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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 19 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Quando em Montes Claros os montesclarinos ausentes ainda encontravam com eles próprios em cada esquina das estreitas ruas do centro da cidade, ruas apropriadas para cavalo, bicicleta e charrete; naquela época em que “cachorros (andavam) andam devagar”, como observou uma criança de três para quatro anos de idade, espontaneamente, no princípio dos idos da década de 80, a Rua Doutor Santos ainda era a principal via pública de Montes Claros.
Um proposital recuo ao final da década de 70 traz à lembrança certa casa velha, número 103, hoje uma moderna agência bancária, imóvel à época de propriedade de Luiz de Paula Ferreira, onde era a redação e oficina do O Jornal de Montes Claros. O ponto era estratégico em termos de oferecer boa perspectiva para assistir a cidade passar à porta. Os veículos de então não deixavam ninguém estupefato como os da atualidade.
Contíguo ao jornal, na mesma casa velha, era o escritório do advogado Orestes Barbosa, bom de prosa, com seu inseparável cigarro de palha. Demerval Afonso Aguiar, Baiano chamado, era funcionário de Orestes e havia tempo para com eles bater papo porque se tinha a impressão de que a velocidade do movimento de rotação da Terra era menor comparada com a sensação de velocidade atual, pós-tsunami em terras japonesas. Segundo os entendidos, mexeu até com o eixo do planeta.
Dali da porta do JMC, ombro apoiado na pilastra da antiga casa, se podia assistir, como numa passarela, a passagem dos que tornavam frenético o vaivém dos montesclarinos pelas estreitas calçadas da Rua Doutor Santos. Em meio às relembranças, uma cena quase dramática, não tivesse um lado de graça: uma donzela fraturou o tornozelo ao olhar para trás a fim de espreitar os que comentavam sobre a beleza dela.
Tuia havia morrido. Mas o espectro dele ali ficou inclusive as marcas da casinha azul pra ele construída no espaço antes considerado garagem do jornal. Em Montes Claros viveram tipos humanos como Manoel Quatrocentos, Requeijão, Galinheiro entre outros. Eles davam alento ao provincianismo da cidade, hoje sobejamente transformada numa intrincada capital de problemas. E um deles é o de não possuir braços nem força capaz de empurrar as ruas pros lados a fim de evitar o sufoco do centro da cidade tamanha falta de espaço para tanto carro, bicicleta e gente – não necessariamente nesta mesma ordem.
Numa lanchonete incrustada no prédio onde era o hotel São Luiz – lá ocorreu estranho incêndio – se podia comer delicioso pastel de carne e de queijo regado a suco de laranja ou vitamina de frutas. Isto feito era só entrar a esquerda na Praça Doutor Carlos para logo adentrar a Rua Simeão Ribeiro e chegar ao café de Zim Bolão, termômetro especializado em questões relativas aos mais importantes assuntos aleatórios e de ordem socioeconômica, política, futebolística e, principalmente, fofocas.
Ali no Zim Bolão se podia colher as mais críveis informações sobre a vida alheia. Por bom tempo, as incursões do esperto pseudomágico Orieth Bay na cidade motivaram conversas a respeito do ponto em que ele, ao final, numa afronta à hospitalidade dos montesclarinos raptou uma senhora da sociedade. Foi um fuzuê danado lembrado por Haroldo Tourinho Filho em crônica recente.
De Zim Bolão ao Café Galo era um pulo só. Um rivalizava com o outro qual era o mais bem frequentado e informado a respeito das mazelas políticas e, claro, do disse me disse dos acontecimentos da sociedade montesclarina disputados pelos colunistas sociais Lazinho Pimenta, Theodomiro Paulino e Magnus Medeiros.
Era só atravessar a Rua Simeão Ribeiro para dar de cara com o ultradivertido Fernando Gontijo sentado a uma mesa da Cristal sorvendo uma dose de cachaça depois de doar o próprio sangue a fim de sustentar o vício. Dizem: “Morreu de paixão”. Vivo, ele era inteligente e cheio de graça engraçada, devido às tiradas bem-humoradas que fizeram dele figura lembrada. Como lateral esquerdo do Casimiro de Abreu, Gontijo arrancava aplausos da torcida feminina.
Tanto tempo depois de tudo isso, ainda dá para ouvir daqui o ruído característico das máquinas linotipo gravando em chumbo os textos datilografados em laudas de papel jornal, fazendo coro com o ruído da impressora cuspindo mais uma eletrizante edição do JMC, Mais Lido chamado.

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