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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 23 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Favela, a palavra Manoel Hygino Bem recentemente ressurgiu a discussão sobre a palavra favela. Não se queria que o substantivo fosse usado para os locais de habitação de grupos menos favorecidos da população. Explica-se e se compreende. Mas convém ir às origens do vocábulo para melhor entender. Para isso, temos de chegar a “Os Sertões”, a celebrada obra de Euclides da Cunha, que descreve a epopeia de Canudos e a atuação dos sertanejos que acreditaram, em sucesso. Deus no céu e Antônio Conselheiro na terra. Manif Zacharias lança luzes. Médico no Paraná, perseguido inexplicavelmente pelo regime instalado no país em 1964, pesquisou em profundidade a obra e em livro de quase mil páginas, aclara: Favela foi o “aglomerado de frágeis casebres”, precariamente construídos com materiais improvisados, em terrenos baldios e, principalmente, em encostas de morros, sem quaisquer condições de higiene e conforto. Acomodavam-se nesses tugúrios pessoas ou famílias desprovidas de recursos, que vivem à margem da sociedade. Na obra, favela é a área do arraial de Canudos localizada no declive de um morro, em que, ocupando habitações desse tipo, moravam os fanáticos de Antônio Conselheiro. Foi, aliás, assim, que se originou a denominação genérica – favela, que hoje se dá, em todo o país, às áreas tomadas por esse gênero de moradias. “O nome primitivo, Morro da Favela, adveio do fato de existir no topo da elevação, à espera da campanha militar, um exemplar da árvore desse nome”. Euclides empregou diversas vezes o vocábulo, que se prestava perfeitamente ao cenário que descrevia. Na página 25, está: “Galgava o topo da Favela”. “Volvia o olhar para abranger de um lance o conjunto da terra”. Na 148, encontra-se: “O Monte da Favela, ao sul, empolava-se mais alto, tendo no sopé, fronteiro à praça, alguns pés de quixabeiras, agrupados em horto selvagem”. Está na 313: “Restava-lhe um recurso sobremaneira problemático e arriscadíssimo: saltar fora daquele vale sinistro da Favela, que era como uma vala comum imensa, à ponta de baionetas e a golpes de espadas”. Compreende-se pois, a esta altura, que se queira substituir a palavra favela. Imensos são os esforços que os moradores de áreas pobres e mal consideradas que tudo fazem para mostrar que os tempos são outros e muito outros os favelados, dispostos a ingressar numa nova fase de vida e vivência. O essencial, no entanto, é que a simples mudança do substantivo favela por comunidade não significa mera substituição de uma palavra por outra. As comunidades não podem ser valhacouto de foras da lei e de aprendizes de bandidos, como acontece nas grandes cidades do país.

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