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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 30 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ´Ab ungibus leo´, gostava de repetir o grande Haroldo Lívio aos que mereceram a graça do seu convívio, de suas lições. Traduzido, quer dizer: ´Pelo dedo se conhece o gigante´. Pois bem. Aqui vão os 4 últimos textos que ele publicou neste montesclaros.com. Falam por ele, por nós, pela vida. Jamais se ouviu dos seus lábios um lamento, uma queixa, a palavra desprimorosa, deselegante. Continuará a crescer perto de nós, pois seguiremos ouvindo sua voz amiga. Por Haroldo Lívio - 16/11/2014 02:06:24 A esquina dos três poetas HAROLDO ´LÍVIO* Fica na Rua Artur Lobo, que liga a Praça Dr. Chaves à Rua Gonçalves Figueira, bem próximo ao Centro Cultural Hermes de Paula, a esquina onde se dá o encontro de três notáveis poetas do passado. Esta rua, em tempos idos, foi chamada de Beco de Santa Bárbara, que nos protege de raios e trovões, e era usada como via de acesso às aguadas do Rio Vieira, na época navegado por canoas e povoado por curimatãs, surubins e outras delícias. Muito tempo depois, nossa vereação decidiu prestar homenagem a um dos primeiros vates de nossa cidade, Artur Lobo, de grande prestígio e montes-clarense nascido no então distrito do Sacratíssimo Coração de Jesus. Ele foi um dos primeiros jornalistas de Belo Horizonte, tendo participado das festas de inauguração, em 1897, da nova Capital de Minas Gerais, em cuja elite intelectual figurava com invejável distinção, tanto que os vereadores belo-horizontinos deram seu nome a uma artéria muito conhecida. Salvo engano, esta rua fica na Floresta, um dos bairros mais tradicionais daquela metrópole, outrora coroada Cidade Jardim. Entra em cena o segundo poeta, quando a Rua Artur Lobo, antes de desembocar na antiga Rua do Pedregulho, hoje Gonçalves Figueira, atravessa a Rua Hermenegildo Chaves, cujo patrono é uma das glórias literárias da Montes Claros de antanho, da quadra distante das serenatas e dos saraus familiares. Seu nome e seu apelido carinhoso, Monzeca, estão inscritos na galeria das personalidades mais elevadas do jornalismo brasileiro. Nas redações por onde passou, na Capital que adorava, ainda repercute a admiração pelo texto exemplar que era a marca registrada de sua arte de fino lavor, quer seja prosando, quer seja versejando. A soprano Maria Lúcia Godoy, profunda conhecedora e intérprete consagrada da modinha, relaciona na contracapa de uma gravação os nomes dos quatro maiores modinheiros do Brasil e Portugal. Apontou o português Gonçalves Crespo, Castro Alves, o bardo João Chaves e seu irmão Monzeca. Isto basta para dar uma idéia da dimensão do encontro de Artur Lobo e Monzeca, dois gigantes de nossas letras. Monzeca vinha pouco à nossa cidade, embora a amasse a distância. Na última vez que por aqui esteve, parece que pela festa do Centenário, foi recepcionado em uma tertúlia no palacete do também menestrel Luiz de Paula, que alcançou o auge com a voz encantadora do seresteiro Telé Prates interpretando modinhas imperiais, valsas e outras cantigas de amor. Completando o trio de poetas da esquina, entra em cena Geraldo Freire, o grande trovador de apenas um livro publicado, Fonte dos Suspiros. Ele, que me honrava com sua amizade, sempre foi considerado um eleito das musas e morava na casa da Rua Hermenegildo Chaves com lateral na Rua Artur Lobo. Dessa convergência de celebridades desta Cidade da Arte e da Cultura surgiu o encontro de três cabeças fulgurantes, de três épocas distintas, que enobreceram esta terra. Montes Claros tem umas coisas que as outras terras não têm... * Do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros ----------------- Por Haroldo Lívio - 4/11/2014 20:09:59 HAROLDO LÍVIO Egresso do bloco cirúrgico da Santa Casa, sob os cuidados dos magos Luiz da Paixão e Walter Lima, coadjuvados pelo jovem anestesiologista Waldir Nascimento Bessa Jr., cujo nome indica ser herdeiro do comerciante de maior visão que já mercadejou nesta praça, dono da Loja Americana, voltei a casa pensando nestas cousas aparentemente desimportantes que, de vez em quando, nos enchem a cabeça de caraminholas. Faz quanto tempo que o leitor não passa um telegrama? Já nem se lembra mais e acha que telegrama é um meio antiquado de comunicação em desuso. Aí é que está o engano! A Empresa de Correios e Telégrafos continua funcionando a todo vapor. E funcionando muito bem. Principalmente telegrafando... Para cumprimentar nubentes, uma amiga que festeja 80 anos abrindo garrafas de champagne Veuve Cliquot, os manuais de bom tom exigem que se telegrafe, e não enviar um e-mail ou telefonar, porque o destinatário ficará muito feliz recebendo o documento das mãos do carteiro, protocolarmente. A mensagem é tão formal que vem contida dentro de um envelope. Antigamente, antes da universalização do computador, as empresas, por status e princípio de economia, tinham o endereço telegráfico que correspondia ao endereço de correio eletrônico E-mail, atualmente dominante e triunfante. A taxação do telegrama era cobrada por letra usada no endereçamento. Se o remetente ao telegrafar para o Banco do Brasil usasse apenas o endereço telegráfico Satélite, muito famoso, por sinal, pagaria somente o valor de uma letra no endereço. Negócio pra lá de vantajoso! Já pensou em quanto ficaria o nome Banco Hypotecário e Agrícola de Minas Gerais, para quem não soubesse o endereço telegráfico, do qual não consigo me lembrar. Lembro-me de que o Banco Mineiro da Produção era Bemca. Assim mesmo. Parece-me que o Banco Comércio e Indústria era Bancomércio. Isto são impressões de sessenta anos atrás, muito para trás. Tenho certeza de que a firma Indústrias Reunidas Santa Maria S.A., fabricante do Óleo Mariflor, o braço direito da boa cozinheira, usava Mariflor e até elegeu uma Miss Mariflor. Seus concorrentes, os Irmãos Pereira, do Óleo Boazinha, usavam o Ipê, uma árvore que nada tem a ver com o algodão e tem a ver com a família. Teria sido bolado pelo brilhante jornalista Cipião Martins Pereira, tido como um dos textos mais belos da grande imprensa. Sociam era o endereço telegráfico de uma algodoeira cuja razão social me escapa. Ah, se ainda estivesse por aqui o amigo Necésio de Moraes, para elaborar uma lista. Confirmaria que Ramirmãos era usado pela Casa Luso-Brasileira, de Ramos & Cia. (Saudade de Dona Fernanda.) Principalmente informaria sobre firmas de peso em que militou na contabilidade. Diria o endereço telegráfico de Comércio e Representações J. Alves da Silva S.A., a concessionária Ford; e confirmaria Matsulphur, da Companhia de Materiaes Sulphurosos, do Cimento Montes Claros, ou melhor, de João Bosco Martins de Abreu, que acaba de nos deixar entre lágrimas de saudade e eterna gratidão por todo o bem que fez a esta cidade que aprendeu a amar como sua também. Montes Claros se curva reverente ante sua personalidade de homem de escol e empreendedor da produção, das ciências e das artes. ------------------- Por Haroldo Lívio - 13/10/2014 16:27:56 Rapariga do Bonfim etc HAROLDO LÍVIO Eu me preparava para escrever algumas linhas sobre o talentoso artista Elthomar Santoro Júnior, que nos deixou em sentido pranto, ausentes de seu agradável e doce convívio, quando as letras e artes desta Cidade da Arte e da Cultura foram golpeadas com a perda de nosso querido Peré. Duas figuras marcantes que partiram muito cedo para os campos serenos da eternidade e que tinham em comum o amor pelas cousas do espírito, dominando cada qual uma área específica; a música e a literatura. São específicas, sim, num primeiro olhar; mas prestando maior atenção, verifica-se, com facilidade, que conduzem ao mesmo destino, a poesia, que resume a beleza da vida. Elthomar Santoro viveu pouco. Pode-se dizer que era um jovem de 56 anos de idade, porque tinha um comportamento juvenil, nada fazia que fosse condizente com a idade adulta. Era roqueiro, era músico de vanguarda, era um garoto que amava os beatles e os rolling stones. Ele fazia questão absoluta de ser identificado como prosélito da doutrina hippie, tanto que se vestia, pensava, compunha canções e carregava a sacola e se cobria com o boné de artista engajado. Ele participou da geração que surgiu com a criação do Centro Cultural Hermes de Paula, esta entidade que foi concebida para funcionar como sementeira das vocações que por aqui germinam e têm apresentado um resultado altamente positivo. Pode-se afirmar que o surgimento deste órgão pode ser comparado ao grêmio literário dos padres premonstratenses, há mais de 100 anos, que veio incentivar o desabrochar da geração de João Chaves, Dulce Sarmento, Elpídio César e outras notabilidades do passado. Elthomar Santoro foi cria do Centro Cultural e poderia ter deixado obra mais volumosa se tivesse tido cuidado com a saúde. Lamentavelmente, não se esforçou para contribuir ainda mais para a produção artística da cidade que tanto amava, e partiu muito cedo. Compôs muito rock e deixou um tango, Disparate, em parceria com seu mano Ismoro da Ponte, que o público rebatizou com a denominação de Rapariga do Bonfim, que tem sido uma espécie de sufixo musical das grandes festas da cidade. Tornou-se banal, nos fins de festanças, encerrar a noitada com a execução do tango montes-clarense composto por dois pontenses, em meio a aplausos e pedidos de bis. Elthomar me considerava uma espécie de tio, tendo até me convidado para fazer uma letra de canção vestida por sua música. Parece que ele queria me homenagear à sua maneira, para celebrar a amizade que sempre uniu o pai dele, Justino, ao meu pai, Zé Luiz. Esta é a história da amizade entre um homem e um menino. O meu velho era o escrivão das execuções fiscais na comarca das Contendas e, volta e meia, viajava pela zona rural cobrando dívida ativa da União. Certa vez, em São João da Ponte, necessitou de contratar um garoto esperto, ativo, desembaraçado, para entregar as cartas de intimação dentro da cidade. Indicaram Justino, que se desincumbiu da tarefa a contento. O menino continuou trabalhando com o escrivão, e cresceu como acontece com todo mundo. Quando já taludo, passou a viajar com o escrivão, estudou, ingressou no serviço público e terminou sua brilhante carreira como coletor estadual. Palmas para quem merece! Do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros ------------------ Por Haroldo Lívio - 10/10/2014 19:17:15 PRIMO PERÉ HAROLDO LÍVIO Luiz Carlos Vieira Novaes, o Peré inesquecível e bem-amado de todos os parentes, contraparentes, aderentes, amigos, admiradores e leitores, foi cruelmente arrebatado de nosso convívio e nos deixou por algum tempo. As lágrimas até aqui derramadas equivalem ao mar de imorredoura saudade em que estamos todos mergulhados. Sua prematura partida, em meio à consternação geral de todas as pessoas que o amavam, veio desmentir aquela afirmação de que não existem pessoas insubstituíveis. Peré não deixou substituto, alguém que possa igualá-lo em nobreza, em bom caráter e em talento; alguém que possa reunir tanta simpatia e carisma pessoal ao redor de si, mercê de seu reconhecido valor de jornalista e cidadão do mundo, sempre disposto a servir o próximo. Ele já nasceu abençoado e iluminado pela luz que vem do céu para mostrar quem está perto de Deus. Foi escolhido pela Providência Divina para nascer no dia 25 de dezembro de 1953, para coincidir com a mesma data de nascimento do Menino Jesus. Não resta dúvida de que há algo de profético nessa feliz coincidência. No dia de seus sessenta anos, no ano passado, publiquei um relato sobre o novo sexagenário, lamentando que seu pai, o saudoso Novaesinho, e a mãe, dona Maria, não tivessem dado ao bebê um nome alusivo à data máxima da Cristandade. Ele poderia ter sido contemplado, na pia batismal, com o nome de Natalício, ou Natalino, ou Salvador, ou mesmo Jésus (com o acento agudo) para não ser confundido com o outro ilustre aniversariante. Porém, o pai, que nutria grande admiração pela figura histórica de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, perdeu a oportunidade e decidiu pelo nome do político, sem saber que o batizando veio a ser, como o pai, um modelo de cristão e criatura do bem. Coisas que acontecem... Minha primazia com Peré, como digo no título acima, se origina na amizade entre meu avô materno, João Vicente Maria do Amor Divino, pernambucano de Petrolina, e seu avô paterno, João Novaes Avelins, também pernambucano, de Cabrobó, ambos nascidos em cidades banhadas pelo Rio São Francisco. Todavia, vieram a se conhecer em São Francisco, terra barranqueira de Minas Gerais. Até aqui somos apenas netos de dois pernambucanos unidos pela amizade, ainda não dando para dizer que fomos primos nem que seja detrás da serra. Sem querer pegar carona com a fenomenal simpatia do amigo que partiu, quero informar ao distinto público que a avó paterna de Peré, dona Angélica Novaes, e minha avó materna, dona Florinda Barreto Nobre, portadoras de nomes lindos, eram conterrâneas de São Romão e se apresentavam socialmente como primas. (Não sei qual o grau do parentesco.) O que importa mesmo e que elas fizeram o quarto ano primário em Januaria morando na casa de Tia Ursulina, de quem eu e o querido amigo devemos ter sido sobrinhos-bisnetos. De qualquer forma, teríamos de ser primos nem que fosse pela coincidência da presen;a do Rio São Francisco, na caminhada de nossos antepassados que desceram do Nordeste navegando pelas águas sagradas, em busca de dias melhores.

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