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Mensagem: Apelo aos montesclarenses Ruth Tupinambá Graça Montes Claros, Montes Claros, Terra de grande beleza Começou no Arraial de Formigas, Transformou numa linda Princesa Oh! Minha querida Montes Claros! Estão querendo sacrificá-la tirando sua maior beleza, suas serras, seus montes, enfeando-a e descaracterizando sua origem. Acordem montesclarenses, já dormiram bastante. Alertem os companheiros, os vereadores, os deputados da nossa região, a Administração Pública e órgãos responsáveis pela ordem e proteção da nossa cidade. Ainda não sentiram o que estão tramando contra um patrimônio que precisa e deve ser preservado? Não deixem que estraguem os nossos montes, principalmente a Serra do Mel. Não deixem que casas e prédios subam morro acima, como verdadeiras feridas prejudicando a área de preservação e destruindo o verde do cartão postal da nossa cidade. Já pensaram no que poderá acontecer futuramente? Devemos nos preocupar, não só pelos loteamentos em questão, mas com a proteção da parte hidrográfica e com os efeitos negativos que virão pela ocupação aleatória das terras na parte alta das serras. A natureza é sábia, se vinga e com as enchentes tudo poderá acontecer. Uma inundação pode se tornar uma catástrofe: a cidade não terá estrutura suficiente para controlar tamanho desastre. Não sou contra o desenvolvimento da nossa “Princesa”, pelo contrário, fico muito feliz vendo-a crescer, dia a dia. O que não me conformo é com a omissão dos Administradores, por não resolverem os problemas políticos e sociais, bem assim a falta de sensibilidade e amor de certas Empresas Construtoras que, em exagerada ganância, extrapolam as áreas normais e seguras para construções. Agora apelam pelos loteamentos em nossos claros montes que numa linha sinuosa tão perfeita e bonita contornam toda a cidade, fazendo milenar contraste com o céu de um azul tão lindo que só Montes Claros possui. E, sob esta má influência, a cidade está se descaracterizando. Está crescendo, é um fato, embora desordenadamente, pois não há um projeto geral de edificação. Edifícios subindo por todos os lados, condomínios luxuosos com magníficas mansões surgem - como num passe de mágica - em vários bairros, mas, infelizmente, a querida urbe está em crise, principalmente na saúde e na educação. É triste chegar a esta conclusão: hospitais fechando, sem verbas, falta de leitos e médicos, macas ao chão com doentes morrendo nos corredores. Na educação, ensino insuficiente. Faltam escolas e professores e o analfabetismo continua crescendo. Alunos rebeldes e até drogados não respeitam os professores, ameaçando-os. Com armas, inclusive. A violência aumenta dia a dia. Ladrões e assassinos dominam. Às vezes, até a própria policia. A população, insegura e apavorada, se isola por trás dos altos muros e cercas elétricas. Enquanto o cidadão sofre, os bandidos andam soltos, sentindo-se donos do “pedaço”, esnobando, pois sabem que nunca ficarão presos. A limpeza pública deixa muito a desejar: ruas sujas e esburacadas. O lixo se acumula nos passeios em péssimas condições, dificultando a passagem dos pedestres. Mas não devemos culpar só a Administração Pública e outros Órgãos responsáveis. A Comunidade também é culpada e tem obrigação de cooperar e ajudar. Existe muita falta de educação. Pelas ruas, amontoados de garrafas vazias, copos, papéis de balas e biscoitos jogados pelo chão. Porque não os depositam nos engradados próprios? Deixam displicentemente para a limpeza pública. Vamos todos cooperar e ajudar, montesclarenses! Uma andorinha só não faz verão.Tomem conhecimento da realidade e não deixem que a Rainha do Norte se transforme em Rainha do Lixo. De que vale tanto luxo, e tanto empreendimento se é outra a realidade da nossa cidade? Se não agirem, com presteza, vencerá o velho ditado: Por cima filó, filó. Por baixo, molambo só. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).
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