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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 22 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Como eram as eleições municipais José Prates As eleições municipais estão chegando e as crônicas de Waldyr Senna falando sobre os possíveis candidatos à Prefeitura de Montes Claros, me fazem lembrar a eleição de 1955, única em que participei ativamente como candidato a vereador e, também, com entusiasmo, na campanha do Doutor Alpheu Quadros, candidato a Prefeito pelo PSD em oposição ao candidato do PR de “Seu” Lupinho, patriarca da família Lopes Martins que tinha o apoio da UDN, de pequena expressão em Montes Claros. Nessa ocasião a campanha mais forte era no interior do município, nas fazendas e nos distritos onde se concentrava o eleitorado que os políticos chamavam de “mandiocal”, onde os eleitores não conheciam partidos políticos: votavam cegamente em quem o caudilho mandasse. Nos mandiocais estava a força do apoio dos fazendeiros donos do lugar, formando o caudilhismo que dominava a politica. Durante a campanha, lá íamos nós, eu, Deba, Neco de Santa Maria, Dr. João F. Pimenta trepados num jeep, por esse mundo a fora, enfrentando todo tipo de estrada. Em cada lugar um comício, geralmente à noite, no largo da Igreja, onde juntava gente vinda dos arrabaldes, com roupas domingueiras, trazida pelo chefe político do lugar. Eu era o orador oficial da campanha e já tinha de cor o que falar no comício, sem mudar nada. No discurso “de improviso”, atacávamos o adversário político, sem, contudo, ofendê-lo. Não queríamos criar um clima de animosidade entre nós e eles porque após as eleições, como dizia o Dr Alpheu, seria necessária a convivência tranqüila entre os partidos, seja qual fosse o vencedor, para uma boa administração municipal, pois, naturalmente, um necessitaria do outro na solução de muitos problemas. Na verdade, isto acontecia com freqüência nos municípios interioranos, distantes das autoridades governamentais. Só a união desinteressada dos chefões, era capaz de resolver os casos mais difíceis. Essa já não era mais a chamada “eleição a bico de pena” que já havia ficado para trás, mas, ainda havia algumas irregularidades como pessoas que votavam três, quatro vezes, usando o titulo eleitoral de gente morta. Não havia fiscalização. O título não tinha retrato e ninguém pedia a identidade de ninguém pra conferir. Aliás, diga-se de passagem, que usar identidade não era habito naquele tempo e poucos a possuíam, porque, cidade pequena onde todo mundo conhecia todo mundo, identidade nunca foi necessária no dia-a-dia das pessoas. Eu me lembro quando fui removido para aqui, Rio de Janeiro, em 1957, primeiro vim sozinho, depois veio minha família. Quando vim, de trem, trouxe a identidade trancada na mala. No hotel em que me hospedei, hotel humilde, perto da Central do Brasil, quando fui preencher a ficha, pediram-me a identidade. Para espanto do empregado que fazia a ficha, tive de abrir a mala para apanhar o documento. Era assim. Então, era fácil um eleitor fazer-se passar por outro, sem problema. Houve, até, um caso hilário numa seção eleitoral do Grupo Escolar Gonçalves Chaves quando um jovem foi votar. Apresentou o titulo e o mesário foi conferir o nome do votante. Chamou o eleitor e perguntou-lhe ao ouvido, quando ele havia mudado de sexo, porque o titulo eleitoral era de uma mulher. Geralmente, esse procedimento era de jovens, muitos sem idade para votar legalmente. Não havia uma repressão sistemática porque não era um único partido que assim procedia, mas, todos eles, principalmente os mais expressivos, que eram os donos do eleitorado. O “eleitor da roça”, então, de eleição nada entendia. Vinha carregado nos caminhões, dirigidos pelos cabos eleitorais e eram deixados concentrados em lugares como o estádio João Rabello ou o Casemiro de Abreu e de lá saiam escoltados de cédula eleitoral na mão até a seção onde votavam. Em quem votou, não se interessava em saber. Foi “seu” fulano que mandou. São sessenta anos passados, tudo mudou. A mentalidade do povo evoluiu; a lei eleitoral é outra e o cidadão adquiriu consciência política. Os currais eleitorais desapareceram. Ainda existe, em muitos lugares, o voto de interesse, mas, consciente, geralmente visando o beneficio do lugar ou proteção a empreendimentos. O voto cego, sem saber em que está votando, deixou de existir. É coisa do passado, graças a Deus. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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