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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 17 de maio de 2024
 

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Mensagem: Agostinho, era este o nome dele Alberto Sena O nome dele era Agostinho. Digo “era” porque não acredito estar ele ainda vivo a essa altura da caminhada da Humanidade. Tinha os pés dobrados para dentro. Mantinha-se em pé sobre os tornozelos. Os pés pequenos tinham a sola franzida e os dedos embolados, deformados. Além disso, Agostinho era mudo, comunicava-se por sinais. Apesar de tudo, ele conseguia manter ares de quem tinha alegria de viver. Ria muito. Tinha riso para todo tipo de gente. Agostinho morava no Asilo São Vicente de Paulo, na Rua General Carneiro, esquina de Rua Doutor Veloso, em Montes Claros. A época era início da década de 60. Éramos todos adolescentes. Posso citar, aqui, nomes de amigos com os quais convivi na época. Todos irão se lembrar do indigitado: os irmãos Felipe, João Carlos e Ricardo Gabrich; e os irmãos Roberto e Ronaldo Lima, Roxxim. O cenário era o campo de futebol da equipe do União. A entrada do campo pela Rua Corrêa Machado e os fundos davam para os fundos do Asilo São Vicente de Paulo. Para Agostinho bastava saltar o muro do asilo e estava dentro do campo. Nessa época, o campo já passava por processo de desativação e nós nos arvorávamos donos do pedaço. Passávamos o dia inteiro nele. Jogávamos futebol e tampa de “cera Parquetina”. Nas primeiras vezes, Agostinho chegava ressabiado e ficava nos espiando disputar partidas de duplas. Quem ganhasse disputava com outra dupla, e assim por diante. Pedras facilmente encontradas e colocadas quatro passadas distante uma da outra demarcavam os gols. A dupla adversária ficava uns 20 metros distantes. A brincadeira era chutar para o gol adversário e se houvesse rebate, saía-se para os dribles e o chute final. Era muito divertida a brincadeira. De tanto Agostinho ficar “urubuservando” nossas disputas, nós o chamamos a participar e ele logo demonstrou aptidão para goleiro. Mesmo tendo os pés para dentro e pisando sobre o que seriam os tornozelos, ele tinha impulsão e nenhum receio de saltar para defender as bolas. Fazia cada ponte! Não demorou e a toda mão ele era escolhido para jogar. Criou-se, então, entre nós e Agostinho um lastro de amizade. E como dentro do asilo havia pomar, sempre ele estava trazendo alguma fruta para nós, certamente para demonstrar gratidão. Foi bom mesmo o tempo vivido ali no campo. Mas a partir de quando foi loteado e urbanizado, tudo mudou. Não sei o fim tomado por Agostinho. Um dos amigos citados talvez saiba o que lhe aconteceu. Éramos adolescentes na época e as responsabilidades surgiram. A corrida era outra na tarefa de ocupar delas. Ficaram as lembranças. Neste instante, ao fazer os registros, revejo o semblante de Agostinho e ouço as risadas dele, banguela. Ele e nós éramos felizes e sabíamos. O tempo voou. Muita coisa mudou. Nem podia ser diferente. Fui para Beagá, em 1972, e só voltei ao asilo, em 1985, quando minha mãe, Elvira, faleceu. O velório dela foi próximo ao altar da igreja do asilo. O bispo Dom Geraldo celebrou a missa de corpo presente. Em vida, ela frequentou incontáveis vezes a igreja do asilo. Mãe era fervorosa. Várias vezes, eu menino testemunhei a relação dela com Deus. Fazia orações, e o pedido dela era atendido. No ano passado, por mera curiosidade, fui rever o lugar onde morávamos, na Rua Corrêa Machado, 238. A casa antiga não existia mais. Quem não tivesse a informação nunca saberia ter sido ali um campo de futebol, de onde saíram craques como Marcelino (Atlético), Moe de Ferro, Jomar (Atlético), João Batista, Bonga, Bispo, que, inclusive, atuaram em times profissionais. Iniciando a adolescência, 1960, foi quando a família se mudou da Rua São Francisco para a Rua Corrêa Machado. Naquela época, o campo ainda era utilizado. Foi logo em seguida iniciado o processo de desativação. Era uma boa diversão assistir aos treinos e aos jogos das arquibancadas de madeira. De vez em quando acontecia de a “bola de capota” cair lá em casa. Pai ainda era vivo e ficava buzina de raiva. Ameaçava não entregar a bola, mas ao final e ao cabo acabava entregando. Mas deixava claro, “da próxima vez...” Nada tenho contra incursionar ao passado a fim de comparar como está o lugar atualmente. Mas, as transformações por que passaram aquela área onde vivi com intensidade acionaram a tecla da saudade. Tratei de sair de lá o mais rápido possível, espantado com a quantidade de cercas concertinas por todos os lados.

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