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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 27 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ZÉ MUTAMBA E GUARANÁ De volta das Cabeceiras, Zé Mutamba veio bem acompanhado. Arrumara um companheiro, unha e carne, bom de prosa, de gole, chegado num joguinho e mais ainda num rabo de saia. Era o notório Guaraná. Ele trelou no Zé e convenceu o coitado a voltar para Monsclaro, com o argumento de que há dias não tiravam o atraso: “Zé, Zé, quando a gente começa a olhar pro tiché das éguas, tá na hora de retornar pra cidade”. Desembarcaram na Socomil e ali mesmo entraram no rendez-vous da Geralda. Grudadinho na Freiopeças de Shazan. Esvaziaram suas primeiras ansiedades e foram se empoleirar mais à frente, no outro meretrício lecotreco da Carminha, na Praça de Esportes. Lá sempre havia três ou quatro meninas, à disposição. Nenhuma era avião, nem mesmo teco-teco, mas todas caprichavam no trivial simples ou no serviço completo, barba e bigode, com o maior esmero. Se se catasse a miúdo os atrativos, as formosuras de cada uma, um olhar, um seio, uma perna, um naco de bunda, dava mal-mal uma rapariga meia-boca. O jeito era encher a cara e degustar uma com o sentido no encanto da outra. Amansadas as necessidades, saíram para tomar uma gelada e arrumar um carteado barato num lugar mais arejado. No caminhar, contornaram a Praça de Esportes, passaram pelo mercado antigo, subiram a Cel Joaquim Costa apreciando as lojas, reparando as desorganizadas bancas de vendas, até depararem um boteco onde havia banca de jogo do bicho. - Zé, vamos fazer um fezinha? provocou Guaraná. - Sei não, num sou chegado nesses viciozinhos, não. - Que isso, Zé Mutamba, fala um bicho qualquer aí. - Bem, pensando ní muié, só mesmo jogando em brabuleta: 16. - Pois tá aí, muié pra mim é cobra: 33. Cinco contos no milhar 1633. E pra arregaçar, vai mais 20 contos no duque das dezenas 16 e 33 do primeiro ao quinto. - Cê tá doido, Guaraná, cê vai jogar fora 25 contos nessa besteira? É dinheiro pra a gente ficar bêbado o dia intirim! - Besteira, qual o quê? Nós vamos é ficar rico, Mutamba. O duque paga 200 vezes e o milhar muito mais. Hoje é quarta-feira, não tem mutreta. É pela Federal. Quando sair o resultado, nós só vamos beber é scotch e luxar na casa de Tiana. Lá, tudo de comer é de primeira! Gargalhou... - Antes, nós vamos pro Seu Edson quebrar mais uma e daqui a pouco a gente volta para pegar a grana, tá? No bar do pai do Baixim, praça dr. Carlos, tomaram todas e mais algumas. Saíram mamados, esbarrando um no outro, mas Guaraná, com a pule fechada na mão, não esqueceu o jogo do bicho. Pois não é que deu o duque das dezenas 16 e 33. Muié pru riba de muié: 1º 7133 09 Cobra 2º 6069 18 Porco 3º 1716 04 Borboleta 4º 4758 15 Jacaré 5º 7212 03 Burro Guaraná ganhou. A dupla empapuçou. Os dois receberam a bolada. Uma em cima da outra. Nota preta. De lá mesmo, o furdunço começou. Enterraram o dente no gole. Até o tal do scotch entrou na parada. No miolo de Moccity, reviraram tudo quanto é boteco que existia. Arranjaram até uns saca-trapos pra irem atrás deles soltando foguetes e batendo palmas. Naquela turbulência toda, um foi mijar num reservado, enquanto o outro seguiu instintivamente o rabo de uma boazuda. Acabaram em bares trocados. Se desencontraram. Daí começou a confusa busca, um procura daqui, outro procura dali, e nada de se encontrarem. Um descia a São Francisco, o outro subia a Grão Mogol. Um rodava a praça dr Carlos, o outro se perdia na praça da Matriz. Guaraná emburacava pelo Beco da Vaca, Zé supitava na travessa Silvio Jardim. Foi um aranzel de desencontros. Até que, lá pelas tantas, Zé Mutamba, já desiludido, descendo a cel Altino de Freitas, deparou com dois guardinhas arrastando Guaraná pelo braço. Zé, então, perguntou: - Que é isto, gente, porque cês prenderam o hômi? - Cê conhece? Ele é seu amigo? - É! É gente boa! - Boa o caralho! Este vagabundo está preso por desacato à autoridade. - Mas por que, seu guarda, o que ele fez? - Esse fiduma, além de estar completamente bêbado, estava fazendo arruaça no rendez-vous de dona Geralda. Quando nós pedimos para ele maneirar, ele disse, aos berros: - Não vou maneirar porra nenhuma, pois eu estou é rico e tenho dinheiro para comprar tudo e todo mundo. Disse que comprava o puteiro, o delegado, a catedral, e que comprava até nós dois! - Ora, seu guarda, deixa de besteira. Não ligue não, Guaraná é desse jeito mesmo. Toda vez que bebe, quer comprar tudo que é porcaria que ele encontra pela frente. Não deu outra: Foram os dois dormir no xilindró.

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