Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de setembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 63)

CONSEQUÊNCIAS DA ABOLIÇÃO

É da crônica da época a resposta dada por Cotegipe à Princesa Isabel logo após a abolição.
Perguntou-lhe a filha de D. Pedro II:
- Então, Barão, ganhei ou não ganhei a partida?
- Ganhou, retorquiu o estadista baiano. Mas perdeu a coroa.
Evidentemente não se pode deixar de reconhecer que os grandes proprietários de escravos, sobretudo os menos esclarecidos, retiraram o apoio que vinham dando à monarquia, fortalecendo-se assim os republicanos. Porém não houve a grande crise de que tanto falavam e temiam os escravocratas. Abolida a escravidão, praticamente não houve mudança na organização da produção e na distribuição da renda. Degradando o trabalho manual, a escravatura afugentava o braço livre de que tanto precisávamos. A partir de 1865, somente os proprietários de escravos ainda eram a favor da escravidão. As demais forças políticas e sociais colocavam-se frontalmente contra a antiga e desumana instituição.
Com a proclamação da república toda a família imperial foi exilada.
Passando a residir no Castelo d’Eu, a partir de 1905, a princesa Isabel veio a falecer em 1921, já revogada a lei do banimento da família imperial.
Seu corpo foi trazido para o Brasil em 1953, juntamente com o do marido, permanecendo na catedral metropolitana do Rio de Janeiro, de onde foram removidos em 13 de maio de 1971 para a capela imperial da catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis.
Senhoras, senhores,
Guimarães Rosa, que sabia falar sobre Minas, disse que há muitas Minas Gerais. “Minas são muitas”, foi assim que ele disse.
No que me respeita, há pelo menos duas. A Minas Gerais das montanhas de minérios, das matas férteis, das chuvas fartas do sul, do café, do ouro, das pedras preciosas, dos bancos, dos banqueiros, dos políticos de renome, fazedores da história.
E a outra Minas. A Minas de onde venho. A Minas do Norte. Do Polígono das Secas. Do semi-árido. Dos cantadores de feira. Da paçoca de carne seca. A Minas que já foi chão da Bahia e de Pernambuco. A mais atrasada e mais desprezada pelos governos.
Na capital do estado era voz corrente que ao norte do paralelo 18 o progresso era inviável. De Lassance a Buenópolis para cima.
A viagem de trem, de Montes Claros a Belo Horizonte, durava 18 horas. Era a única via de acesso à capital do Estado, de que dispúnhamos.
Quando pleiteamos a extensão da energia de Três Marias até o Norte de Minas, o pleito foi negado sob a alegação de que não havia demanda que justificasse as altas inversões requeridas. Quando pedimos uma rodovia, para o sertão norte-mineiro, recebemos a mesma resposta.
De nossa parte entendíamos que sem a energia instalada e sem o asfalto não haveria incentivo à criação de demanda.
Estava criado o chamado círculo vicioso da penúria.
E assim permanecemos até o advento da Sudene.
Foi a Sudene que chegando ao Norte de Minas desfez o impasse e deu início ao processo de desenvolvimento nos moldes que hoje conhecemos. Com o apoio da Sudene veio a sonhada rede de alta tensão de Três Marias, de 138.000 volts, a qual, em pouco tempo se tornou insuficiente para atender à demanda despertada. Veio então a segunda, também de 138.000 volts, que igualmente teve sua capacidade de transmissão absorvida. E veio a terceira, essa de 345.000 volts. E veio a estrada asfaltada tão reclamada.
Como sabemos, a colonização do País se fez do litoral para o interior e cedo se evidenciou o desequilíbrio do desenvolvimento da Nação, com o interior, de um modo geral, e o Nordeste, em especial, perdendo o compasso do crescimento, agravada a situação do Nordeste pelo fenômeno das secas.
Tornara-se página comum a pobreza do Nordeste e o nomadismo do nordestino. Grande parte da força de trabalho nordestino havia se transformado em uma massa humana nômade, a vaguear entre o Nordeste e o Sul, atrelada a um destino de padecimentos que ensejou o surgimento do personagem chapliniano pitorescamente chamado de “pau-de-arara”. Tudo isso a refletir-se tragicamente no contexto econômico e social do País.
Os governos, desde o Império, tiveram suas atenções voltadas para a problemática nordestina. E a partir da seca de 1877 o Nordeste passou a receber verbas federais, mal aplicadas muitas vezes, ou não aplicadas. Criara-se a chamada “indústria das secas”.
Felizmente, com a evolução dos conceitos e idéias de planejamento econômico, alargou-se a visão dos círculos oficiais e profissionais brasileiros. Passaram a ser condenadas as medidas de emergência, de caráter assistencialista, que em nada modificavam os dados fundamentais do problema. Já era tempo de imprimir-se ao estudo e solução dos problemas nordestinos uma definida diretriz econômico-social.
Foi dessa nova posição que nasceu a Sudene. Para promover o desenvolvimento econômico e social do Nordeste.

(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)
Cidade: Montes Claros/MG

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima