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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 30 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Revisita a casa mágica Alberto Sena Arrepiado. Todo arrepiado ficou ao entrar na casa da Rua São Francisco, em Montes Claros, onde a família morou no século passado, finais da década de 50. Foi quinta-feira, 17. Primeiro foi surpreendido pela notícia da existência da casa. As pessoas têm a mania de derrubar as casas antigas pra construir novas. Quantas casas importantes, em estilo colonial foram derrubadas em MOC? Quem deu a informação da resistência daquela casa mágica foi Amelina Chaves, vizinha naquela época. Ela, Amelina, mora na mesma rua e no mesmo endereço até hoje. Passando de passagem por Montes Claros, vindo de Grão Mogol, em companhia dela, foi brilhante a ideia de ir rever a casa da Rua São Francisco, de onde a família saiu no início da década de 60. O menino tinha os seus 10 para 11 anos quando a família saiu de lá para morar na Rua Corrêa Machado, 238. Naquela casa as fantasias e os sonhos rolaram como rolam as águas de um rio caudaloso. Havia no quintal um pé de urucu, próximo da porta da cozinha. A mãe nem precisava andar tanto para pegar no pé sementes de urucu a fim de colorir o almoço. Tinha um coqueiro macaúbas, um pé de manga umbu e outro de manga comum, a preferida. O quintal ia até quase a linha férrea. Era pedregoso. Quando chovia brotavam nele uma leguminosa chamada Fedegoso. Fedegoso dava vagens e nelas sementes marronzinhas garantiam a volta no ano seguinte nas águas. Um mar de Fedegoso esverdeava o quintal. E era então quando a meninada mergulhava nele e dava asas às brincadeiras. Caroços secos de manga e de coco macaúbas voavam para tudo quanto era lado em guerras de guerrilha. Ali no quintal faziam-se tijolos de barro em forma de caixinha de fósforo vazia. As meninas brincavam de boneca e faziam comidinhas verdadeiras. Com certa frequência o trem passava e tudo largavam para acenar aos passageiros. Acontecia de um trem longo ficar parado durante horas. Alguns dos vagões levavam gado e as crianças ouviam o mugido dos bois e o bater aflito de cascos no piso do vagão. Mais de meio século se passou nesse turbilhão da vida. Hoje quem mora na casa é a família de dona Naraci Ribeiro Amorim, mulher simpática. Amiga de Amelina, ela nos recebeu com cordialidade. Parou o almoço em fazimento e foi mostrar as dependências da casa. Sim, a casa existe, mas na frente dela foi construída uma nova. Emendou uma na outra. Fez muito bem. A casa antiga era bem afastada do alinhamento da rua. Havia espaço para outra. Fizeram o que muitos deveriam ter feito para não destruir o patrimônio antigo de MOC. Importa preservar o velho e construir o novo. No espaço onde foi construída a casa nova jogavam-se bolinha de gude e finca. A meninada brincava de empinar papagaio, esconde-esconde, salvo e bente altas. O pé de urucu, o coqueiro e as mangueiras não existem mais. O quintal encolheu um pouco. Mas em compensação, dona Naraci plantou goiabeira, acerola e outras frutíferas, o que certamente garantirá o vaivém dos passarinhos e os sucos diários na safra. A casa antiga conserva a magia. Se assim não fosse, não teria arrepiado o corpo inteiro logo ao reconhecer os primeiros cômodos. Aqui a sala de visita; ali o quarto de onde viu a bicicleta presente de Natal. A sala de jantar tinha uma mesa comprida de madeira com banco de cada lado. Quando chovia forte, com trovões e relâmpagos, chuviscos passavam pelos furos no telhado, a meninada entrava debaixo da mesa para se resguardar. “Será que o mundo está acabando?” – era o temor. Pode acontecer de os lugares mágicos da infância decepcionar ao serem revisitados anos mais tarde. Pode. Mas não foi esse o caso. Só de a casa estar ali firme nos adobes – prova da durabilidade daqueles tijolões de barro – foi uma alegria. Emoção gostosa ao relembrar do que ali foi vivido e curtido, sem saudosismo. Mesmo porque a vivência naquela casa faz parte da bagagem. Entretanto, aquele trecho de rua mudou. Na esquina com a Rua Corrêa Machado tinha o açougue do senhor Nilo. Açougue não há mais. Do outro lado da esquina tinha um pé de manga comum. Atrás da mangueira havia barracões. Num deles morava dona Boneca com o marido Militão. Barracões não há mais. O espectro da rua antiga continua nítido na lembrança. De vez em quando, ele cutuca a esperança de ser revivido. Então reviva, “ora bolas”, como diria o poeta Mario Quintana, com todo o seu bom humor.

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