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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 19 de setembro de 2024
 

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Mensagem: “A CHUVA UMEDECENDO O ASFALTO”

José Prates

“Ontem, à noitinha, chegou a pingar em Montes Claros, umedecendo o asfalto” é o que nos informa uma pequena nota, neste jornal. Nada demais, nada estranho na frase, para a Montes Claros de hoje, com todo mundo acostumado à cidade grande com ruas asfaltadas. Pra mim, porém, chuva “umedecendo o asfalto” em Montes Claros é coisa estranha porque no tempo em que vivi ali, rua asfaltada não havia nem em sonho. O que existia e muita gente do meu tempo, ainda se lembra, são as ruas mal caçadas com pedras irregulares como a Dr Santos, no centro, uma rua principal, cuja poeira avermelhada, levantada na passagem dos carros, invadia as residências, empoeirando tudo, deixando a dona de casa, o dia inteiro, de espanador na mão, limpando os móveis.
Entrava Prefeito e saia Prefeito, mas, ninguém falava em calçamento. As prioridades eram outras mais importantes, como diziam os mandatários com assento na Câmara Municipal e altos cargos na Prefeitura. As Praças, como a Cel Ribeiro onde estava o melhor Cinema da cidade, era só terra; a Praça do Grupo Gonçalves Chaves com um Cruzeiro no centro para onde “peregrinos” levavam pedras carregadas na cabeça, como “penitência pra Deus mandar chuva pra terra”. Quando chovia, ficava intransitável, transformada num grande lamaçal. Havia sempre um problema que impedia a pavimentação das ruas: uma hora era a falta de recursos; outra hora eram as dificuldades com aquisição do material e nunca chegavam a uma conclusão.
Em 1951 o Capitão Eneas Mineiro de Souza, um empresário de grande poder econômico, pernambucano de nascimento, foi eleito Prefeito. Logo que tomou posse, organizou uma comissão que percorreu as ruas da cidade, constatando o estado deplorável que elas se encontravam. Quase todas em terra batida, esburacada sem rede de esgoto. No seu relatório propuseram, então, a pavimentação dessas ruas com prioridade para as ruas centrais. O Capitão aceitou a proposta. Foi informado por um membro da comissão que esteve, há pouco, no Rio, de que ali, estava havendo a pavimentação da área do Cais do Posto, utilizando um novo tipo de calçamento, substituindo o conhecido paralelepípedo e o asfalto por bloquetes de cimento. Mandou então, que essa comissão viesse ao Rio para verificar se essa pavimentação seria possível em Moc. Chegando aqui, procuraram o órgão responsável pela pavimentação, obtendo informações sobre a empresa contratada para a obra que procurada pela comissão, informou-lhe com detalhes técnicos e financeiros sobre todos os procedimentos para o novo tipo de pavimentação, o que transmitiram ao Capitão que, de imediato, convocou o Departamento de Obras da Prefeitura a quem deu a ordem de providenciar os meios para o inicio do calçamento com “bloquetes” de cimento, mais barato e mais rápido que os paralelepípedos. Em setembro de 1951 depois de contratada a empresa, foi instalada a fábrica de bloquetes, parece-me que no Alto de São João, iniciando, então, a pavimentação, começando pela rua Dr Santos. Dois meses depois, com todo o centro pavimentado, começa a instalação dos sinais de transito com guardas nos cruzamentos. O Jornal de Montes Claros, recém criado, dizia: “A cidade com suas ruas pavimentadas, sinais de trânsito e guardas nos cruzamentos, toma aspecto de capital” e, realmente, parecia outra cidade. Esse progresso que começou com o Capitao Eneas, não parou. Os administradores que vieram depois deram continuidade à modernização da cidade e o que ontem era impossível acontecer, hoje o montesclarino vê como coisa comum, normal: a chuva molhando o asfalto.

(José Prates, 87 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Atualmente, é um dos diretores do Sindicato da Classe)

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