o lugar que lhe é de direito em algum ponto do alto cosmo. Há quem esteja certo de que a estrela, aquela que na madrugada emite luz parecida com o pisca-pisca de vagalume, seja ele. Mas certo tempo antes do encantamento de Mané, Raquel Chaves, iniciava romance com PN. Ela morava no Bairro Roxo Verde e trabalhava como telefonista. Tinha amizade e admiração por Mané. ‘Ele morreu na casinha dele, no Alto São João, enquanto dormia’, contou. Para velar o corpo do amigo, na Igrejinha do Rosário, ela vestiu ‘um dos mais lindos vestidos, todo branco’, ao ponto de provocar ciúmes paternos de João Chaves: ‘Nossa! Até parece que está indo para um baile!’ Raquel ficou no banco da frente, na igrejinha, bem próximo de Mané. E enquanto via gente chegar para reverenciar o corpo, ela se recordou da quantidade de alegria que ele trazia até nos bolsos do surrado paletó. A alegria de Mané vinha de todo jeito. Estava no sorriso; na maneira de falar – ‘ulalaika!’ – e também no modo de caminhar. Embora parecesse um touro, pisava leve. Foi até comparado por PN com Carlitos, o universal personagem de Charles Chaplin. Quando morava no Roxo Verde, Raquel amava Mané como um ser humano singular que ela tinha o prazer de receber para almoçar a fim de ouvir e participar das suas alegrias, mesmo que às claras o rosto dele estampasse as agruras da vida. Ela se lembrou também do quanto Mané era importante nas danças folclóricas. E das vezes que passava na casa dele juntamente com PN para ver como ele estava. Mané foi sepultado no Cemitério do Bonfim. Como dão conta notícias recentes, típicas deste mundo dos mortos-vivos, vândalos teriam danificado o túmulo dele e roubado uma placa de bronze. Quando não estava rachando lenha em domicílio, Mané usava terno e gravata e mostrava-se elegante, sabia se vestir e tinha comportamento fino, de quem um dia frequentou ambientes sofisticados. Virgínia Abreu de Paula se recorda como se fosse hoje das vezes em que Mané participou de danças folclóricas. Ele era figura importante e fazia o papel da ‘Cacicona’ dos ‘Caboclinhos’ nas festas de agosto. ‘Era uma ‘cacicona’ impagável, tão engraçada’, conta Virgínia. Com a morte dele, ninguém mais o substituiu à altura. ‘Uma boa ‘cacicona’ tem de ser um homem vestido de mulher, e Mané fazia isso como ninguém, ator que era e grande improvisador’. Virgínia conta mais: ‘No documentário ‘Anibal, um Carroceiro e Seus Marujos’, de Paulo Henrique Souto, Mané foi escolhido como o apresentador e não foi preciso instruí-lo, ele sabia perfeitamente o que dizer. Ficou espetacular! A parte dele na filmagem foi feita lá em casa, numa belíssima manhã de agosto, que lembro com alegria’. Ele gostava de todas as divas do cinema. Destacava, entre outras, Gina Lollobrigida, Elizabeth Taylor e Sophia Loren. Certa vez, ele disse a Virgínia ter conhecido Sophia Loren, pessoalmente, com quem tinha dançado o ‘tuíste’ num programa da BBC de Londres. ‘Além da dança, segundo ele disse, cantarolou com ela uma melodia, mas não disse qual’, contou. Em tempo: O velório de Mané foi custeado por PN e Afonso Brant. O terno dele ‘era de Paulinho’, segundo Raquel.

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