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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 25 de abril de 2024
 

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Mensagem: REENCONTRO MAIS DE 60 ANOS DEPOIS Alberto Sena A casa já não existe mais. Ficava na Rua Marechal Deodoro, logo atrás da Praça de Esportes, em Montes Claros. Mas as lembranças permaneceram. Inda bem. E agora são resgatadas a partir do reencontro de dona Catarina Eleutério Maia, ex-vizinha na Rua Marechal Deodoro, seis décadas depois, no Presépio Natural Mãos de Deus. As lembranças permaneceram, mas estão parcialmente cobertas, como se os personagens saíssem de uma névoa tênue. No lugar da casa há hoje uma oficina mecânica. Seria capaz de percorrer, neste instante, todos os seus cômodos de paredes impregnadas de histórias perdidas por falta de registro. Na frente da casa havia calçada alta, com uma escada para adentrar a porta principal. Havia até uma pilastra de cimento para servir de amarra às alimárias. A casa teria sido sede de uma fazenda. Até mesmo pelo quintal enorme com um pomar de 22 jabuticabeiras, mangueira, goiabeira, laranjeira, mamoeiro e o Ribeirão Vieira correndo límpido ao fundo. Esse mesmo ribeirão transformado em cloaca urbana. Ela, dona Catarina Eleutério Maia, hoje com 75 anos de idade, à época, devia estar com seus oito anos de idade. E Beto, como era chamado, vivia, os seus primeiros anos de vida. “Já peguei você nos braços”, ela revelou. Essa revelação foi uma surpresa. E como coincidência não existe, a interpretação mais plausível sobre esse encontro inesperado com dona Catarina ainda está por concluir. Éramos vizinhos de quintal separado por um muro. Ela era cunhada de dona América Eleutério, casada com um irmão dela. O marido de dona América era Afrânio. Dona América e o senhor Afrânio tiveram filhos e um deles, Amílcar, foi amigo de infância. O outro amigo do menino era Flávio, filho de dona “Negrinha”. Dona “Negrinha” aplicava injeção na bunda do menino quando acontecia de ficar doente. Era enfermeira. Parteira. Para deixar dona “Negrinha” aplicar-lhe injeção, o menino recebia CR$ 1,00, por vez. Era para não espernear nem chorar. Dona América veio do Sul de Minas, cidade de Bom Despacho e se radicou em Montes Claros, onde tornou-se pessoa querida e influente. Ela não mais está no meio de nós faz mais de dez anos, como informa dona Catarina, com quem Beto se encontrou por esses dias, no Presépio Natural Mãos de Deus, em Grão Mogol. Naquela época, as crianças nem precisavam sair de casa para se divertir. Viviam o tempo dos quintais. Tinha tudo neles. Tinha a magia das manhãs. Tinha os passarinhos se esgoelando no canto. Tinha as mangueiras, as jabuticabeiras, as laranjeiras. E coelhos. Sim, muitos. Numa ocasião, o menino correu atrás de um e o pegou com as próprias mãos. Foi assim, mãe lavava roupa no tanque do quintal distante um pouco da casa. De repente, ela ouviu algo se mexer numa moita próxima. Mãe percebeu logo: “Tem um coelho aqui, corre”. E o menino correu. Abriu os braços diante do arbusto e o coelho, esperto como ele só, fugiu. Corre daqui, corre dali, Beto cercou o coelho no canto de um muro. Ele olhava o coelho nos olhos e o coelho o olhava nos olhos também esperando um momento propício para dar pinote. Mas dessa vez o menino foi mais esperto e o coelho foi exibido à mãe como um troféu. “É meu”. A conselho da mãe, o menino pôs o coelho dentro de um caixote e o fechou com tiras de madeira. No final do dia, ele quis pôr o caixote com o coelho dentro de casa, mas a mãe achou melhor que ficasse do lado de fora. No dia seguinte, o menino encontrou só alguns pedaços do pelo do coelho e manchas de sangue nas tiras de madeira do caixote. Dona Catarina se recorda muito bem de que naquela época Montes Claros era uma cidade tranquila, como Grão Mogol ainda é hoje em dia. “A vida aqui, em Montes Claros, está difícil e perigosa”, ela disse pelo celular em conversa neste domingo. Dona Catarina tinha acabado de chegar da roça onde o rigor da seca maltrata a fazenda Canoas. Ela tem saudade da Montes Claros pacata, de quando não havia insegurança pública para infernizar a vida. P.S.: Essas lembranças emergiram a partir do encontro com dona Catarina Eleutério Maia, mais de seis décadas depois, no presépio de Grão Mogol, o maior do mundo.

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