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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 29 de março de 2024
 

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Mensagem: CORTADOR DE UNHAS Alberto Sena Quando pré-adolescente sempre quis ter um cortador de unhas. Recordo-me como se fosse hoje, o meu irmão mais velho possuía um, marca “Trim”. Achava interessante o cortador de unhas dele. Quis emprestado e ele me explicou, “por uma questão de higiene”, não ia emprestar porque cada um tinha de ter o seu. Entendi. Antes, quem cortava as minhas unhas era o meu pai. As minhas e as dos irmãos mais novos. Fazia uma fila. Ele empunhava uma tesourinha e cortava as unhas das mãos e dos pés. Recordo-me que na escola, no então Grupo Escolar Gonçalves Chaves, em Montes Claros, os alunos tinham de exibir as mãos sobre um lenço em cima da carteira com as unhas devidamente aparadas. Quem não tinha as unhas das mãos aparadas ela mesma cortava. Perante a classe, isto era “uma vergonha”. Acaso isso acontecesse comigo e ao contar lá em casa, o teto seria capaz de cair. Pai e mãe cuidavam de todos com o maior esmero. A minha camisa com o distintivo do grupo era engomada, branquinha de fazer gosto. As pessoas elogiavam o zelo de minha mãe. Voltando ao cortador de unhas, quando o meu irmão cortava as unhas dele ficava observando e achava o instrumento a coisa mais prática e rápida do que a tesourinha do meu pai. Pai faleceu quando a família morava na Rua Corrêa Machado, em frente ao campo de futebol do União, time antecessor do Cassimiro de Abreu. Eu tinha à época 11 anos. O campo do União tornou-se para nós meninos da vizinhança um verdadeiro paraíso. De manhã, logo cedo, depois do café, íamos para o campo e só retornávamos quando uma das minhas irmãs gritava de cima do barranco: “Mamãe chamando pra almoçar”. Isto, em época de férias escolares, porque os estudos sempre foram prioridade lá em casa. E as professoras eram exigentes. No campo do União havia arquibancada de madeira. Era pequena, mas parecia suficiente para abrigar os torcedores. Na época, ficávamos lá vendo o treino dos jogadores como Marcelino, Moe-de-Ferro, Bispo, Bonga, Felipe Gabrich e outros. Num certo dia, sentado no alto da arquibancada de uns cinco patamares, vi algo brilhar no chão e como achava ser alguma coisa interessante, quase num salto desci para ver o que era. Era um cortador de unhas. Estava meio enferrujado porque decerto perdido havia mais tempo e o cortador de unhas sofreu os danos das intempéries. Estava semi-enterrado no chão. Apanhei o cortador de unhas como se fora troféu. O corte estava afiado ainda e fiquei feliz porque daquele dia em diante podia cortar as próprias unhas. Não tinha dinheiro para comprar um novo e mesmo se tivesse não sabia em qual loja encontrar. Para usá-lo lavei-o bem, porque me lembrei das palavras do meu irmão – “por uma questão de higiene, cada um deve ter o seu”. Como eu não sabia de quem era, tive o cuidado de esterilizá-lo em água fervente. Por um bom tempo utilizei-o da melhor maneira e até andava com ele no bolso para o caso de ter de cortar as unhas. Tinha sempre na lembrança a exigência das professoras do antigo primário – “unhas cortadas e lenço no bolso”. Que fim levou o meu cortador de unha nem sei. Outros cortadores de unhas eu adquiri ao longo da vida. Mas, o melhor mesmo, eu o trouxe de Nova Iorque (EUA), em 1992, quando fui fazer a cobertura das reuniões preparatórias para a Cúpula da Terra, na Organização das Nações Unidas (ONU), evento realizado no Rio de Janeiro, batizado Rio-92. Comprei vários, um para mim, para os filhos e nem sei quem mais, a US$ 0,10 cada. O meu, perdi-o anos depois dentro do carro, em Belo Horizonte. Lembro-me, estava com ele e por descuido o deixei cair. Desconfio de que esteja debaixo do assento do passageiro, onde é o meu lugar, porque não dirijo. Quem dirige é a mulher. Desse estresse do trânsito – e de nenhum outro – eu não sofro. Um dia desses, quando o carro precisar ser levado à oficina, eu vou pedir ao mecânico para retirar o assento de passageiro só para verificar se o meu cortador de unhas “made in USA” está debaixo dele. Tenho quase certeza, eu o encontrarei lá.

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