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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 30 de novembro de 2024
 

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Mensagem: AINDA É TEMPO DE PEQUI José Prates Agora está chegando ao fim o tempo de pequi e esse tempo eu nunca esqueço porque o pequi alimentou-me na infância. Faz muito tempo que não o vejo nem sinto o seu sabor, não o esqueci, porém. Esquecê-lo é impossível para o filho do cerrado acostumado a ele desde que aprendeu a comer sozinho, roendo com cuidado a castanha envolta na polpa amarela de sabor sem igual. Quando era criança em Jacaraci, alto sertão baiano, gostava do “tempo de pequi” e saia de cesto na cabeça, cerrado adentro, junto com outros meninos, para apanhá-los debaixo da árvore carregada e aproveitava para apanhar, também, pitomba e jatobá que estavam na época. O pequizeiro é do tipo sertanejo: resistente e teimoso. Cresce e frutifica apesar da hostilidade da terra e dos homens. Enfrenta as intempéries e produz seus frutos que alimentam gente e animais que correm para os pés, atraídos pelo cheiro forte da fruta madura, caindo ao chão. O pequi, como o peixe dos rios, as aves do céu, os frutos silvestres, não tem dono: ninguém o plantou; ninguém o cultivou. É obra da natureza em socorro de quem não tem o que comer na pobreza do cerrado. Dono é quem foi lá e os catou no chão, à sombra do pequizeiro, enchendo o cesto e levando pra casa. Naquele tempo, não sei se, ainda, acontece hoje, quando o pequi começa a soltar-se dos galhos, caindo em baixo das arvores, o cerrado entra em clima de festa com dezenas, até centenas, de mulheres, homens e crianças de cestos na cabeça para colher os frutos que caíram de maduro, . Além da polpa amarela do pequi, com seu sabor e aroma marcantes que agora tem uso diversificado na culinária, principalmente no norte de Minas e sudeste da Bahia, tem, também a castanha com a coloração branca e um gosto exótico que não sei a que comparar. Seu valor nutricional, segundo informações que obtivemos através de estudos que fizemos a respeito, com base nas pesquisas da bióloga Fátima Oliveira Bozza da Universidade Católica de Goiás que chegou à conclusão de que essa castanha é rica em zinco e iodo, alem de conter cálcio ferro e manganês. Explica, ainda, a bióloga Fátima que o aproveitamento da castanha do pequi é posterior ao uso da polpa. Ou seja, depois de retirar a polpa amarela que cobre a castanha, em vez de joga-la fora, no lixo, deve ser aberta e retida a massa branca que ali está e usá-la como alimento. ´Pode-se usar o pequi das formas tradicionais, cozinhá-lo no meio do arroz ou do frango, e depois aproveitar sua castanha em outras receitas de alimentação”. O que se deve fazer, seguindo a orientação da pesquisadora, é não jogar fora a castanha depois de cozida e usada, mas, retirar a massa de grande poder Precisamos é de criar esse novo hábito: em vez de jogar os caroços fora, reaproveitá-los. Eu me lembro que deixávamos o caroço secar ao sol para depois abri-lo e tirar a castanha. A crença era de que evitava a gripe o que é confirmado pela pesquisa da bióloga. Na opinião da pesquisadora, e eu como muita gente concorda, é que o maior entrave ao aproveitamento da castanha do pequi é a desinformação. ´Jogamos fora um alimento de alto valor nutricional e que tem grande potencial de comercialização´, afirma. Segundo ela, na Bahia os pequenos agricultores e os extrativistas já estão comercializando a castanha do pequi mas somente mas somente em feiras e outros locais de comercio informal, faltando, portanto, um aproveitamento industrial. Um pequizeiro pode produzir até mil frutos que vão amadurecendo devagar e caindo para alegria do povo e dos animais. Quem chega mais cedo, tem mais vantagem, colhendo mais frutos de um só pequizeiro. Quando está chegando o fim da safra, muitos apanhadores chegam bem cedinho, antes dos outros para garantirem o abastecimento. Usam inclusive de artifício. Na minha infância, conheci um homem, que se chamava Manoel e era mais conhecido por Manézinho de Lola; morava nos arrabaldes da cidade, não me lembro bem; vendia pequi no mercado. Diziam que ele no final da safra, para amedrontar os catadores do fruto, imitava as pegadas de uma onça nas proximidades dos pequizeiros, afugentando quem cegasse. Uma vez eu lhe perguntei se era verdade que fazia isto. Ele negou dizendo que as pegadas eram verdadeiras, de sussuarana que vivia no cerrado e ficava ali, na espreita de sua presas, como, também, para afugentar os catadores de pequi. (José Prates, 87 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Atualmente, é um dos diretores do Sindicato da Classe)

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