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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: ESBOÇO DE KONSTANTIN  Haroldo Lívio  O romancista Santos Moraes, crítico literário do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, e detentor do Prêmio Machado de Assis, conferido pela Academia Brasileira de Letras, mostrou a Herman Lima, autor da História da Caricatura no Brasil, alguns desenhos do nosso artista Konstantin, publicados na Revista Encontro. O historiador gostou imensamente do traço de Konstantin e pediu ao romancista que conseguisse na fonte, quer dizer, no ateliê do caricaturista, em Montes Claros, exemplares de outros trabalhos assinados por K. Ch., para publicação no próximo volume de sua obra, que é considerada a enciclopédia da caricatura. Pouco tempo depois, numa bacalhoada de Sexta-Feira Santa, em 1964, na casa de Santos Moraes, fui incumbido por ele de conseguir de Konstantin os trabalhos solicitados pelo historiador carioca. Retornando, transmiti o pedido ao grande caricaturista, que se mostrou sensibilizado com a atenção despertada por suas criações, principalmente por ter sido reconhecido por um historiador de renome nacional, e respondeu-me que iria providenciar o envio dos desenhos solicitados. Caiu, porém, no esquecimento.  Até ontem, não tive notícia de que a encomenda tenha chegado às mãos de Herman Lima. Já se passaram quase dez anos. Konstantin Christoff é assim mesmo. Poderia, se quisesse, ser um artista de fama internacional, pois o que não lhe falta é imaginação fecunda, gosto apurado e muito fogo para suas traquinices de caricaturista, quando dá tudo de sua criatividade no trato de tons, de imagens e de formas, despertando emoções adormecidas e provocando risos. Por mal dos pecados é um artista de venetas. Quando se pensa que ele vai fazer um montão charges para a revista, ele sai de circulação e vai operar em outro ramo; no bico-de-pena, mo carvão, na aquarela, ou então se transvia pelo labirinto da escultura. Faz a sandália do tropeiro para o trevo do aeroporto, modela sua mansão, esculpe a mater dolorosa para o monumento à Irmã Beata. Espírito irrequieto, indócil, devia se chamar Inkonstantin, no que tange às artes. Porque, quanto ao homem de bem e médico virtuoso que exemplarmente é, o próprio povo de Montes Claros é testemunha de sua perseverança. Muito antes de gozar de sua amizade, no convívio da confraria da revista, já admirava sua personalidade singular. Minha geração de ginasianos do extinto Colégio Diocesano o via com olhos de secreta inveja, como modelo do jovem humilde que soube romper barreiras na luta pela vida e vencer com a flama de um campeão olímpico. Invejávamos sua peculiaridade de pessoa diferente das pessoas comuns. A carreira de médico jovem e vitorioso na arte de curar. O seu estilo de vida. A cidadania de jardineiro búlgaro, que lhe dava um ar de aventureiro. O seu carro conversível, que era o único da cidade. Os cães de raças exóticas. O cachimbo de raiz de roseira sempre fumegante e exalando o aroma do tabaco importado. De todos os detalhes de sua personalidade fora de série, o que mais excitava nossa imaginação juvenil era o murmúrio de que ele desfrutava da primazia de ser o único fotógrafo amador da cidade que focalizava o nu artístico. Sua câmera documentava, para a posteridade, a beleza plástica das cortesãs daquela época, os primórdios da década de 1950. O moço era um árbitro do bem viver. E assim foi, pintando, rabiscando caricaturas, fotografando, filmando, salvando vidas com o bisturi, que foi mudando com  a idade. Viu-se, aos poucos, transformado; feito bom burguês, casado, com família nas costas, de pijama e chinelos, completamente domesticado. Para encerrar o fenômeno de sua desmitificação, acabou, solenemente, recebendo o título de cidadão brasileiro naturalizado. (O Jornal de Montes Claros, 27.05.1973)

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