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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 24 de setembro de 2024
 

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Mensagem: A casa e o mercado Quando Toninho Rebello deixou a prefeitura, em 1982, estava cansado, muito cansado, e seu cansaço não era proveniente do trabalho, pois disso ele nunca se queixou. Havia deixado o município sem dívidas, com dinheiro em caixa para dar continuidade às obras do programa Cidade de Porte Médio, projeto que ele e Humberto Souto sonharam. Seu sucessor recebeu uma cidade limpa, bem cuidada, visivelmente transformada por uma administração corajosa, progressista e honesta. As eleições municipais foram duríssimas. As circunstâncias políticas eram todas favoráveis à mudança; quase todo o país ansiava pelo fim da Ditadura Militar, conforme Jorge Silveira tão bem relata neste livro. Mas Toninho Rebello não esperava a ferocidade de ataques que se abateu sobre ele e seus familiares. Apenas politicagem rasteira, maledicências e falta de decoro. Bem que tentaram; investigaram de todos os lados, reviraram sua vida pelo avesso e nada encontraram de desagravo. No entanto, ataques e calúnias circulavam por alguns órgãos de imprensa. Felizmente, parte do povo de Montes Claros, gente que ama a cidade e que conheceu Toninho Rebello, fez e ainda lhe faz jus. Mas Toninho Rebello morreu magoado. E todos nós que conhecemos sua retidão e caráter sofremos por ele. Desejando recolher-se, finalmente, junto a família, tomou algumas decisões que, hoje, soam quase premonitórias. Teria ele pressentido a proximidade da morte? E bem verdade que o coração havia lhe enviado alguns perigosos avisos; adoeceu, foi hospitalizado e safenado. No entanto, sabíamos que sua dor maior era outra. Para um homem de sua têmpera, os ataques a sua honradez foram mortais. Decidiu, portanto, fazer a divisão de seus bens em vida; o inventário foi feito pelo Dr. Sebastião Melo: 50% de seus bens foram passados para os filhos e os outros 50%, a nua propriedade, ficaram para seu usufruto. Ele queria garantir o dinheiro para alguns avais que tinha dado, inclusive para a televisão, de que foi grande acionista. Transformou as suas fazendas na Luciana Agropecuária, empresa forte, familiar, especializada em gado Nelore PO; a família vinha se especializando há tempos na criação de gado de raça, investindo na melhoria genética das reses. Como os filhos já estavam casados e os netos cresciam e nasciam, segundo o preceito bíblico, ele desejou acercar-se de todos, talvez numa forma compensatória pelos anos de dedicação quase integral à prefeitura. Assim, transformou o terreno onde era sua casa, ´a fazendinha´, em um aprazível condomínio familiar. Construiu para si uma casa pequena, pois, depois de tantos anos com a casa cheia de filhos, somente ele e Marcolina ali residiriam. Os demais filhos construíram suas casas, cada uma com seu jeito e estilo, mas todas voltadas para a rua principal, em cujo nome Toninho Rebello quis homenagear seu sogro: Jacinto Ataíde. Ruas asfaltadas, arborizadas, tornou-se ali um lugar de descanso e alegria, onde seus netos brincavam e seus filhos estavam mais perto de si. Sempre gostou de gente, incentivava os almoços em família e as comemorações. O prefeito que o sucedeu, entretanto, incomodado com essa paz familiar ou talvez com o peso de seu nome, o qual nunca conseguiu denegrir, produziu mais uma peça de delírio político, acusando Toninho Rebello de ter asfaltado as ruas ao lado desse condomínio sem licitação. Sim, ele de fato o fizera, sem licitação e com dinheiro do próprio bolso, pois as terras ali eram dele! As perseguições aumentaram. A construção do novo mercado municipal de Montes Claros foi uma implicância gratuita: visava trazer movimento e barulho à vizinhança de Toninho. O mercado foi construído; Toninho estoicamente ergueu os muros em volta das casas dos seus - fechou o condomínio. Onde hoje é o restaurante municipal foi lote pertencente a Anamélia e a Cristina, suas filhas: o então prefeito o desapropriou e não pagou, como de praxe. Alguns anos depois,quando Mário Ribeiro foi prefeito, pagou o devido. Toninho Rebello, então, doou ao município as ruas que eram suas e ele mandara asfaltar. Mário Ribeiro e Toninho foram grandes amigos, compadres (Toninho foi padrinho de uma filha de Mário, e Mário era padrinho de Cristina Rebello) e adversários políticos. Respeitaram essa amizade e compadrio, independentemente de algumas escolhas contrárias. Contaram-me que, quando foi prefeito, e incomodado com o recolhimento do amigo, Mário ligou para Toninho, chamando-o para ir com ele, fiscalizar as obras da prefeitura. Quando Toninho Rebello morreu, Mário Ribeiro, que era o prefeito decretou luto oficial por oito dias. Quanto ao mercado, e com o condomínio fechado, os familiares de Toninho até gostaram, ao final, da inesperada vizinhança. Todos são muito simples e aprenderam com o pai a gostar de gente humilde. E Toninho foi levando sua vida tranquila, encontrando-se com amigos no bar Cristal, no Quintal ou no bar do Zezinho, onde pedia ao garçom ´coca-cola´. Todos já sabiam que era uma mistura de coca com cachaça, sua bebida predileta. Às vezes, ia a Mirabela comer carne de sol ou dobradinha. E construiu também suas igrejinhas, como bom católico que era: doou terreno e construiu a Igreja Santa Clara, no bairro Santa Laura, em Montes Claros. Também construiu uma capela no povoado de Poço Novo, próximo às suas terras. Sempre acreditou que a religião ajudava às pessoas. A religião não o afastou da maçonaria. Foi maçom, como o pai Jayme Rebello, e maçom graduado. A Loja Deus e Liberdade, situada na Avenida Mestra Fininha, foi construída em terreno doado por ele, que também doou as cadeiras do templo. Hoje ali também funciona uma loja que se chama Antônio Lafetá Rebello, proposta iniciada por seu genro, também maçom, e filho de seu grande amigo José Gomes. Toninho se foi, naquele início de tarde de novembro, de 1992. A casa e o mercado ainda estão lá, mas muitas coisas na cena política de Montes Claros mudaram. Quem entra no condomínio da família de Toninho sente uma indescritível sensação de paz, pois suas ruas, suas árvores e suas casas ficaram, como testemunhas de um homem de bem e parte de sua história. José de Alencar termina a obra Iracema com a morte da bela indígena, lançando um lamento sobre a terra brasileira: Tudo passa sobre a terra... A crença de que certos fatos e certos homens não podem passar uniu Jorge Silveira a mim, na escrita deste livro. (Extraído do livro ´Toninho Rebello, o Homem e o Político´, de Ivana Rebello e Jorge Silveira, lançado em Montes Claros na noite de 25 de fevereiro)

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