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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 4 de maio de 2024
 

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Mensagem: Na falta da água Manoel Hygino - Hoje em Dia O tormento decorrente da longa estiagem deste ano – continuando as parcas chuvas de 2013 – incomoda a gente do país, sobretudo do Sudeste, porque somos um povo que adora banho. É uma tradição transmitida pelos ancestrais de sangue tupi e guarani, como registra Wanderlino Arruda, dos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros, e membro de um sem número de entidades que têm a ver com as letras, as artes e o saber. Inegavelmente, a indiaiada amava – e ama – divertir-se na água e com a água, com ênfase os bugrinhos, costume herdado alegremente e decepcionando as gerações avoengas europeias. Com a crise desde 2014, priva-se o brasileiro de um prazer muito típico e gostoso, obrigando-se nestes dias de penúria a insatisfatórios e decepcionantes banhos de bacia e caneco. O racionamento que já atinge muitas cidades causa tristeza e revolta. Quando elaborei texto para o livro sobre os 50 anos do “Madrigal Renascentista”, lembrei uma questão levantada pelos cantores, em excursão aos países nórdicos: queriam tomar banho, prática incomum naquele pedaço da Europa. Mas os artistas não abriram mão. Wanderlino, aliás, evoca o testemunho do estimado padre Aderbal Murta, que deixou marcas de sua passagem nos lugares em que exerceu o sacerdócio. Ele, bonachão, recordava que o reitor da Universidade de Louvain, na Bélgica, melindrou-se quando os seminaristas brasileiros que lá chegavam também pediram um pequeno cômodo no grande conjunto de edifícios, para se banharem: água da cabeça aos pés, vinda de cima, passar sabonete, enxaguar o corpo, enxugar com uma toalha felpuda. Muita exigência! Então, banho era com luva, esponja, apenas esfregando, sem molhar o chão. Os bárbaros, ao invadirem a Europa, atribuíram aos banhos coletivos a decadência romana. Destruíram todos os banheiros públicos e particulares, eliminando por quase um milênio o costume. Recomendava-se apenas lavar as mãos antes das refeições, como registra o sábio Ivan Lins. Alguns casos ganharam fama. Isabel, rainha de Castela, só tomou dois banhos, ao longo da vida e se gabava disso: um, ao nascer, e o outro, preparando-se para o consórcio real. Das ideias da Idade Média, decorreu o desprestígio em que caíram os banhos. Augusto Comte escreveu: “Estreitamente preocupado com a pureza moral, esqueceu-se o catolicismo de constituir a purificação física como o primeiro degrau da disciplina individual, descurada como inútil à salvação eterna”. São Gregório proibiu os banhos aos sábados, “principalmente se a finalidade fosse higiênica”. Compreende-se: tomar banho era pecado, ato de luxúria, algo muito mundano, um cuidado excessivo com o corpo. Langlois, contudo, observa que o hábito era corriqueiro entre os fiéis medievos. O banho, até acompanhado, principalmente em se tratando de amantes, com a cabeça coroada de flores, originou condenáveis abusos no dizer de Gautier. Então, surgiram mulheres que se dedicavam a lavar a cabeça dos grandes senhores, embora as gentis profissionais não gozassem de boa reputação. Aqui e agora, é diferente, muito diferente. É preciso muita água e o desperdício é criminoso neste tempo de seca inclemente.

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