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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 20 de setembro de 2024
 

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Mensagem: PLOC! PLUC! VAPT-VUPT! Joaquim tinha uma quitanda sortida e colorida. Vendia de tudo, peixes, hortaliças, castanhas, frutas, flores e temperos. Há duas décadas estava sedimentado naquele comércio, originado por seus pais portugueses, que ali tinham montado uma banca desde a vinda deles da província de Trás-os-Montes. A clientela era fiel e amistosa. O trança-trança era enorme e sempre havia rotativas turminhas que por lá passavam pra saber das novas e trocar fuxicos. Um burburinho só. As mulheres surgiam matutinamente para compras. Saracoteavam pelas bancas e debulhavam os assuntos da cidade e das novelas. Já os homens apareciam ao final da tarde pra quebrar uma e falar das últimas do futebol. Alojavam-se nos bancos e caixotes ao fundo da venda, debaixo das gaiolas dos passarinhos por ali dependuradas. A rixa entre atleticanos e cruzeirenses era calorosa, porém, respeitosa. O acatado Joaquim, ardoroso vascaíno, conhecido à boca pequena por Quincas Munheca, devido à sua aguda pão-durice, não dava palpite sobre os times alheios e nem permitia que as paixões clubistas se exacerbassem. O campo era neutro. Cruzmaltino igual a ele só o inveterado freguês, dr. Figueira, patrício, urologista formado no Rio de Janeiro no começo dos anos 50, época do Expresso da Vitória. Com acentuado sotaque português, repetia num carrilhão aquele timaço: Barbosa; Wilson e Rafagnelli; Ely, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Ademir, Friaça e Lelé. O quitandeiro Joaquim chegava a babar ao ouvir aquela melodia de craques. Sem parar o que estava fazendo, apontava com o queixo a parede com a flâmula do tricampeonato e a foto do escrete publicada no Jornal dos Sports. De 1945 até 1952, o Vasco foi o rei do Rio, do Brasil e da América (em 1948) com um esquadrão avassalador, habilidoso, ligeiro e letal no ataque. Certa quarta-feira, os antecipados jogos do brasileirão, atraíram mais cedo os fregueses para o lar. A quitanda ficou vazia, sem barulho, e restaram na prosa apenas os dois vascaínos. Papo vai, papo vem, Joaquim interrompeu a descontraída conversa para tirar a água do joelho e demorou. Na volta, perdido o embalo do assunto, o dr. Figueira, perguntou-lhe: - Joaquim, tu estás com dificuldade para urinar? - É. Bem... - Desculpe a intromissão, mas por ser a minha especialidade e dada a nossa amizade, creio que posso te perguntar: - Urinas com dificuldade, Joaquim? - É, dr. Figueira, ultimamente minha pila anda falhando. Mijo espaçado, demorado, e tenho a sensação de que sempre sobra alguma urina, por mais que eu me esforce. - Tu já fizeste o toque retal, Joaquim? - Doutor, eu nunca fiz e não tenho vontade de fazer. Não quero carregar esta nódoa, não. - Que isso, meu filho, o exame físico do reto é um exame simples e necessário. Todo homem acima de 50 anos tem que se sujeitar ao exame da glândula prostática. - Não, dr. Figueira, não se preocupe não. - Que isso, amigo, precisamos saber o porquê da tua dificuldade para urinar. Passe amanhã às duas da tarde no ambulatório da faculdade, anuncie a tua chegada às enfermeiras, que não demorarei a lhe examinar. Joaquim foi dormir cabreiro, mas, antes, confessou à patroa a receosa conversa que tivera momentos antes. - Mulher, o dr. Figueira disse que está preocupado com a minha apertura em urinar e quer me examinar a próstata. - Ora, Quincas, está passando da hora de você fazer este exame. Aproveite a boa vontade do dr. Figueira. Ele é um homem bom, amigo e discreto. Nós, certamente, vamos economizar a consulta, que é cara. Se ele lhe disse para ir ao posto de saúde da faculdade, vai acabar não cobrando nada. Bom demais. A consulta vai ficar barata. -É, sei não. Não é o teu... O quitandeiro acordou grilado. Logo mais à tarde iria enfrentar aquele calvário. As horas não passavam e ele só se lembrava das mãos do doutor. Pra quê mãos tão grandes? E aqueles exagerados dedos? Mãos de borracheiro, dedos de graxeiro, de tratorista. Melhor desistir. Mas desistir como, se a economia da consulta já ajudaria no pagamento da faculdade de Inês Maria, sua amada filha? Mesmo contrariado, o jeito era seguir pro matadouro. Por volta das 13h30, após se esforçar no vaso e tomar um higiênico banho, subiu a rua, calado e cabisbaixo, em direção ao ambulatório. Ignorava os cumprimentos dos conhecidos. Estava compenetrado, a imaginar a cena prestes a enfrentar. Ao chegar ao posto de saúde, procurou uma enfermeira e falou baixinho, acanhado: - Eu sou o Joaquim, o dr. Figueira pediu-me para vir até aqui para... - Pois não, senhor, estamos sabendo, o doutor nos avisou. Adentre pra iniciarmos os preparativos. A enfermeira pôs a mão no seu ombro e o direcionou até uma sala toda azulejada, branca, com pouquíssimos móveis. Tinha basicamente uma cama, um cabide para pendurar a roupa e uma mesa, de aproximadamente um metro cúbico, com uma manivela ao lado. Tonha, a enfermeira, pediu a Joaquim para tirar toda a roupa e ficou esperando. Ele, acabrunhado, ficou quieto, até que a ficha caiu. - Aqui, agora? Na sua frente? - Isso mesmo, pode tirar a roupa toda. Quincas, miúdo, mais encolhido que maracujá de gaveta, ficou de costas e começou a tirar a camisa, a calça... - Tire a cueca também! - Mas precisa? - Precisa! Acabrunhado, Quincas, lentamente, tirou sua cueca e a pendurou no cabide. - Ah! Pelo visto teremos que fazer uma limpa no seu traseiro. Tem cabelo demais. Enquanto o doutor não chega, vamos barbear este bumbum peludo. Tonha vestiu no Joaquim uma camisola branca, no melhor estilo Tiradentes, que só lhe tampava a frente, com tiras para amarrar atrás, e o deitou pela metade sobre o mesa quadrada. Ele ficou de pé, mas curvado, com a barriga, o peito e a cabeça debruçados sobre a parte de cima do móvel. A cada manivelada dada pela enfermeira, a bunda do Joaquim ia se suspendendo e ficando cada vez mais empinada, à mostra. Elevou o traseiro até que Quincas ficou na ponta dos pés, abatido, sobre a mesa do exame, na posição genu-peitoral. Com maestria Tonha tesourou aquela cabeleira até dar-lhe um desbaste bom; depois ensaboou aquilo tudo e barbeou com esmero aquela bunda e a região perianal. As nádegas do Joaquim ficaram iguais a uma garrafa, lisas, lisas, reluzentes, embora as rubras bochechas faciais do Quincas escancarassem a sua mais profunda vergonha. Não demorou muito e o dr. Figueira entrou na sala, despachado: - Como é, Joaquim, pronto para o exame? A Tonha te tratou bem? Pelo visto ela fez um belo acero? Bunda de patrício é sempre cabeluda, denuncia o sangue lusitano. Pois bem, tinha me esquecido que hoje é aula prática dos meus alunos de urologia. Fique à vontade, não se acanhe, são todos quase médicos. Incontinente, abriu a porta e entraram 13 estudantes de medicina, todos de avental, com luvas e o dedo do meio ereto, cheios de disposição para aprender. Joaquim, ao olhar desconfiado, de menesgueio, deparou com aqueles rapazes e moças, uns conhecidos, alguns fregueses, outros filhos de seus amigos e umas três meninas que eram unha e carne com a sua filha Inês Maria. - Olá, Seu Joaquim. - Tudo bom, Seu Joaquim? O prostrado paciente, naquela situação vexatória, balançou a cabeça timidamente saudando todos. Sem perda de tempo, o dr. Figueira breou com vaselina o fiofó do amigo e iniciou as suas explicações: - Caros alunos, não se esqueçam, o dedo a ser utilizado deverá estar bem lubrificado para uma introdução fácil, suave, e que não cause mal-estar ao paciente. Devemos, ao introduzir o dedo, afastar as nádegas, franquear docemente o esfíncter anal, procurando incomodar o mínimo possível o paciente. Prestem atenção! Ploc! Lá se foi a inocência do Joaquim. A partir de agora seria o que Deus quisesse. - Ao toque vamos examinar cuidadosamente a mucosa retal, a próstata, as vesículas seminais, a uretra posterior, o trigono e o fundo vesical, a extremidade inferior do ureter e o canal deferente. Tente, então, Lucas, dê o toque. Pluc! Isto, sinta agora as características da mucosa retal e também as laterais, apalpe a parede anterior do reto, indo de baixo para cima e descreva o toque. Só assim, você poderá fazer o seu diagnóstico. - Agora é tua vez, Alice, vamos lá! - Dá licença, Seu Joaquim. Contorcendo-se e olhando para trás, envergonhado, o pai de Inês Maria respondeu: - Pois não, minha filha, fique à vontade. O dr. Figueira voltou a explicar: - Preste atenção, Alice, a próstata está situada a 4 ou 5 cms do orifício anal. O teu dedo tem que explorá-la, atingí-la em todo o seu contorno. Saiba que a próstata normal é indolor, porém a do Joaquim está um pouco inchada, motivo pelo qual ele está urinando com dificuldade. Pluuc! E tome dedadas, pluuc, pluc, e mais dedadas, fluc, fluuc, de Marcelo, de Sérgio, de Cecília, de Jéssica, de Daniel e de outros tantos. Seu Joaquim perdeu as contas de quantos medicuzinhos o conheceram profundamente. Por fim, o dr. Figueira tranquilizou o pobre Joaquim: - Patrício, fique tranquilo, tua próstata está ligeiramente aumentada, mas com um remedinho poderemos controlá-la e tu voltarás a verter água divinamente. A Tonha aproveitou a posição genu-peitoral do Joaquim, limpou a sua bunda toda breada de vaselina e despertou-o do angustiante transe: - Tudo pronto! C`est fini! Pode vestir a roupa! Tá liberado! O pacato Joaquim, antes de vestir as calças, de pernas bambas, sem saber o que dizer, humildemente, balbuciou: - Vocês todos estão servidos, meus jovens, ficou faltando alguém? - Não! Não, a aula já terminou. - Viste? Foi um vapt-vupt, um incomodozinho e já passou, arrematou o dr. Figueira. De volta pra casa, murcho, com vontade de chorar, o Quincas resmungou: - Ora, pois! Consulta barata, uma ova!

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