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Mensagem: O BODE DE CHICO PRETO Desmamado em um catimbó do Maranhão, o citado caprino foi trazido como encomenda a nossa urbe, para servir aos ritos do Vodu da casa de santo do babalorixá Chico Preto. Criado a pão de ló e com todo dengo que compete o seu “status”, tem a cama em que dorme dentro de uma camarinha. Como já participou de muitos e tantos ritos de Ebó, adquiriu a “subjugação” do ente chefe da casa. Volta e meia e estando fora da função ritualística, apronta e faz bagunças na circunvizinhança do Bairro Doutor João Alves. Quando está na baixa veia libidinosa caprina, bota gente prá correr! Certa feita, carente de mimos degustativos e melindres, o bode de Chico Preto, como é também chamado, foi parar em uma frutaria localizada na Ponte Preta (sob a linha férrea). Não sendo ente humano e como não carrega dinheiro de qualquer espécie, chegou na maior cara dura subiu na banca e devorou maçãs, peras e outras gostosuras. O proprietário, sabedor das artes da além fronteira de onde o invasor é originário, tomou cuidado. Defendeu-se, colocando uma cesta de frutas em definitivo à entrada. Nela afixou uma placa: “Repasto do Zebedeu!” Ficava assim posta e em definitivo, para quando bem o aprouvesse e a sua disposição, a refeição “light” do respeitado personagem de chifres citado... O fato mais notório, entretanto, se deu em uma boca de noite de um “Sabatto” na casa. O gongá preparado para a função, a hierarquia a postos, filhos e filhas de santo na roda quando entra um evangélico bramindo uma bíblia e ameaçando parar com tudo. Desafiou o chefe do culto a lhe provar que aquelas almas invocadas existissem, produzindo uma manifestação. Uma via de fato! O babalorixá exigiu respeito à casa, ao culto, ao livre arbítrio religioso, aos símbolos autorizados e registrados, o que eles representavam, aos presentes e convidados da noite. O invasor, entretanto, estava possuído da macaca urbana, coceira no “fiofó” e não deu bola para o que disse o xerife da casa. Mestre Chico acabou aceitando o desafio. Mandou buscar o Bode Zebedeu na camarinha e o colocou em frente ao desafiante. Ato seguinte iniciou o diálogo: - Se o bode conversar racionalmente, o senhor se dá por satisfeito e vai embora, evitando até que eu perca a paciência e lhe dê uma vassourada na cabeça? O enfeitado invasor, fazendo boca de muxoxo e ar de môfa replicou, em resposta: “Prá mim, está de bom tamanho!” Ato seguinte, o caprino, atuado pela entidade do Ebó, ficou em pé sobre as patas traseiras, tomou uma postura arrogante e disse rilhando os dentes: “Se você demorar mais um minuto aqui, vou comer o seu terno engomado como sobremesa, seu palhaço enfeitado!” O mijo quente e ácido, aliados a dejetos líquidos jorrou pernas abaixo do invasor, numa cena grotesca e laxativa! Temido por uns, evitado por outros, quando circulava no bairro Doutor João Alves e adjacências, capitaneando e desfilando com um seleto séquito de quinze fêmeas popusudas. Como era cabeceira e posudo “rompia na frente” do séquito, com seu grande e enrolado par de cifres. Abria caminho e provocava arrepios! Certa feita resolveu bagunçar o coreto. Entrou em um armarinho próximo ao terminal Rodoviário e para pirraçar um comerciante, que era um tremendo chato de galocha, mastigou uma peça de roupa do mostruário. O homem estava num dia de cão, com a bílis a flor da pele e, enfurecido, apanhou o treisoitão. Saiu porta afora e, espumando de ódio, despejou a carga de balas no famoso caprino de Ebó. Pois as seis pitombas de chumbo quente caíram sem força aos pés do bicho batizado no Vodu... Dizem os iniciados nos ritos afro/catimbós que a grossa corda de sisal usada para amarrar o bode Zebedeu no pegí, durante os rituais, fora confeccionada nos Hades. Isso mesmo que os senhores leram: nos Hades! O artesão que a trançou é o mesmo que fez a corda que amarra o barco de Caronte às margens do Rio Letes. Daí dá para ver que o bode não era pouca coisa!
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