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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 22 de novembro de 2024
 

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Mensagem: As diferenças entre o viver daqui e o de lá Alberto Sena São várias as diferenças entre a Rua Cristiano Rello, em Grão-Mogol, no Norte de Minas, cidade de pouco mais de sete mil habitantes na área urbana, e a Região da Savassi, em Belo Horizonte. A Rua Cristiano Rello é toda fechada para o tráfego de veículos. Na Savassi é grande a quantidade de carros no vaivém diário pelas avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas. A Rua Cristiano Rello é constituída de casarões do século XVIII, em estilo colonial, de portas e janelas coloridas, e o conjunto arquitetônico sem igual esbanja poesia. Cada uma daquelas casas tem histórias mil para contar; se as paredes falassem, o vozerio delas seria inaudível para tanto acontecimento desde quando a cidade surgiu em decorrência do garimpo de diamantes. A Savassi surgiu no século passado. Não possui casarões antigos, coloniais. Lá, algumas das casas mais antigas art déco, onde hoje são lojas, foram tombadas pelo Patrimônio Público. A Savassi passa por requalificação, feita a passos de tartaruga, o que deixa descabelados os comerciantes, inda mais em época tida como a melhor do ano para as vendas. Na Rua Cristiano Rello a poesia tem cheiro. O cheiro perfumoso fica no ar e exala da loja de secos e molhados de Antônio Pádua Bicalho. Ele vai ao interior da loja e volta com um copo plástico meio suspeito na mão contendo cachaça. Diz: “Esta é da boa”. Retorna. Vaivém. Conversa com um, conversa com outro, exercita a memória de elefante, o seu mais rico diamante. Ao que consta, a Savassi não possui Bicalho nenhum. Mas possui um Ronaldo Brandão, jornalista, cinéfilo, a maior autoridade em cinema de Belo Horizonte. Ronaldo pode ser o Bicalho da Savassi e o contrário pode ser também a mesma coisa, guardadas as preferências pessoais e intelectuais. A Rua Cristiano Rello tem o boteco do Tone, que serve cerveja geladíssima para ser sorvida debaixo do sol de verão de Grão-Mogol, degustada com feijoada completa ou linguiça no palito. Para quem aprecia feijoada, a do boteco do Tone, para ser completa precisa só de lascas de madeira da pocilga. No bar do Tone a liberdade é total, quem quiser pode até assumir a cozinha, basta dobrar as mangas da camisa e fritar linguiça para consumo próprio. Na Savassi, o comportamento é outro: se alguém se senta à mesa dos bares, cafés ou restaurantes logo um garçom uniformizado vem saber o que o cliente quer. Cheio de cerimônia, e de olho na gorjeta, o garçom se esforça para ser agradável e prestativo. No bar do Tone, e nos demais bares da Rua Cristiano Rello são os donos, propriamente, que atendem os fregueses. E correm para lá e correm para cá, com cara de que bebem quase todas enquanto atendem um e outro, os que gritam o seu nome. Na Rua Cristiano Rello há comércio de eletrodoméstico e de quase tudo, até mesmo sorveteria para espantar o calor tem lá. Na Savassi há pontos onde se reúnem intelectuais em livrarias. Lá é a região da capital onde há mais livrarias. E nos sábados, pintores de quadros incríveis e de estilos variados se reúnem para vender suas obras num corpo a corpo salutar com os apreciadores das artes plásticas. Na Rua Cristiano Rello não há livraria. Mas em compensação, num determinado dia e numa determinada hora, com sorte o cidadão grãomogolense, corre o risco de dar de cara num interior de botecos ou mesmo nas portas, sentados à mesa de plástico amarelo, personalidades estimadas como Lindolfo Paolielo, empresário, jornalista e escritor; Paulo César Callado Souza, arquiteto; Rúben Veloso, economista e consultor; Marcos Bemquerer, empresário; Helinho Faria, publicitário; Antônio Dias, ex-deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas, ex-prefeito de Francisco Sá, fazendeiro e dono de emissora de rádio; Paulo Narciso, jornalista e também dono de emissora de rádio; e Murilo, da Receita Federal, lotado em Bocaiúva. Como na Rua Cristiano Rello tudo pode acontecer, mais até do que acontece na Paris de Lúcio Bemquerer, para completar é possível ao espectador sentado à porta do boteco do Tone ver passar o historiador, cronista e escritor Haroldo Lívio, devidamente acompanhado da sua Maria do Carmo e uma das filhas, numa manhã de sábado de sol quente. Haroldo possui casa em Grão-Mogol, onde ele se refugia sempre para se livrar do estresse de Montes Claros, transmudada em metrópole. Por tudo isto e por muito mais que não foi contado, a Rua Cristiano Rello ganha disparado da Savassi, onde a vida corre em velocidade alta. Em Grão-Mogol, ao contrário, a vida vai pachorrenta, pode até ser apanhada em flagrante através de uma janela ou duma porta aberta de um dos seus vários casarões feitos de pedras seculares.

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