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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 25 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Um Casal Inesquecível Ruth Tupinambá Graça A poeira dos tempos cobre os fatos com o manto do esquecimento. Mas uma velha que vive debruçada sobre o passado, com seu espanador indiscreto, remove as tecidas teias de aranha, pondo em evidência o que aconteceu. Numa tarde de sol, quando Montes Claros era apenas uma cidadezinha do interior longe da /civilização e esquecida, plantada no coração das Gerais e o trenzinho de ferro nosso melhor e único transporte trazia sempre muita gente boa , certa vez trouxe um guapo rapaz de cabelos pretos pele e olhos claros (característica do estrangeiro ) boa postura, que vinha como um bravo desbravador lusitano, deixando transparecer em seu rosto bem jovem, grande coragem, força de vontade e energia., característica de sua raça. Eu me lembro perfeitamente, era também jovem, estudante naquele “Casarão” decadente, prédio da antiga Fafil, mas muito acolhedor, e entre a camaradagem das colegas ávidas de “novidades e fofocas” ouvi este comentário: _”Fiquem sabendo que chegou um português p-ara as “Casas Pernambucanas”.Veio como gerente da mesma e é um tipo para ninguém botar defeito. Bom partido e se chama Arthur Loureiro Ramos”. Na simplicidade de expressão sem maldade e no entusiasmo da juventude a colega lançou uma “bomba”! Naquele tempo em que as “Evas” se queixavam da falta de “Adão” na nossa cidade, poderão imaginar o que significava aquela noticia alviçareira. E coitado do Português !... As candidatas se alvoroçaram cheias de pretensões numa disputa ferrenha. Ele tornou-se logo conhecido.Era bonito, elegante, forte e muito educado. Freqüentava os “saraus” e as festas em casa das famílias (não existiam Clubes Sociais em nossa cidade) dançava muito bem, cantava “fados” com bonita voz, e isto mais encabulava as donzelas da nossa sociedade. Adaptou-se logo no meio comercial e possuindo experiências dos grandes centros civilizados se estabeleceu por contra própria, fundando a grande loja “Casa Ramos”o melhor e maior estabelecimento comercial de nossa terra com as mais modernas mercadorias. Trabalhador e simpático Conquistou logo a freguesia e todos o chamavam Seu.Ramos. Trouxe para nossa terra os dois irmãos José e Antônio Ramos e os três juntos ficaram famosos dominaram o comercio enriqueceram. Mais tarde seu Ramos sentindo saudade da família foi passar suas férias em Portugal. E o que aconteceu para surpresa de todos? Meses depois Seu Ramos chegou em Montes Claros casado com uma bonita portuguesinha. Foi aquele comentário...todos queriam tirar a limpo como aquilo acontecera pois ele deixara aqui uma namorada que o esperava com muita saudade Mas ele se apaixonou pela Fernanda.Foi amor a primeira vista. Casaram-se e ainda na “lua de mel” vieram para Montes Claros. Todos aqui estavam ansiosos para conhecer a esposa de Seu Ramos pois aqui era raríssimo se aportar um estrangeiro. Naquela época ainda existia a Igrejinha do Rosário, na Praça Portugal elá eu assistia a missa aos domingos. Numa dessas manhãs eu estava contritamente rezando o terço (antes de começar a missa )quando uma senhora, ao meu lado virou para a companheira e disse: --“Olha quem está entrando, é a portuguesa esposa do Seu Ramos !.. Eu levantei os olhos e vi realmente uma mulher diferente. Ela entrou na Igreja percorrendo o espaço até o altar e com voz firme com o sotaque estrangeiro ela cumprimentou o Padre Marcos que era o vigário da nossa .Paróquia. Ele estendeu-lhe a mão e a conduziu até o banco mais próximo do altar. Todos admiraram aquele procedimento da Portuguesa,pois não era costume nosso cumprimentar o Padre no altar. Ela continuou piedosamente assistindo a missa como se nada tivesse acontecido. Quando saiu pude observá-la. Era uma mulher bastante nova, pele muito clara olhos esverdeados e uma cabeleira cor de mel emoldurando o seu rosto muito corado. Era realmente uma mulher muito bonita e elegante., num traje simples de legitima portuguesa: saia comprida e um autentico xale de estamparia alegre cobria-lhe graciosamente o busto. Com passos firmes ela saiu pela mesma entrada e o Seu Ramos a esperava na porta com um sorriso. Foi um encontro tão bonito!... Eu que acompanhei toda aquela cena, vi que se tratava de uma pessoa muito especial: Era a Fernanda recém-chegada a nossa terra e constatei logo que o Seu Ramos fizera uma excelente escolha. Pensávamos que ela não se acostumaria em nossa terra, trocar Portugal pelo nosso sertão mineiro tão pobre e sem conforto!... Mas o amor vence tudo e só o amor constrói. Ao lado do marido ela se adaptou ao nosso meio tornando-se uma verdadeira filha de Montes Claros,uma filha dedicada e sincera durante toda a sua vida. Eu me casei e fui morar justamente na Praça Portugal onde o casal morava.Tive a felicidade de conviver com a Fernanda e nos tornamos amigas.Os deveres e trabalhos do casamento, a criação dos filhos as exigências da família tornaram-na mais madura . Era agora uma mulher decidida e muito forte nas suas decisões . Inteligente tinha o jeito durão da matriarca, mas possuía um coração de manteiga. Enérgica, positiva mas muito sincera. Embora eu fosse mais velha seus conselhos muito me valeram., nas nossas trocas de experiências de esposa e mãe. Fernanda era uma mulher dinâmica e sabia administrar e enquanto criava e educava seus nove filhos colaborava com o marido nos negócios e nunca deixou de se interessar pelos problemas políticos, sociais e religiosos da. nossa terra. Soube amar sem medidas, servir sem limites a quem dela necessitasse. Por onde andou plantou carinho, amor, compreensão e outros valores. Hoje Montes Claros está de luto! Chora com saudade a sua falta Vá em paz Fernanda ! La no céu encontrará a recompensa, colhendo a mãos cheias, o que você plantou aqui na terra! (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 95 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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