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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 18 de maio de 2024
 

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Mensagem: As mangas de tia Geraldinha Alberto Sena Tia Geraldinha era casada com tio Geraldão. Ela era irmã mais velha de mãe Elvira. Tia Geraldinha morava na Avenida Cula Mangabeira, logo atrás de onde é atualmente a Prefeitura de Montes Claros. Ir à casa de tia Geraldinha no início da safra de manga, entrante o mês de dezembro, era uma delícia! No quintal da casa dela tinha pés de manga comum, espada e carlota. Sempre gostei mais de manga comum. É mais saborosa. A manga espada não era tanto do meu agrado. E a manga carlota também não. Então, enquanto os meus irmãos subiam nos pés de mangas espada e carlota, eu trepava no pé de manga comum e só descia com a barriga estufada. Atrás da casa de tia Geraldinha ficava um pasto e nós o chamávamos de “manga de Zeca Guimarães”. Logo nas proximidades da cerca que dividia o quintal e o pasto havia um pé de jenipapo. Toda vez que o menino ia a casa dela aproveitava e, furtivamente, corria ao pé de jenipapo. Sempre achava um ou dois no chão. Jenipapo é uma delícia. Tem aparência de bócio, aquele papo que dá na pessoa carente de iodo. O fruto quando está maduro é como o pequi, cai. Fica meio enrugado. Sempre gostei de jenipapo. Retirava com todo cuidado a película da cor de burro quando foge que o cobre e em seguida as tiras comestíveis ao redor do miolo de caroços. Tia Geraldinha fazia deliciosos doces de mocotó de boi. Ela ia ao frigorífico Otany, logo abaixo da casa dela, e encomendava os mocotós de boi. Cozinhava tudo e depois fazia o doce que na realidade era geléia preta. Quando a geléia estava pronta, tia Geraldinha punha tudo em forminhas redondas. Na cozinha tinha uma mesa onde ela punha as forminhas e as deixava lá para esfriarem e depois entregava no comércio da cidade. A geléia de mocotó que tia fazia tinha saída garantida. Toda vez que íamos lá ela nos dava quantas geléias aguentássemos comer. Como era alimento rico e forte, cada um de nós comia duas, no máximo. Tia sofria acessos. Ela estava bem conversando com a gente quando, de repente, começava a revirar os olhos e caía no chão. Acho que era epilepsia. Tínhamos que gritar Geralda Helenice, Dinha chamada, filha dela, nossa prima. Dinha vinha correndo acudir. A nossa tia era uma alma boa. Às vezes eu ficava olhando para ela e a achava frágil como um passarinho. Talvez a achasse assim porque ela era doente. Acho que tia Geraldinha não podia ter emoção ou contrariedade que passava mal. Nenhum de nós conheceu os avôs paternos nem avós maternos. Eles morreram cedo. Ficaram os tios e as tias por parte de mãe, porque por parte de pai não tivemos tios, ele era filho único. Os nossos tios eram: Abel, mestre de obras, participou da construção da Catedral de Nossa Senhora Aparecida de Montes Claros; Severo, que era meu padrinho, farmacêutico prático, morava em Jequitaí; Geraldinha, mãe Elvira e Ambrosina, nessa ordem. Havia outro tio nosso, Vicente, que nem o conheci pessoalmente. Ele morava em Bauru (SP). Ele e tia Ambrosina eram gêmeos. Outro tio, de nome José, havia morrido afogado num rio lá no Rio Grande do Norte, quando ia para a guerra, na Itália. Tínhamos só o retrato dele vestido com a farda do Exército. Um dia tio Abel morreu. Estava trabalhando nas obras do Parque Municipal de Montes Claros. Foi doença de Chagas. Depois tia Ambrosina morreu de repente no quintal da casa dela. Passou um bocado de tempo, mãe também morreu, em Belo Horizonte. Em seguida foi a vez de tio Severo, lá em Jequitaí. Tia Geraldinha morreu por último. Logo a que era considerada doente. O tempo passou e nem sei se a casa de tia Geraldinha ainda existe. Sei que acabaram com o frigorífico Otany há muito tempo. Do frigorífico saía mau cheiro que se espalhava por toda nossa região, sempre no final da tarde. Durante o dia, juntamente com os amigos, estilingue no pescoço, como se fosse uma corrente, nós entrávamos nas dependências do frigorífico a fim de caçar rolinhas e ficávamos lá observando o congresso de urubus. Eles se reuniam ali todo dia e o dia inteiro. Os urubus ficavam esperando o momento em que as vísceras de bois abatidos eram jogadas fora. Nessa hora, os urubus faziam a maior algazarra. Eles soltavam chiados em meio ao bater de asas, cada um querendo tomar para si o bocado maior de tripas. Nós não víamos, mas sabíamos que lá no frigorífico Otany as reses iam cabisbaixas para o abatedouro e num determinado ponto do corredor da morte, elas eram surpreendidas com uma marretada no meio da testa. Grogues, as reses eram penduradas em ganchos e abatidas com uma punhalada no coração.

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