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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: Pesquisa da Ufop ajuda a entender os tremores do Norte de Minas - Pesquisa desenvolvida na Federal de Ouro Preto busca investigar evolução geológica no Norte de Minas Gerais e pode contribuir com estudos sobre os tremores que têm abalado a região desde 2007. Silas Scalioni - Pesquisador do Programa de Pós-graduação em Evolução Crustal e Recursos Minerais da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o professor André Danderfer, do Departamento de Engenharia Geológica da instituição, está coordenando um projeto de pesquisa que busca investigar a evolução geológica de um antigo segmento de crosta continental – conhecida por crosta arqueana-paleoproterozoica –, exposta no Norte de Minas Gerais, onde se encontram rochas graníticas e sedimentares metamorfisadas (formadas por transformações físicas ou químicas de outras rochas) com idade que supera 1,6 bilhão de anos. A pesquisa, segundo o coordenador, tem a colaboração dos professores Cristiano de Carvalho Lana e Hermínio Arias Nalini Júnior, além do aluno de doutorado Francisco Robério de Abreu, e recebeu o nome de “Evolução tectônica e geocronológica da porção central do bloco Itacambira – Monte Azul, borda leste do paleocontinente São Francisco, Norte de Minas Gerais”. Para seu desenvolvimento, já conta com recursos garantidos de mais de R$ 40 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). “O estudo vai jogar luz sobre uma área que abrange parte das cidades de Porteirinha e Riacho dos Machados, na Região do Espinhaço Central”, revela Danderfer. De acordo com o professor e pesquisador, a região em questão carece de estudos de campo e de investigações laboratoriais sobre aspectos petrográficos (constituição mineralógica), geoquímicos (composição química) e geocronológicos (idade) das rochas. Para ele, os terrenos do bloco Itacambira – Monte Azul fazem parte de um antigo continente, conhecido na literatura brasileira e internacional como “paleocontinente São Francisco”, que ‘vagou’ pelo planeta até se juntar a outros continentes maiores e menores, em torno de 600 milhões de anos atrás, vindo a formar o atual subsolo do território brasileiro. Ao finalizar o projeto, os pesquisadores pretendem compreender melhor a história geológica desses terrenos e contribuir para o entendimento de questões relativas à formação de depósitos minerais do Norte de Minas. Segundo André Danderfer, já se destacam na região as jazidas de ouro de Riacho dos Machados e o depósito de zinco do Salobro. O local foco dos estudos está a 120 quilômetros a Nordeste de Montes Claros, cidade polo do Norte de Minas Gerais, onde tremores de terra vêm ocorrendo com frequência. Segundo Danderfer, o entendimento das antigas estruturas tectônicas dessa região poderá fornecer algumas indicações sobre o controle de sismos por falhas geológicas mais profundas, ou seja, não expostas em superfície. Para ele, falhas antigas são susceptíveis de experimentar reativações induzidas por esforços tectônicos originados nos limites de placas tectônicas. A duração prevista da pesquisa prevista é de dois anos, podendo ser prorrogada por mais um ano. Estação sismográfica própria No dia 18, um tremor de terra assustou os moradores de Montes Claros. O abalo sísmico ocorreu às 7h11 e atingiu 3,7 pontos na escala Richter (que mede a magnitude dos tremores), segundo apurou o Observatório Sismológico de Brasília (Obsis), da Universidade de Brasília (UnB). O epicentro do tremor foi identificado como sendo no Bairro Vila Atlântida, na Região Noroeste da cidade, e foi sentido por moradores de pelo menos 11 bairros. A obtenção de tais informações foi possível graças a uma rede de estações sismográficas móveis instaladas na região e que monitora os abalos. “São nove sismógrafos, cinco sob responsabilidade da UnB e quatro da Universidade de São Paulo (USP), que estão na região desde junho do ano passado, logo depois do tremor mais intenso até hoje, de 4,2 pontos, em 19 de maio de 2012”, informa o professor Expedito José Ferreira, coordenador do Centro de Estudos de Convivência do Semi-árido e coordenador de implantação de estudos sismográficos da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Segundo ele, já a partir dos próximos dias o Centro de Estudos de Tremores da cidade contará com sua própria estação sismográfica, uma vez que a Unimontes adquiriu dois sismógrafos de altíssima precisão. Eles estão sendo instalados com apoio técnico da UnB e da USP. “Os equipamentos emprestados atenderam uma demanda inicial de forma rápida. Com eles pudemos pesquisar o fenômeno, identificar as falhas e criar um importante banco de informações”, revela, afirmando que a desabilitação dos antigos equipamentos não causará nenhuma perda, uma vez que os estudos terão agora continuidade por meio dos novos aparelhos e da cooperação técnica entre as três instituições de ensino. “Os sismógrafos desativados serão desmontados e instalados pelas universidades em outras regiões onde sejam necessários.” Palavra de especialista Falhas geológicas - Expedito josé ferreira - Professor da Unimontes “Os estudos feitos em Montes Claros começaram há menos de um ano e apontam que os tremores na região devem atingir magnitude máxima de cinco pontos. O Brasil está localizado em cima de uma única placa tectônica, a Sul-americana, mas caso se situasse em um encontro de duas, como o Japão, a intensidade dos sismos seria bem maior, assim como os estragos provocados. Sobre as causas dos abalos, isso ocorre porque existe uma falha geológica na Região Noroeste de Montes Claros. E quando há movimentação de placas ocorre geração de energia, que é dissipada em forma de ondas, causando os tremores. Não há uma periodicidade para a ocorrência de tais abalos. E eles podem ocorrer a qualquer momento e parar repentinamente.´ Uma fratura geológica de orientação NNW-SSE (na direção Noroeste/Sudeste) e movimentação inversa devido a tensões compressivas que atuam na parte central do craton do São Francisco – craton são porções bastante antigas da crosta continental. Tecnicamente falando, essa é a causa dos tremores de terra que têm atingido Montes Claros há alguns anos e que faz parte do documento “Estudo dos tremores de terras de Montes Claros (MG), de 2012”, criado pelo Centro de Sismologia da USP e pelo Observatório Sismológico da UnB. O trabalho revela que os tremores ocorrem entre um e dois quilômetros de profundidade, bem abaixo da camada superficial de calcário, e que, embora os abalos estejam bem próximos às áreas de extração do mineral, não há nenhuma evidência direta de que a atividade extrativista tenha a ver com os fenômenos. O chefe do Observatório Sismográfico da UnB, professor Lucas Vieira Barros, informa que, apesar da baixa magnitude dos sismos no Norte de Minas (em relação aos grandes terremotos que ocorrem mundo afora), há sim perigo de significativas perdas (humanas e materiais) quando tais fenômenos ocorrem. E isso se deve justamente à pouca profundidade onde há o abalo. “Por ter um foco raso, a área abrangida é menor. Porém, e justamente por isso, mesmo a magnitude sendo baixa os efeitos são mais agressivos”, afirma o professor. Foi no Norte do estado e por conta de um desses abalos que o Brasil teve o registro da primeira morte por terremoto no país, quando um tremor de 4,9 pontos abalou a localidade de Caraíbas, distrito de Itacarambi, matando uma criança. Segundo Barros, à medida que não há uma preparação especial para lidar com esses fenômenos, como ocorre em países que já têm história com abalos sísmicos, e devido aos sismos de Montes Claros se concentrarem dentro de uma área urbana, os estudos na região são importantíssimos para se conhecer o porquê do fenômeno e como se preparar para ele. “Tremores no Brasil são mais frequentes do que se imagina, já ocorreram em vários locais e até em magnitudes mais amplas. Só que não causaram estragos justamente por ter epicentros distantes, ao contrário dos de Montes Claros”, completa.

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